A presidente para o Brasil e América Latina da agência de classificação de risco Standard & Poor's, Regina Nunes, afirmou nesta segunda-feira (23) que os indicadores negativos da economia brasileira ainda não se estabilizaram desde que a instituição rebaixou a nota do país, em setembro.
A executiva enfatizou que não há prazo para a agência fazer uma nova avaliação do rating soberano -os analistas da instituição, disse ela, fazem o acompanhamento diário da situação econômica–, mas reiterou que a economia não dá sinais de reação.
"Não é só que os indicadores estão se deteriorando. Eles também não mostram sinalização de melhora para o futuro", disse ela. Segundo a executiva, não existe dentro a instituição, contudo, a expectativa de que o cenário irá mudar no curto prazo. "A perspectiva negativa continua".
A agência retirou o selo de bom pagador do país em nove de setembro, alegando "falta de habilidade" e de "vontade" do governo para colocar as contas públicas em ordem. A nota passou de "BBB-" para "BB+", uma abaixo do considerado grau de investimento, que é quando há pouca ou nenhuma chance de o país não honrar com seus compromissos.
A nota do país está agora no que analistas chamam de grau especulativo, quando há riscos de calote. A agência manteve uma perspectiva negativa para a nota de crédito, dando sinal de que caso não a economia não reaja, o rating pode cair ainda mais.
Nunes participou do seminário organizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), no centro do Rio, que teve a presença do ministro Joaquim Levy (Fazenda). A executiva teve que interromper sua apresentação quando o ministro chegou ao auditório no fim da manhã.
Os indicadores aos quais Nunes se referiu são a meta para o superávit primário, o tamanho da dívida pública brasileira, a inflação em alta, o desemprego crescente, entre outros índices macroeconômicos.
Ela demonstrou preocupação com a dívida do país e também com a dificuldade de o governo promover reformas estruturantes, como a reforma tributária.
"Os indicadores negativos ainda não se estabilizaram. Não se tem, portanto, uma dinâmica de dívida ainda estável, a previsibilidade do custo dessa dívida também [não está clara], e como ela irá se comportar em termos de alongamento ou não desses prazos".
A S&P foi a primeira agência de classificação de risco a elevar o Brasil ao chamado grau de investimento, em abril de 2008, no segundo mandato do presidente Lula. Depois, Fitch (maio de 2008) e Moody´s (setembro de 2009) também deram a mesma chancela ao Brasil.
O selo de bom pagador, que é um reconhecimento de que o país é um lugar seguro para os investidores, costuma ser exigido por fundos de investimento e de pensão bilionários para aplicar em títulos de dívida de governos.