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A força dos idosos no mercado de trabalho

Queda no poder de compra e necessidade de complementar a renda das famílias têm levado os mais velhos a procurar emprego.

Do JC Online
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Publicado em 13/09/2015 às 4:32
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Ser aposentado não é sinônimo de estar parado. Muito menos no Brasil atual, onde jovens e idosos estão tendo que enfrentar o mercado de trabalho para balancear as contas dentro de casa. “Quanto mais velho você vai ficando, mais gastos você tem com itens como remédios e plano de saúde. Sem falar no aumento dos preços por conta da inflação. Como a aposentadoria não sobe no mesmo ritmo, o jeito é encontrar um emprego, mesmo estando aposentado”, conta Valdir Negreiros, que aos 67 anos trabalha como capitão porteiro do serviço de valet do RioMar. 

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Idosos no trabalho

Já há dois anos na função, ele conta que vai trabalhar enquanto tiver energia no corpo. “Fiz o teste para vaga de manobrista e passei em todos os exames, inclusive o médico. Aqui me dei tão bem que conquistei esse posto, e vou contribuir com meu máximo enquanto me quiserem aqui”, garante Valdir. Ele mora com a esposa dona de casa – que não recebe salário ou aposentadoria, mas cuida dos netos enquanto as filhas do capitão porteiro vão trabalhar. 

A queda no poder de compra das famílias e o aumento do desemprego têm levado um número cada vez maior de brasileiros a sair em busca de uma vaga no mercado de trabalho, inclusive idosos. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE, mostra que, no segundo trimestre, 1,747 milhão de pessoas engrossaram a força de trabalho (formada por pessoas empregadas ou em busca de trabalho) na comparação com igual período de 2014 - destas, 502 mil têm 60 anos ou mais.

Ao todo, 6,645 milhões de idosos em todo o Brasil estavam em atividade entre abril e junho deste ano, 171 mil deles desempregados. Ambos são registros recordes. "A tendência é (o idoso) aumentar a participação enquanto a economia estiver ruim.Isso vai continuar adicionando pessoas ao mercado de trabalho. Os idosos têm margem para elevar ainda mais sua participação", diz o economista Rodrigo Leandro de Moura, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). 

Nas seis principais regiões metropolitanas do País, a entrada dos mais velhos em atividade é ainda mais intensa: 90% das 456 mil pessoas que ingressaram na força de trabalho em julho, na comparação com julho de 2014, têm 50 anos ou mais, segundo outra pesquisa do IBGE. Em muitos casos, são pessoas que mesmo recebendo aposentadoria ainda precisam complementar a renda, como no caso de capitão porteiro Valdir e da auxiliar administrativa do Real Hospital Português, Maria da Graça Silva, 60 anos. “Se eu pudesse, estaria me aposentando agora, para receber um valor bem maior. Mas por força da necessidade tive que entrar com a aposentadoria antes e se parar de trabalhar passo necessidade mesmo”, conta Graça, que mora com uma filha e um neto de apenas 5 anos. 

APOSENTADORIA - A sociedade brasileira está naturalmente envelhecendo, provocando aumento da população nas faixas etárias mais elevadas Só que, no primeiro semestre de 2015, a proporção da força de trabalho, incluindo desempregados, no total da população nessas faixas subiu. No primeiro semestre, 22,7% do total da população de 60 anos ou mais estava na força de trabalho - alta em relação aos 22,3% do primeiro semestre de 2014.

Para a pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Ana Amélia Camarano, especialista em demografia, a tendência do envelhecimento da população fala mais alto do que o movimento de busca por uma vaga. Apenas pelo envelhecimento natural da população, o ritmo de crescimento da força de trabalho já seria maior entre os mais velhos do que entre os mais jovens.

"Essa população entre 50 e 60 anos nasceu nos anos 1950, época de maior fecundidade. Os 'baby boomers' (geração nascida no período de crescimento da natalidade, após a Segunda Guerra Mundial) provocam agora um 'elderly boom' (explosão do envelhecimento)", diz a pesquisadora, destacando que não se debruçou sobre os dados mais recentes.

O economista do Ibre/FGV vê na rapidez do crescimento da proporção da força de trabalho no total da população acima de 60 anos um sinal de que mais pessoas nessa faixa etária estão procurando emprego. O lado "positivo", segundo Moura, é que o Brasil precisa de uma força de trabalho maior para poder continuar crescendo. "O envelhecimento da força de trabalho hoje é menor porque o brasileiro ainda se aposenta muito cedo".

Foi o nascimento do neto que motivou a aposentadoria precoce de Graça. Mas como todos os aposentados que ainda trabalham, Graça mostra uma disposição de dar inveja a muito jovem. “Não paro de trabalhar por nada. Amo o que faço e o meu local que trabalho”, afirma a auxiliar administrativa. A consequência disso é não apenas a redução da mão de obra disponível no País, mas também uma enorme fatura para a Previdência Social. "A reforma da Previdência está atrasada. Como é antipopular, todos os governos empurram com a barriga. A idade mínima é um absurdo", diz Ana Amélia, do Ipea.


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