O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, reafirmou nesta terça-feira (4), que a instituição ajuda na retomada da confiança ao perseguir a missão de colocar a inflação na meta. Em audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) no Senado, Goldfajn defendeu a inflação mais baixa ajuda empresas e famílias.
Leia Também
- Índice de inflação ao consumidor do Peru sobe 0,21% em setembro
- Inflação dos aluguéis sobe 10,66% em 12 meses
- BC projeta inflação de 7,3% este ano e recuo para 4,4% em 2017
- Prévia da inflação de setembro desmoraliza ditado 'a preço de banana'
- Prévia do IPCA registra inflação de 8,78% em 12 meses
- Maioria dos acordos salariais fica abaixo da inflação em agosto, diz pesquisa
"O BC faz parte da solução. A inflação mais alta não contribuirá para recuperação", disse Ilan Goldfajn, ao citar que o papel do BC é controlar os índices de preço. Para o presidente do BC, a inflação mais baixa é condição para a retomada da confiança ao preservar o poder de compra das famílias e empresas, além de alongar horizontes de planejamento.
O presidente da autoridade monetária reafirmou que há processo de desinflação em curso atualmente na economia brasileira. Apesar disso, ressaltou que há incertezas sobre o processo e a evolução dos números. "A evolução dos preços evidencia o processo de desinflação em curso e a perspectiva é de continuidade nos próximos trimestres", disse.
Para Ilan Goldfajn, o processo de desinflação é corroborado pelas perspectivas declinantes das projeções da inflação feitas pelo Comitê de Política Monetária (Copom) e também do mercado.
Apesar de apontar para essa trajetória, Ilan Goldfajn repetiu a avaliação de que "a velocidade de desinflação permanece incerta" "Reafirmo o firme compromisso do Copom com todo o horizonte relevante da política monetária com os anos que já contam com metas, inclusive 2017", disse.
'Interregno benigno'
O presidente do Banco Central também repetiu na CAE do Senado a avaliação de que o mundo passa por um "interregno benigno para as economias emergentes". Segundo ele, o ritmo de crescimento da economia global ainda não é forte o suficiente para a retirada de estímulos nas economias centrais.
Afirmou, no entanto, que "não é provável que o ambiente favorável dure muito tempo". Para o presidente do BC, o crescimento das economias avançadas ganhará ampliação e, com isso, permitirá a normalização das condições monetárias nas economias avançadas, o que deve, em consequência, pôr fim à "fuga do juro zero" e à busca das taxas mais elevadas das economias emergentes. Neste cenário, conforme Goldfajn, "não se deve ignorar a possibilidade de surtos de volatilidade à frente"
O presidente do Banco Central afirmou ainda que as economias emergentes devem aproveitar as oportunidades trazidas pelo interregno benigno do exterior. "O setor externo tem contribuído, mas deve passar a contribuir com ímpeto menor", alertou.
Ao avaliar o cenário doméstico em sua fala inicial, Goldfajn afirmou que a economia brasileira dá sinais de estabilização após seis trimestres consecutivos de decréscimo. Ele destacou ainda - como vem fazendo o BC em suas comunicações mais recentes - que a disposição para investir e para consumir depende da retomada da confiança dos agentes. "Considero a retomada da confiança um elemento crucial", disse Goldfajn.
Segundo ele, também é fundamental perseverar nos ajustes da economia. "Ajustes e reformas voltados para a área fiscal são importantes para resgatar confiança dos agentes", afirmou. "São também necessárias reformas que aumentem produtividade", acrescentou o presidente do BC. "Precisamos avançar em agenda para reforçar a produtividade no longo prazo."
Em sua exposição, Goldfajn também defendeu o reforço do tripé macroeconômico no Brasil e a criação de condições para o crescimento do País em bases sustentáveis.
Swaps
O presidente do Banco Central comentou ainda que a instituição usará "com parcimônia e de forma previsível as ferramentas cambiais que existem". Nesse tema, citou que o espaço para a redução dos contratos de swap cambial parece diminuir à medida que se aproxima novo momento de ajuste da política monetária nos Estados Unidos.
"Todavia e nas condições atuais tem diminuído (o espaço) em função da proximidade na normalidade das condições monetária nos EUA", disse Ilan Goldfajn.
Pressão sobre o Congresso
A presidente da CAE do Senado, Gleisi Hoffmann, fez comentários sobre o atual estado da economia brasileira e sobre a atuação mais recente do Banco Central. A fala de Gleisi ocorreu após a apresentação de 30 minutos do presidente do BC. Sentada ao lado de Goldfajn, Glesi afirmou que o Congresso não pode ser pressionado a aprovar as medidas fiscais propostas pelo atual governo.
"Há uma ameaça ao Congresso: ou aprovamos as reformas, ou conviveremos com juros altos. Mas o que levou à crise não foi o aumento de gastos. O aumento recente da inflação não tem a ver com política fiscal, nem com demanda de famílias", afirmou Gleisi, antes de abrir a audiência para perguntas dos demais senadores participantes. "Aumento de juros não leva a controle da inflação. Juros altos concentra renda", acrescentou.
Gleisi criticou ainda o montante de pagamento de juros da dívida do País e o impacto, também sobre a dívida pública, da política monetária do BC e da posição da instituição em swaps cambiais. A senadora destacou ainda o custo das reservas internacionais, em função dos juros altos (diferencial de juros entre o Brasil e o exterior) e acusou o BC de tentar controlar a inflação por meio do câmbio.
De acordo com Gleisi, a queda real do PIB, a Selic elevada, o câmbio e a posição do BC em swaps explicam, "quase que integralmente, a trajetória explosiva da dívida". "O peso do déficit primário é quase irrelevante", defendeu.