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A indústria brasileira está operando 19,2% abaixo do pico histórico, atingido em junho de 2013, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com isso, o patamar atingido em novembro de 2015 é semelhante ao observado em janeiro de 2009, quando a indústria ainda sentia os impactos mais agudos da crise internacional detonada no ano anterior.
Em novembro, a produção recuou 2,4% em relação a outubro. Desde setembro de 2014, quando a indústria entrou em sua trajetória mais negativa no período recente, foram 12 quedas em 15 meses. No período, a retração acumulada chega a 13,6%.
O resultado negativo na produção industrial em novembro ante outubro contribuiu para selar outro recorde na série do IBGE. A queda de 2,4% no período foi a sexta consecutiva, uma sequência inédita na pesquisa iniciada em 2002.
"Nunca se tinha visto uma sequência tão grande", frisou André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE. De junho a novembro, a indústria acumulou perda de 8,3%, apontou.
Macedo ressaltou, contudo, que já houve períodos negativos mais curtos em que a indústria mostrou perdas mais intensas, como logo após a crise mundial. Entre outubro e dezembro de 2008, a queda acumulada foi de 19,6%.
No confronto interanual, a sequência negativa da indústria vem apenas ampliando o recorde atingido no início deste ano. Em novembro, o recuo de 12,4% ante igual mês de 2014 foi o 21º consecutivo.
Automóveis e eletrodomésticos
Os automóveis e os eletrodomésticos intensificaram o ritmo de queda na produção na reta final de ano, de acordo com o IBGE. No período de setembro a novembro, o primeiro registrou queda de 34,2%, enquanto o segundo caiu 22,5%, sempre na comparação com igual período de 2014.
No caso de automóveis, a queda é o triplo do verificado entre maio e agosto deste ano, quando houve baixa de 10,2% na produção ante igual período de 2014. Nos eletrodomésticos, o recuo já havia sido intenso no segundo quadrimestre de 2015: -19,2%.
Tanto os artigos de linha branca quanto os de linha marrom acompanham essa intensificação de perdas. Segundo André Macedo, todos os bens de consumo duráveis têm sofrido diante do cenário econômico pouco favorável.
"Na base disso, além do baixo nível de confiança do consumidor, que mostra que ele tem dúvida sobre realizar aquele investimento, tem o crédito mais caro e mais escasso afetando de maneira importante essa categoria econômica. Tem também o mercado de trabalho menos favorável do que em anos anteriores, renda evoluindo de forma mais lenta e inflação maior", explicou.
Sem enxergar melhora na demanda, os empresários também adiam investimentos, o que explica a repercussão sobre outra categoria, a de bens de capital. Entre setembro e novembro, a produção desses artigos recuou 31,7% em relação a igual período do ano passado, recuo mais expressivo que os 26,1% registrados no segundo quadrimestre do ano.
"O baixo nível de confiança do empresariado explica muito esse resultado", disse Macedo. "A incerteza, tanto no nível econômico quanto político, causa entre os empresários o adiamento de investimentos."
Apesar de ser uma notícia positiva, a alta de 1,3% na produção de veículos em novembro ante outubro não causou entusiasmo, uma vez que não compensa sequer a perda vista em outubro ante setembro (-3,1%), destacou Macedo. Além disso, o setor já vinha em retração desde agosto, período em que acumulou perda de 19,2%
Os principais produtos continuam no vermelho, apontou Macedo. "Automóveis e caminhões mostram queda na passagem de outubro para novembro. A alta é mais relacionada à parte de autopeças", disse.
"Muito desse resultado positivo se deve claramente a uma base de comparação muito depreciada. O setor ainda mantém estoques acima de seu padrão habitual e, por isso, apresenta redução de jornadas de trabalho, cortes de turnos e adoção de lay-off (suspensão temporária de contratos)", acrescentou. No acumulado no ano, a produção de veículos registra perda de 25,6%, o principal impacto negativo na indústria como um todo, que recua 8,1%.
Celulose
A desvalorização do real ante o dólar continua beneficiando o setor de celulose, que tem alto viés de exportação, destacou Macedo. Entre setembro e novembro, os artigos de celulose dentro de bens intermediários registraram avanço de 9,2% na produção ante igual período de 2014.
"É um produto com viés significativo para o mercado externo e está num momento favorável", disse Macedo. Apesar disso, o ritmo de alta diminuiu em relação ao segundo quadrimestre do ano (maio a agosto), quando o crescimento foi de 11,6% ante igual período do ano passado.
"Pode ser que tenha havido redução momentânea da produção na margem, mas a direção ao mercado externo justifica muito o fato de ela (celulose) ter comportamento distinto das demais atividades. O setor está num momento completamente diferente da indústria", disse o gerente.
Aves, carnes e minerais não metálicos também têm sido beneficiados pelo câmbio, mas esses desempenhos são insuficientes para reverter a trajetória negativa das atividades em que se inserem. "Além disso, a melhora é claramente insuficiente para reverter o comportamento negativo na indústria como um todo", acrescentou Macedo.
Por outro lado, a indústria farmacêutica tem sentido os reflexos negativos da alta do dólar. Como os insumos do setor são, na maioria, importados, os custos aumentaram. A consequência é uma queda de 10,1% na produção entre setembro e novembro deste ano em relação a igual período de 2014.