Após anunciar mais um rombo nas contas públicas, dessa vez para 2017, o presidente em exercício Michel Temer procurou ontem dar uma roupagem positiva à notícia. Ele afirmou que sua gestão conseguiu, em apenas 48 dias, reduzir o déficit orçamentário de R$ 170,5 bilhões este ano para R$ 139 bilhões em 2017.
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Temer reafirmou que, para recolocar as contas públicas nos trilhos, será necessário adotar medidas impopulares. "Subsequentemente, elas vão agradar toda a comunidade brasileira", prometeu. Falando sobre a necessidade de aprimorar a gestão pública, ele citou a ampla revisão que será feita nos benefícios de auxílio-doença, "que pode gerar uma economia de R$ 7 bilhões a R$ 8 bilhões".
Em reunião com empresários na Confederação Nacional da Indústria (CNI), o presidente avaliou que somente na área da Previdência haverá um aumento de gasto de R$ 36 bilhões para o próximo ano, o que, somado com o déficit de R$ 170,5 bilhões este ano, geraria um rombo de R$ 206,5 bilhões em 2017. "Quando nós reduzimos o déficit de 2017 para R$ 139 bilhões, isso foi uma coisa muito bem articulada pela área econômica, que vai exigir vendas de ativos e a aprovação da PEC dos gastos", comentou.
Durante o encontro, o presidente pediu aos empresários que tenham confiança no Brasil e ressaltou que o otimismo é importante psicologicamente. "Em vez de falar em crise, vamos trabalhar, levar as empresas adiante. É claro que existem fenômenos materiais, mas a crise também é psicológica. Se você fica dizendo que a situação está ruim, você se enturma na ideia do malefício. Mas se diz que as coisas vão melhorar, isso cria um clima psicológico que pode auxiliar nosso País."
Expectativas
O presidente da CNI, Robson Andrade, ressaltou que o setor recebeu o déficit de R$ 139 bilhões como uma "demonstração de responsabilidade do governo", mas que os empresários estão na expectativa por medidas. "Estamos ansiosos de ver medidas muito duras, modernas, mas difíceis de serem apresentadas, como a Previdência para um futuro promissor e questões trabalhistas", disse.
Para o próximo ano, porém, a expectativa da CNI ainda é de queda na atividade do setor. "Ainda vamos ter problema de decréscimo da indústria próximo de 2,5% a 3% do Produto Interno Bruto (PIB) e só a partir de 2018 vamos ter crescimento da indústria nas nossas mais recentes expectativas", previu.
Em resposta a Temer, o presidente da CNI afirmou que a indústria é "totalmente contra o aumento de imposto", mas destacou que o tema não foi tratado durante o encontro. "Achamos que o Brasil tem muito espaço para reduzir custo, melhorar a eficiência e a máquina pública. Aumentar a carga tributária é ineficaz, o que geraria redução de receita. Empresas, Estados, municípios e governo federal estão em situação muito difícil", disse após o encontro.
A presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Maria Sílvia Bastos Marques, também participou do evento e frisou que a inovação é uma das prioridades do País. Ela disse que o banco já possui linhas para fomentar projetos que resultem em novas tecnologias e destacou que a instituição estuda lançar programas em áreas como a indústria química e cidades inteligentes.
"Hoje vou falar só sobre inovação e, como disse o presidente, hoje o governo ouviu muito e falou pouco", disse. Questionada sobre se o financiamento ao Porto de Mariel, em Cuba, deu prejuízo ao banco, a presidente da instituição preferiu não responder: "O assunto está em estudo, como tudo no banco." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.