Crédito

Sem conseguir quitar financiamento, consumidores precisam devolver bens

Crise econômica apertou acesso ao crédito e dificultou a vida de quem contava com parcelamentos para aquisição de carro e imóvel

Luiza Freitas
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Luiza Freitas
Publicado em 13/01/2016 às 11:13
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Crise econômica apertou acesso ao crédito e dificultou a vida de quem contava com parcelamentos para aquisição de carro e imóvel - FOTO: Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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Antes farto, o acesso ao crédito entrou na lista das desilusões do brasileiro no ano passado. Sem um crescimento econômico que sustentasse tantos empréstimos e com a ameaça crescente do desemprego batendo na porta dos pagadores, os bancos fecharam as torneiras. Mesmo assim, muita gente que já havia tomado seu financiamento precisou entregar o imóvel ou o veículo para quitar a dívida.

Distratos e pátios cheios de veículos prontos para serem leiloados são o retrato da ressaca do crédito.“O volume de veículos tomados que leiloamos cresceu cerca de 15% no ano passado em comparação a 2014. Acredito que esse número vá crescer mais este ano, referente aos financiamentos tomados entre 2013 e 2014”, diz José Alberto Venceslau, proprietário do Coliseum leilões, frisando o desemprego e a queda do poder de compra das famílias como causas da falta de condições de quitar financiamento.

Os veículos tomados por financeiras representam 10% dos mais de 9 mil carros, motos e caminhões do pátio da empresa, localizada em Vitória de Santo Antão. No início do ano passado não eram mais que 7,5 mil. Hoje são 9 mil.Para tentar conter a tomada do bem – que é dado como a garantia do empréstimo –, o economista chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), Nicola Tingas, diz que houve um aumento no diálogo entre quem deve e quem empresta. “Bancos e financeira estão avaliando caso a caso. No ano passado o problema dos atrasos nas prestações aumentou, então as instituições estão tentando estabelecer mais diálogo”, argumenta.

Em outubro do ano passado, o número de financiamentos de automóveis caiu 29,8% na comparação com o mesmo período de 2014. Segundo Tingas, o financiamento é a modalidade usada em 70% das compras de veículos novos. “O consumidor hoje está enfrentando um problema orçamentário muito severo, principalmente quem não tinha uma reserva financeira e se endividou muito mais do que tinha capacidade. O comprador agora está tentando otimizar esse fluxo de caixa”, resume.

Se no caso dos automóveis o tempo traz a desvalorização e, quem não paga, é porque não tem condições de quitar a dívida, no caso dos imóveis a lógica é, algumas vezes, invertida. “Muita gente se acostumou com o período de alta valorização dos imóveis, que eram comprados na planta para se ter um ganho alto de capital quando estava pronto. Mas não é possível manter essa lógica por muito tempo”, analisa o economista do Conselho Federal de Economia (Confecon) Fábio Silva.

O mercado imobiliário percebe bem a diferença entre o cliente investidor e o que compra para morar. O primeiro grupo deixa de comprar no momento de financiamento escasso e, principalmente, com a desvalorização, e o segundo precisa comprar, mas não consegue quitar as parcelas ou simplesmente não tem o crédito aprovado.

“O imóvel é um bem que precisa ter consciência de quem compra, não é como comprar roupa. Mas estamos tentando entender a situação do cliente, viabilizar a situação junto aos bancos”, afirma o presidente da Ademi-PE, André Callou.

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