A Indústrias Nucleares do Brasil (INB) vai retomar a produção de urânio da mina de Caetité, na Bahia, em condições de atender à demanda do país, informou o presidente da INB, Aquilino Senra. Em entrevista à Agência Brasil, ele disse que a ideia é que, em 2017, a mina esteja preparada para atender à demanda atual de Angra 1 e 2, avaliada em 400 toneladas de urânio por ano, e a de Angra 3, cuja entrada em operação comercial está prevista para dezembro de 2018. Quando Angra 3 entrar em funcionamento, a demanda subirá para 780 mil toneladas/ano.
As reservas brasileiras de concentrado de urânio, estimadas em 309 mil toneladas, “são mais do que suficientes para atender às demandas das duas usinas nucleares existentes e da usina em construção (Angra 3), podendo atender também à demanda de até quatro novas usinas. E ainda sobra”, garantiu Senra. De acordo com a Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea), o Brasil detém a sétima maior reserva de concentrado de urânio do mundo.
O que ocorre, de acordo com o presidente da INB, é que o urânio está no solo e tem que ser extraído. “Essa é a prioridade do país, no momento”. Explicou que para abrir uma mina de urânio, são necessários entre seis a oito anos, segundo experiências mundiais. “Nós aqui estamos tentando fazer isso o mais rápido possível”.
Nesse sentido, disse que outro projeto importante é o da mina de Santa Quitéria, no Ceará, parceria com o setor privado, em que o produto principal é o fosfato, utilizado na produção de fertilizantes, e o urânio é um subproduto. A INB desenvolveu uma técnica junto com o setor de engenharia nuclear da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) para separar urânio do fosfato “e, com isso, viabilizar a produção do fosfato de que o Brasil é dependente do mercado internacional”. Quase 50% desse material são importados pelo país para a produção de fertilizante, junto com o potássio, importado em maior quantidade.
A previsão é que a mina de Santa Quitéria entre em operação no fim de 2018 ou início de 2019. A unidade poderá quadruplicar a atual possibilidade de produção de urânio no país. “Vai para 1,6 mil toneladas. E aí nós teremos um excedente”. Senra observou, porém, que essa produção de urânio é dependente da produção do fosfato. Se houver uma variação do fosfato no mercado internacional, a produção de urânio também sofreria alteração. “Por isso, a gente investe fortemente em Caetité, para não ter uma dependência de outro produto que tem flutuação no mercado, como qualquer outra commoditie (produtos agrícolas e minerais comercializados no mercado exterior).
O presidente da INB estimou que para a vida útil de uma usina nuclear que é, em média, da ordem de 60 anos, as reservas de urânio de Caetité e Santa Quitéria são suficientes para abastecer até sete usinas, com excedente de 80 mil toneladas. “Santa Quitéria tem um papel estratégico, pode fazer uma reserva estratégica para o país”.
No momento, para fazer a decapagem (limpeza das bancadas) da mina de Caetité, os investimentos alcançam R$ 28 milhões. Depois que a mina entrar em processo de lavra, em 2017, com capacidade de 340 toneladas, os investimentos serão de R$ 30 milhões por ano. Senra acrescentou que em Santa Quitéria, os investimentos da INB na parte de urânio serão bem inferiores. “A razão é que lá, o urânio é um subproduto”.
Como as novas usinas nucleares que vierem a ser construídas no Brasil têm prazo estimado de dez anos até entrarem em operação, porque incluem desde a escolha do local e da tecnologia, licenciamento, construção, período pré-operacional até o pleno funcionamento, Senra avaliou que o ideal é que várias dessas unidades sejam iniciadas ao mesmo tempo, porque isso representaria um ganho no longo prazo. “Tem que prever com muita antecedência uma produção, para ter uma reserva estratégica”, disse.
Como exemplo, o presidente da INB voltou a citar a mina de Caetité, que tem 38 anomalias, isto é, áreas onde se pode extrair urânio, e desde 2000, somente uma anomalia foi aberta, que era uma mina a céu aberto. “Ela poderá ser continuada, de maneira subterrânea. Mas o processo de licenciamento de uma mina subterrânea é bastante complexo, porque existe um gás e todo o projeto de ventilação e alimentação elétrica da mina tem de ser muito robusto. Isso torna o processo de licenciamento muito demorado”.
Por isso, a estratégia da INB agora é abrir outras minas a céu aberto, preparando-as para serem exploradas quando houver necessidade. “Enquanto isso, perseguimos o licenciamento da mina subterrânea, que é mais eficiente e tem impacto menor, inclusive, de área de produção”.