Conjuntura

Fatores políticos e econômicos colocam o Brasil no centro de uma "tempestade perfeita"

Expressão é usada por economistas para descrever algo como "pior cenário possível"

ADRIANA GUARDA E LUIZA FREITAS
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ADRIANA GUARDA E LUIZA FREITAS
Publicado em 27/09/2015 às 9:39
Editoria de Arte do JC
Expressão é usada por economistas para descrever algo como "pior cenário possível" - FOTO: Editoria de Arte do JC
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De tão real soou como ficção. Ventos com a força de um furacão, ondas de até nove metros de altura e um prejuízo de US$ 200 milhões. Esse fenômeno meteorológico raro, que aconteceu na costa da Carolina do Norte (EUA) em 1991, foi batizado de “tempestade perfeita” pelos homens do tempo. Seis anos após o temporal, o escritor Sebastian Junger contou a história num livro, que virou best seller. Hollywood também se aproveitou do tema e levou às telas, em 2000, a produção Mar em fúria. Nos últimos anos, a expressão deixou os boletins do tempo e foi parar na economia, que se apropriou do termo para descrever algo como “o pior cenário possível”. Hoje o Brasil está no centro de uma “tempestade perfeita”, com a combinação de eventos políticos e econômicos que expõem o País à tormenta.

O brasileiro já estava acostumado ao longo período de bonança. Os 20 anos de estabilidade econômica transformaram temas como inflação, escalada do dólar e altas taxas de desemprego em memória remota. Agora, o País se vê tendo que atravessar uma “tempestade perfeita”. Nuvens carregadas na política e na economia formaram o temporal. A perda de dinamismo econômico se assemelha a de períodos recessivos das décadas de 80 e 90. As projeções do Banco Central (BC) apontam para um encolhimento de 2,7% no PIB deste ano. No primeiro semestre, 345 mil pessoas perderam seus empregos com carteira assinada. A população também empobreceu, assistindo à corrosão de seus salários por uma inflação que chegou a 9,53% no acumulado do ano (até agosto). O real também perdeu valor frente ao dólar. Na semana que passou, a moeda norte-americana bateu os R$ 4,14, cravando a maior cotação desde a implantação do Plano Real.

“Fatores internos e externos colocaram o Brasil no centro de uma “tempestade perfeita”. A economia só voltará a andar se forem eliminados os impedimentos para aprovação do ajuste fiscal. Esse impasse significa um custo alto para a população, que enfrenta inflação e desemprego. Essa crise é pior do que a de 2008/2009 porque tem mais componentes políticos do que econômicos. A aprovação do ajuste fiscal é imprescindível para que a presidente volte a governar. Só a partir daí é que o ministro da Fazenda (Joaquim Levy) poderá se preocupar com outras questões”, observa o professor do Departamento de Economia da PUC-SP, Antonio Carlos Alves dos Santos.

A combinação de fatores políticos e econômicos confere a esta crise uma dimensão temporal mais longa. Na crise iniciada em 2008, desencadeada pela bolha imobiliária nos Estados Unidos, o Brasil conseguiu se recuperar no intervalo de um ano. O cenário atual sinaliza uma recessão mais prolongada. “As projeções do BC são semelhantes as de quem vive no País das Maravilhas. A estimativa para 2016 é de que a queda no PIB seja de 0,15%, mas acredito que não será melhor do que -1,0%. Não há tempo de fazer as mudanças necessárias para que a economia voltar a reagir. Existe uma expectativa de que a inflação comece a baixar, mas por um motivo pouco animador. Os preços não vão aumentar muito porque as pessoas perderam o poder de compra, seja pela perda do emprego, porque os reajustes salariais ficaram abaixo do esperado ou, ainda, porque as pessoas evitam consumir com medo de não ter trabalho amanhã”, analisa Santos.

Apesar de o presidente do BC, Alexandre Tombini, ter conseguido segurar a alta do dólar no final da semana que passou, a expectativa é que a moeda continue oscilando entre R$ 3,50 e R$ 4,00 enquanto as condições de governabilidade da presidente Dilma Rousseff não melhorarem. A previsão é que seja aprovada a reforma ministerial para reaproximar “aliados”, garantindo apoio à aprovação de projetos no Congresso, a exemplo da volta da CPMF que vai trazer R$ 32 bilhões aos cofres do governo.

“A expressão “tempestade perfeita” veio da economia, mas também serve à política. A presidente enfraqueceu seu capital político quando perdeu apoio da sociedade, do Congresso e do próprio PT. Chama atenção a rapidez com que os índices de popularidade despencaram. Outros governos, como o de Fernando Collor (1990-1992), sofreram desgaste, mas a diferença agora é a rapidez no processo. A lua-de-mel com o eleitorado durou pouco tempo, em relação à vitória de 2014”, pondera o professor de Ciência Política da PUC-Rio Ricardo Ismael, lembrando que Collor governou dois anos até deixar o Palácio.

Em fevereiro, as avaliações do governo Dilma como ruim ou péssimo estavam em 44%. Em junho subiu para 65% e no mês passado atingiu 71%. Em agosto, 66% dos entrevistados disseram que o Congresso deveria abrir um processo de impeachment contra Dilma. Na semana passada, um dos motivos para a disparada do dólar foram as declarações do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, afirmando que o renascimento da CPMF não seria aprovado e que o processo de impeachment estava sendo encaminhado.

A operação Lava Jato agravou o desgaste político do PT e do governo Dilma e também contribuiu para puxar para baixo o desempenho da economia. Pernambuco foi um dos Estados mais prejudicados pela debilidade da Petrobras. A Refinaria Abreu e Lima não foi concluída e vários setores que dependiam da empresa acumulam prejuízo.

O professor do Departamento de Economia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Jocildo Bezerra também defende que é necessário colocar um fim na guerra política. “A população não elegeu os parlamentares para sacrificar o País. Essa rixa entre Congresso e Executivo está prejudicando a população”, afirma.

Especialistas apontam quatro prognósticos para o País sair da “tempestade perfeita”: uma nova eleição (a partir da cassação dos mandatos da presidente do do vice), o impeachment, a renúncia ou o fim da disputa política. “O cenário mais provável é esse último”, acredita Ricardo Ismael, defendendo que a tempestade não deteriore a economia. É bom lembrar que quanto mais frágil a economia, pior fica a vida das pessoas.

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