Leia Também
O Banco Central (BC) deve agir de forma “contundente e tempestiva” para retomar o controle da inflação, disse nesta quinta-feira (3) o diretor de Assuntos Internacionais do órgão, Tony Volpon. Em discurso para investidores do banco de investimentos J.P. Morgan Brazil, em São Paulo, ele reiterou a indicação da ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada mais cedo, de que a taxa Selic (juros básicos da economia) será elevada nos próximos encontros.
O diretor foi um dos dois diretores do BC que, na reunião do Copom da semana passada, votaram pelo aumento dos juros básicos em 0,5 ponto percentual. O outro integrante do BC a votar a favor do reajuste da taxa foi Sidney Marques, diretor de Organização do Sistema Financeiro. Na ocasião, a Selic foi mantida em 14,25% ao ano, no maior nível desde outubro de 2006.
“Um ajuste monetário eficiente vai contribuir para a retomada da economia. Hoje, o controle efetivo da inflação é uma condição necessária para a recuperação do crescimento econômico sustentável”, disse Volpon.
Ele rejeitou as alegações de que o Banco Central está sendo leniente no controle da inflação e classificou de preocupante o fato de o indicador oficial, medido pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), ter ultrapassado 10% ao ano no acumulado de 12 meses.
“A superação do nível de 10% ao ano tem uma carga simbólica que não deveríamos ignorar, potencialmente incentivando um comportamento mais defensivo via indexação por parte dos agentes econômicos”, declarou. "Venho aqui rechaçar, veementemente, qualquer hipótese de perda de eficácia da política monetária e de uma suposta falta de disposição do Banco Central em cumprir sua missão primordial de assegurar a estabilidade do poder de compra da nossa moeda.”
De acordo com a ata do Copom, divulgada hoje de manhã, o BC destacou que tomará as medidas necessárias para controlar a alta da inflação, independentemente da situação do ajuste fiscal e do cenário de incertezas na economia. O documento ressaltou que a autoridade monetária trabalhará para que a inflação não estoure o teto da meta, de 6,5%, em 2016 e convirja para o centro (4,5%), no ano seguinte.
De acordo com Volpon, a inflação está alta neste ano por causa principalmente de reajuste de preços administrados, como combustíveis e energia elétrica. Ele, no entanto, expressou preocupação de que o nível atual dos índices de preços leve à indexação da economia e ao aumento generalizado de preços.
Nos últimos meses, a inflação divulgada tem superado, por margens relevantes, as projeções do mercado. E o índice de difusão, medindo o percentual de preços apresentando alta no mês, tem acelerado e superado o patamar de 70% [dos produtos pesquisados]”, destacou.
Volpon ressaltou, no entanto, que o mercado tem feito ajustes na economia em meio às dificuldades para executar o ajuste fiscal e ao clima de incerteza. Ele citou a diminuição do déficit nas contas externas, provocado pela queda nas importações, e o ajuste de preços relativos provocado pelo fim do controle de preços administrados.