Na hora de viajar para fora, mesmo com a alta dólar, os Estados Unidos continuam campeões na preferência dos brasileiros. Mas, nestas férias de julho, muita gente que se planejou para investir nesse sonho viu-se forçada a mudar os planos. Em vez de Orlando, Miami e Nova Iorque, turistas alteraram a rota no máximo para Buenos Aires, Chile, Uruguai, México e Canadá. Mas o que está bombando mesmo são as viagens nacionais: Gramado, São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, Natal, Salvador, Fernando de Noronha.
A crise imprimiu uma nova realidade às agências de turismo. Mais de 80% das empresas do setor registraram queda, segundo levantamento do Instituto de Pesquisas, Estudos e Capacitação em Turismo (Ipeturis), feito a pedido do Sindicato das Empresas de Turismo no Estado de São Paulo (Sindetur-SP). Mais da metade das 375 empresas consultadas (67,7%) acredita que as vendas voltarão aos patamares anteriores dentro de um ano.
A turismóloga Luciana Liv, da D’Lu Viagens, atribui a queda também à mudança do comportamento do turista, que tem procurado mais a internet na hora de comprar passagem e reservar hotel, embora ela ressalta que as agências têm acesso a ofertas que não estão na web, além da questão da segurança e da informação. Na agência dela, a queda pela procura dos destinos internacionais foi de 15%, comparado ao mesmo período de 2014. Já a demanda pelos destinos nacionais, como Fortaleza, cresceu 30%.
A administradora Danielle Carvalho estava planejando ir à Disney com o filho pequeno e a família. “Mas o dólar afetou os planos. Agora vamos para Gramado”, conta. O passeio vai sair entre 15% e 20% mais barato. “Não é só a questão da passagem, é todo o gasto lá. Tinha pensado em ir aos EUA também para comprar, mas não ficou mais vantajoso”, pondera. O dólar comercial fechou ontem em R$ 3,15.
Segundo o especialista em câmbio Pedro Pragana, da Recife Câmbio, as moedas chamadas exóticas tiveram um aumento na procura entre 25% e 30%, a exemplo dos pesos chilenos e mexicanos. O dólar canadense também tem atraído muita gente. A procura cresceu 50%.
Internacionalmente, Sandra Luck, da Luck Viagens, diz que sentiu “uma boa procura por rotas como Bariloche e Valle Nevado, no Chile, principalmente por famílias que gostam de esquiar”. Nacionalmente, Gramado, além de Noronha e Natal, ficaram entre as preferências. Independentemente do destino, a empresária aconselha se planejar financeiramente.
Camila Brito, da Brasil Turismo, levanta outro ponto interessante: as promoções de passagem. “De fato, cresceu a demanda para a América do Sul. Mas a procura para os Estados Unidos ainda existe por causa das ofertas. As companhias estão baixando os preços”, observa. Bilhete de ida e volta para Miami, por exemplo, estava sendo cotada ontem por US$ 360 mais taxas. Executiva, US$ 879 mais taxas.
A respeito da procura pelo mundo corporativo, que é o forte da Brasil Turismo, Camila diz que também houve queda neste ano, embora bem menos acentuada. Houve uma mudança de comportamento. “Quando é possível, muitos executivos acabam encontrando alternativas para diminuir custos, como fazer teleconferências”, explica. As barganhas também ficaram mais fortes: empresas estão solicitando prazos maiores de pagamento.