Sobrecarga e falta de itens básicos de trabalho, salário estagnado e ausência de um plano de carreiras compõem a realidade dos servidores do INSS em Pernambuco. Ontem (7), a reportagem do Jornal do Commercio esteve em uma das agências do órgão e ouviu relatos de que as condições de trabalho dos servidores são precárias e que o atendimento é seriamente comprometido pela defasagem no quadro de profissionais. Na agência da Avenida Herculano Bandeira, no Pina, havia cinco profissionais atuando e 17 guichês de atendimento vazios.
“Fui o último servidor que entrou e já estou aqui há onze anos. Até os vigilantes noturnos daqui serão dispensados”, diz o servidor Antônio Paz. Ele salienta que 68% dos servidores do INSS já estão em condições de se aposentar e não o fazem apenas para não perder o percentual de produtividade no salário. “Hoje temos o menor vencimento básico de todos os servidores da administração pública federal. Do nosso salário total, 72% é produtividade, que o servidor perde quando se aposenta. Quando falta internet ou energia, por exemplo, a gente tem que se virar para não perder a produtividade do dia”, afirma.
O cenário se repete por todo o Brasil. Não à toa, servidores do INSS estão em greve desde ontem (7) em 19 Estados e no Distrito Federal. Nas agências pernambucanas, a paralisação começa nesta sexta (10). A partir dessa data, serão realizados apenas 30% dos atendimentos, o mínimo exigido pela lei. Uma das principais reivindicações dos profissionais é o aumento salarial imediato de 27,5%, com reajuste gradual durante os próximos quatro anos. Eles pedem também melhorias nas condições de trabalho e atendimento, criação de um plano de carreiras e a realização de um concurso público com número maior de vagas. “O concurso que será realizado prevê contratação de cerca de 800 profissionais, quando a necessidade é de 10 mil”, pontua o coordenador-geral do Sindsprev-PE, Bonifácio do Monte.
Entre os beneficiários do órgão que aguardavam atendimento, a demora é uma das principais queixas. Segundo a advogada Swamy Barros, o problema ocorre em todas as agências do Recife. “Vou praticamente todos os dias a diversas agências e em quase todas, mesmo agendando, precisamos esperar muito.”
Servidor do INSS há 33 anos, José Paulino de Andrade ressaltou que a prestação de serviços do órgão é afetada pela precariedade. “Só fazem cobrar e exigir, mas a agenda de atendimento está sempre lotada e quando a meta estipulada não é cumprida, perdemos gratificações e até o direito às seis horas, que conquistamos com muito esforço”, diz. Em nota, o INSS declarou que “mantém as portas abertas às suas entidades representativas para a construção de uma solução que contemple os interesses de todos”.
Os segurados que possuem agendamento e não forem atendidos em razão da greve terão que remarcá-lo, ligando para a Central 135 no dia seguinte à data agendada. Por meio desse número, o órgão fornece também informações e orientações aos segurados.