As intervenções do Banco Central (BC) no mercado de câmbio não estão sendo suficientes para segurar a escalada do dólar. Na quarta-feira (23), mesmo com a realização de um leilão de swap cambial (instrumento que aumenta a oferta dólares para evitar a desvalorização do real) e de dois leilões de linha (mecanismo de compra à vista), a moeda norte-americana encerrou o dia cotada a R$ 4,14, com alta de 2,28% (um recorde, desde o início do Plano Real). Só nesta semana, o BC já realizou três leilões de swap cambial para conter a alta do dólar. O BC já vendeu mais de US$ 100 bilhões desses contratos, na tentativa de estabilizar o real e proteger o setor produtivo. Hoje pela manhã será realizado mais um leilão, ofertando US$ 1 bilhão.
“Salário mínimo, dólar e taxa de juros são os três principais preços de uma economia. O dólar segue a mesma lógica de oferta e demanda de produtos comuns como uma banana: a única maneira de baixar o preço é aumentar a oferta. O contrato de swap cambial é um mecanismo de segurar a desvalorização do real sem recorrer ao uso das reservas internacionais, que hoje chegam a US$ 354 bilhões”, explica o sócio-diretor da Ceplan, Jorge Jatobá.
A escalada do dólar acumula números expressivos. Mesmo com os três pregões de swap cambial do BC, a alta ao longo desta semana chega a 4,72%. No acumulado do mês alcança 14,28%, no ano está em 55,87% e no intervalo dos últimos 12 meses atinge 72,15%. Ainda não é a maior desvalorização da história, mas são números alarmantes. Ontem, a cotação da moeda atingiu o pico de R$ 4,15 ao longo do dia, mas baixou com os leilões. Fatores políticos contribuíram para deixar o mercado tenso. Um deles foi a declaração do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), dizendo que a CPMF não será aprovada na Casa. Cunha também voltou a agitar o mercado quando afirmou que o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff deverá seguir na Câmara.
Jorge Jatobá lembra que a alta do dólar exerce forte impacto sobre a matriz produtiva. “Os preços sobem para as indústrias que dependem de componentes importados na produção, a aquisição de importados fica mais cara e aumenta a dívida em dólares das empresas. A Petrobras é um caso de empresa que está sofrendo duplamente com a alta do dólar, por conta de sua dívida, e do preço do petróleo, com o barril cotado a US$ 46”, destaca. Na avaliação do economista, apesar da venda de US$ 100 bilhões em contratos de swap cambial, o Brasil não vislumbra problema com suas reservas internacionais, porque não existe fuga