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FMI: economias desenvolvidas afetam crescimento em 2016

''Em todo o mundo, crescem as medidas de proteção ao intercâmbio comercial'', diz FMI

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Publicado em 04/10/2016 às 12:13
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O Fundo Monetário Internacional (FMI) manteve nesta terça-feira sem mudanças sua previsão de crescimento mundial para este ano, de 3,1%, que se move "de lado" e é afetada pelo desempenho das economias desenvolvidas, em particular dos Estados Unidos.

Em seu novo Panorama Econômico Mundial (WEO, em inglês), divulgado nesta terça-feira em Washington, o FMI manteve em 3,1% sua expectativa de crescimento mundial para este ano.

Da mesma forma, a previsão de crescimento da economia mundial no próximo ano foi mantida sem mudanças em 3,4%, inclusive com sua tendência em baixa.

Maurice Obstfeld, economista-chefe do FMI, disse ao apresentar o relatório que é verificada "uma desaceleração no grupo das economias avançadas em 2016 e uma compensação nas economias emergentes e em desenvolvimento".

Por isso, explicou, "a economia mundial se moveu de lado".

O FMI informou sobre sua expectativa de um crescimento de 1,6% das economias avançadas neste ano, uma revisão em baixa de -0,2 ponto em relação ao Panorama que havia sido divulgado em julho.

Em contrapartida, o conjunto dos mercados emergentes e em desenvolvimento terá neste ano um crescimento de 4,2%, com uma leve revisão em alta de 0,1% sobre a previsão de julho.

Desenvolvidas e emergentes

Neste conjunto de economias desenvolvidas, o FMI não conseguiu esconder sua frustração com o desempenho dos Estados Unidos, cujo crescimento foi classificado por Obstfeld como decepcionante.

"A economia dos Estados Unidos perdeu impulso nos últimos trimestres, e a expectativa de uma recuperação no segundo trimestre de 2016 não se concretizou", afirmou o FMI em seu Panorama Econômico.

Por isso, considerou que os Estados Unidos deverão crescer neste ano 1,6%, o que representa um vigoroso reajuste em baixa de 0,6% em relação a julho.

As previsões para França e Itália também foram levemente revisadas em baixa (-0,2pp e -0,1pp, respectivamente). No entanto, o FMI apontou uma expectativa de 3,1% de crescimento neste ano para a Espanha, com forte revisão de meio ponto percentual em alta.

Em compensação, entre as economias emergentes e em desenvolvimento, o FMI expressou uma expectativa de recuperação da Rússia. Segundo a entidade, a Rússia deverá fechar em baixa de -0,8%, uma expectativa melhor em 0,4% em relação a julho.

A Rússia "dá sinais de estabilização em sua adaptação à queda dos preços do petróleo e às sanções" econômicas, disse o FMI.

Já a China deverá ter neste ano um crescimento de 6,6% (mesma previsão em julho) e a Índia de 7,6% (+0,2pp).

Ao mesmo tempo, o FMI disse que a região da América Latina e do Caribe deve fechar este ano com um retrocesso de 0,6%; uma revisão em baixa de 0,2% em comparação com julho.

Brasil no caminho certo

Sobre o Brasil, o FMI ressaltou que está no caminho certo para sair da recessão, mas não alterou suas previsões anunciadas em julho, de contração de 3,3% em 2016 e crescimento de 0,5% em 2017.

O relatório sobre a economia mundial da organização destaca que a queda do índice de confiança parece ter chegado ao fim, graças a "menores incertezas políticas" e à absorção dos choques econômicos passados.

O PIB da maior economia latino-americana caiu 3,8% em 2015 e neste ano terá uma contração de 3,3%, segundo a previsão do FMI vigente desde julho, quando subiu em meio ponto percentual essa projeção.

Para 2017, previu em abril um crescimento nulo, mas em julho também aumentou sua estimativa em meio ponto, a +0,5%.

A OCDE também estimou no mês passado que há razões para ser menos pessimista sobre a economia do Brasil e deu uma projeção similar à do FMI para 2016 (-3,3%), embora tenha mantido uma projeção de recessão (-0,3%) em 2017 (em junho, previa -4,3% para este ano e -1,7% para o próximo).

O Banco Central brasileiro prevê uma queda do PIB de 3,30% em 2016 e um crescimento de 1,3% em 2017.

O país passou o ano em crise política devido ao processo que levou ao impeachment da presidente Dilma Rousseff e sua substituição por seu vice, Michel Temer.

Proteção do crescimento

De acordo com o FMI, a economia mundial enfrenta dois sérios riscos: a adoção prioritária de medidas "para dentro" e o estancamento das economias avançadas.

Para o organismo, o primeiro destes dois riscos se reflete na adoção de medidas protecionistas que conduzem a uma desaceleração do comércio mundial.

O "Brexit" pode ter dado o tiro de largada para a geração destas políticas, mas o FMI apontou o risco de que esta tendência se espalhe aos Estados Unidos, país que se encontra em plena campanha eleitoral pela presidência.

Nos Estados Unidos, a "retórica anti-imigrante e anti-intercâmbio comercial foi proeminente desde o início da atual campanha eleitoral", disse Obstfeld.

Em diversos países de economia avançada é verificado o fortalecimento de "um movimento político que culpa a globalização por todos os males e busca se separar, mediante um muro, das correntes de economia e comércio", disse.

"Em todo o mundo, crescem as medidas de proteção ao intercâmbio comercial", alertou o economista-chefe do FMI.

Na campanha eleitoral americana, o candidato Donald Trump propõe renegociar os principais acordos comerciais do país e construir um gigantesco muro na fronteira com o México.

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