O Santander passou pela primeira fase de análise dos números do Citibank Brasil e se prepara para entregar uma proposta final pela filial do banco americano até o fim de julho. A informação foi dada ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado por um executivo do banco espanhol.
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Em fevereiro, o banco americano anunciou a intenção de vender suas operações de varejo, que incluem cartões de crédito, no Brasil, na Argentina e na Colômbia. Segundo apurou o Broadcast, além de Santander, Itaú Unibanco e Safra enviaram propostas não vinculantes (em que não há obrigação de compra) ao banco no mês passado.
Segundo o executivo, o Santander Brasil ainda estuda o valor que será proposto e, até agora, não há um montante definido. O prazo para entrega até o fim do mês foi estabelecido pela direção do Citibank no Brasil. O Citi decidirá sobre o negócio no fim de agosto ou início de setembro, disse a fonte. A negociação é feita diretamente entre Santander Brasil e Citibank Brasil, sob supervisão das sedes.
O executivo afirmou que o Santander "não pagará qualquer preço" pelo Citibank. E comparou a compra com a oferta bilionária feita pelo Banespa. Na privatização do banco paulista, explicou, o elevado ágio pago fazia sentido porque foi essencial para que o banco espanhol se estabelecesse no País. O mesmo exemplo não se replicaria ao caso do Citi, já que agora o banco espanhol já possui 10% do mercado brasileiro.
‘Aquisição pequena’
Nesta terça-feira, 5, questionada por jornalistas em evento sobre América Latina na sede do banco em Madri, a presidente mundial do Santander, Ana Botín, disse que a instituição analisa os ativos do Citibank no Brasil, mas "não tem que comprar" a operação à venda.
"No ano passado, analisamos o HSBC Brasil. No fim, não fomos nós que compramos, mas compramos em Portugal." A presidente comentou que essas aquisições - como a feita em Portugal ou as avaliadas no Brasil - são suplementares.
Ana Botín disse que o Santander "tem massa crítica para competir" no Brasil. Por isso, uma eventual aquisição não é fundamental e só seria feita se houvesse sentido econômico.
Sobre o Brasil, embora tenha indicado a necessidade de o País segurar a inflação, Ana Botín se mostrou otimista. "O Brasil está fazendo as reformas necessárias para se financiar com mais capital privado. As últimas reformas vão por um bom caminho e ajudam a reduzir o custo de se fazer negócios. Isso é fundamental."
A executiva reiterou a aposta da instituição nos países da América Latina, ressaltando que a região gera 40% dos resultados do grupo espanhol.
No evento, o banco anunciou que terá US$ 11 bilhões disponíveis para o financiamento de obras de infraestrutura na América Latina para os próximos três anos. Desse montante, o Brasil receberá 49% dos recursos - cerca de US$ 5,4 bilhões - previstos para o triênio 2016, 2017 e 2018.
"Temos que reduzir o déficit de infraestrutura na América Latina", disse ela, ao comentar que o Produto Interno Bruto (PIB) da região poderia ter crescimento extra de 2 pontos porcentuais caso o investimento no setor alcançasse o equivalente a 5,2% do PIB até 2020, segundo projeção da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Atualmente, a região investe pouco mais de 3% do PIB em infraestrutura.
‘Real, moeda forte’
Na Bolsa de Madri, as ações do Santander foram castigadas nos últimos anos com a exposição do banco ao Brasil, com as incertezas geradas pelo período de juro negativo e, mais recentemente, pelo plebiscito que decidiu pela saída do Reino Unido da União Europeia. Em dois anos, a ação do Santander perdeu cerca de 55% do valor.
Diante dos últimos acontecimentos econômicos, Ana afirmou que o real agora pode ser considerado "uma moeda forte" e a libra esterlina, uma "moeda fraca". Com essa mudança na tendência das duas divisas, a executiva observou que o Brasil pode retomar o posto de filial com maior contribuição para o resultado global do grupo fora da sede na Espanha.
"Tudo depende da taxa de câmbio", disse a executiva, ao ser questionada sobre a queda da importância do Brasil no resultado global do banco. "Nesse ano, o câmbio não ajudou o Brasil. Mas esperamos que, no próximo ano, ajude".
Por outro lado, o Reino Unido - que roubou do Brasil a posição de filial mais lucrativa do Santander - deve sofrer com os efeitos do Brexit. "No Reino Unido, vai ser o contrário. Agora, a moeda fraca não é o real, é a libra. O real é a moeda forte e a libra, a fraca", disse Ana Botín. Enquanto o real se valorizou 20% na comparação com o dólar no acumulado de 2016, a libra perdeu 10% em relação à divisa norte-americana no mesmo período. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.