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Em um ano de forte contração nos investimentos, o recuo de 28% nos desembolsos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em 2015 não foi surpresa e reflete, em grande parte, a falta de confiança dos empresários na recuperação da economia. A avaliação é do economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Rafael Cagnin. "Tem um problema de oferta, mas tem um problema maior que é de demanda por financiamento", disse. Tal cenário deve se repetir este ano, segundo o especialista.
No acumulado dos três primeiros trimestres de 2015, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) apresentou queda de 12,7% ante 2014, segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O consumo das famílias em retração, diante das más perspectivas para emprego e renda, acabou deixando empresários na defensiva. A elevação dos juros também pesou, e investimentos foram adiados ou simplesmente cancelados.
Além disso, houve um problema de oferta de crédito, que tende a piorar com o fim do Programa de Sustentação de Investimentos (PSI), criado em 2009 como uma política para conter os efeitos da crise internacional sobre a economia doméstica. "Como o PSI não foi renovado, vai haver aumento no custo dos financiamentos", explicou Cagnin.
O próprio BNDES, em comunicado, atribuiu a queda recorde nos desembolsos à baixa demanda e às restrições na política de empréstimos do Tesouro ao banco. "O desempenho acompanha a desaceleração da demanda por novos investimentos e foi influenciado pela política de ajuste fiscal implementada pelo governo federal, o que implicou duas mudanças: condições mais restritivas nos programas equalizados e fim da política de empréstimos do Tesouro Nacional ao BNDES", justificou.
Para 2016, o economista do Iedi espera que haja nova retração nos desembolsos, embora menos drástica que os 28% registrados no ano passado. "Enquanto não houver confiança na recuperação da economia, dificilmente o investimento vai se recuperar", disse.
Cagnin não acredita que, após o tombo nos desembolsos do BNDES, o governo volte a usar o banco de fomento para reativar a economia, como foi feito no período pós-crise de 2008. "É uma estratégia dificultada pela tendência de ajustamento das contas públicas", afirmou.
Embora reconheça que uma flexibilização nas políticas do banco seria benéfica para a atividade, o economista do Iedi disse que, além da falta de espaço no orçamento do governo federal, a medida sozinha é insuficiente. "Sem perspectiva de recuperação, é muito difícil que uma flexibilização de política do BNDES dê conta sozinha. Sem consolidação de expectativas de recuperação, isso não é suficiente", afirmou.