O segmento de serviços é o que mais tem sofrido com a mudança no padrão de consumo das famílias brasileiras neste momento mais agudo da crise. De modo geral, 85,9% dos brasileiros se viram obrigados a ajustar o orçamento doméstico para se defender dos efeitos do desarranjo da economia, mostra pesquisa feita pelo SPC Brasil e Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL).
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Foram ouvidos consumidores de todas as capitais e cidades do interior do País. Os que deixaram de viajar são 75,5% dos consultados. As saídas com amigos para bares e restaurantes foram cortadas por 71,3% dos participantes. 56,8% dos entrevistados disseram que deixaram de gastar com produtos de beleza, 30,7% cancelaram serviços como internet e celular e 28,9% pediram o desligamento do serviço de TV por assinatura. Até mesmo os gastos com educação estão sendo cortados pelo brasileiro. 25,1% dos pesquisados abandonaram os cursos de idiomas, escolas particulares ou faculdades. Outros 25,9% deixaram de cuidar da forma física e rescindiram os contratos com as academias.
Para a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, a redução dos gastos com o setor de serviços não é ainda a “a maior fatia do bolo”, mas é a que mais cresce. A pesquisa do SPC Brasil e CNDL confirma a previsão feita no começo do ano pelo assessor econômico da Fecomercio-SP, Fábio Pina, segundo a qual 2016 seria o ano do ajuste do setor de serviços. Nos indicadores de inflação mais recentes, os preços de serviços têm sido destaques, confirmando a previsão dos especialistas que têm apontado para a redução da atividade neste seguimento.
“A inflação, os juros elevados e o desemprego pioraram a situação financeira das famílias e, muitas vezes, exigem mudanças no padrão de gastos para se readequar à nova realidade. Apesar do momento difícil, esse é uma hora propícia para desenvolver hábitos mais saudáveis e evitar desperdícios com compras desnecessárias”, orienta Marcela.
A pesquisa revela ainda que 79,1% dos consumidores consultados estão evitando comprar produtos e serviços com os quais sempre estiveram acostumados. E tem ainda os que passaram a optar por produtos de marcas mais baratas, 76,9%. A crise tem também o seu lado pedagógico. Em virtude do seu agravamento, 87% dos entrevistados pelo SPC Brasil e CNDL admitiram que agora estão dedicando mais tempo para pesquisar preços e 80,5% estão evitando comprometer sua renda com compras de calçados e roupas.
O estudo ainda revela que 44,3% dos entrevistados estão com as finanças descontroladas.
É grande a percentagem dos consumidores brasileiros (73,6%) que afirmaram, durante a pesquisa, que não imaginavam há quatro anos que o País passaria pelas dificuldades atuais. 80,1% alegam estar indignados com a situação a que chegou a economia brasileira e 71,4% disseram que estão sentindo vergonha do quadro econômico atual. Outros 63,3% afirmam sentir raiva ou estresse e 48,3%, falta de esperança.
"Depois da euforia que marcou a primeira década dos anos 2000, o pessimismo toma conta dos brasileiros. A superação do quadro de recessão depende fundamentalmente da recuperação da confiança e da resolução do impasse político. No curto prazo, o esforço deverá centrar-se no equilíbrio das contas públicas e controle da inflação", o presidente do SPC Brasil, Honório Pinheiro.
Em relação à volta da CPMF como medida para reequilibrar as contas do governo e restabelecer o crescimento do Brasil, a grande maioria dos entrevistados (79,2%) é contra por entender que o governo deve procurar outras medidas para aumentar sua receita sem afetar o bolso dos brasileiros, sendo apenas 7,4% que apoiam a volta do tributo como medida necessária.