PETROLEIRA

Petrobras começa a reverter efeitos da Lava Jato

A estatal já conseguiu subir neste ano três degraus em um ranking de valor de mercado que reúne as grandes companhias do setor

Estadão Conteúdo
Cadastrado por
Estadão Conteúdo
Publicado em 24/10/2016 às 6:39
Foto: Divulgação
A estatal já conseguiu subir neste ano três degraus em um ranking de valor de mercado que reúne as grandes companhias do setor - FOTO: Foto: Divulgação
Leitura:

Apesar de ainda carregar o título de petroleira mais endividada do mundo, a Petrobras começa a reconquistar a confiança dos investidores e a reverter os estragos deixados pelas denúncias de corrupção levantadas pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal. Com uma alta de 168% em suas ações acumulada no ano, a estatal já conseguiu subir neste ano três degraus em um ranking de valor de mercado que reúne as grandes companhias do setor. A estatal, que chegou a ocupar o terceiro lugar em maio de 2008, hoje é a 8ª colocada. Em janeiro deste ano, seu pior momento, estava na 11ª posição. 

Em entrevista exclusiva ao Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, o presidente da estatal, Pedro Parente, comemora a escalada, mas diz que "a parte mais difícil vem agora". 

"Executar um plano que inclui redução de custos e de investimento, sem reduzir metas e com ganho de produtividade, além de um programa de desinvestimento relevante, requer muita disciplina."

O projeto da Petrobrás é correr com os ajustes para alcançar, em 2018, os mesmos indicadores das petroleiras que possuem grau de investimento, o selo de boa pagadora que perdeu em fevereiro de 2015. A principal meta é a redução do comprometimento do caixa com pagamento de dívida. A ideia é chegar a um indicador de alavancagem (relação entre dívida líquida e geração de caixa) de até 2,5 em dois anos. Hoje, o indicador está em torno de 5.

"Desejo o grau de investimento o mais cedo possível. A gente tem de fazer a nossa parte e o 'upgrade' (elevação da nota de risco) vem como consequência", acrescentou Parente. 

Risco 

Na última sexta-feira, a agência de classificação de riscos Moody’s elevou a nota da companhia, mas continuou indicando ao mercado que a petroleira ainda não faz parte do seleto grupo de empresas isentas de risco. A companhia continua com grau especulativo e precisa avançar cinco degraus para recuperar o selo de boa pagadora. 

Um dos pontos de alerta é a investigação criminal sobre a companhia nos Estados Unidos, relacionada a corrupção e suborno. A ação afetará negativamente o caixa da empresa em um montante que ainda não está claro, destacou a Moody’s.

Também na sexta, a estatal anunciou que fechou acordo para encerrar quatro ações individuais contra a empresa, no valor de US$ 353 milhões. Essas ações tramitam em conjunto com outras 23, além de uma ação coletiva, em Nova York.

A Petrobrás colhe hoje os benefícios da melhora do mercado internacional de petróleo. A empresa tem ganhos também com o resultado da alta do real frente ao dólar, por causa do alto endividamento em moeda americana. Para o mercado financeiro, também foram positivas as mudanças regulatórias feitas pelo presidente Michel Temer, que promete reduzir a interferência do governo em seus negócios. 

A principal delas foi a que libera a operação do pré-sal a qualquer petroleira, e não só à Petrobrás. O mercado avalia que suas reivindicações para o setor estão sendo contempladas por Parente, pelo Executivo e pelo Congresso. O contentamento é indicado pela valorização das ações da empresa. 

O banco Credit Suisse, por exemplo, já não acredita que a União, sócia majoritária, deve capitalizar a estatal, como afirmou o presidente do banco, José Olympio Pereira, em entrevista ao Estado, em março. A avaliação do banco é que o cenário internacional ajudou a Petrobrás a superar o pior momento e que a administração passou bem pela turbulência, cortando custos, reduzindo investimentos e vendendo ativos. 

Diante desse cenário, a tendência dos financiadores é reduzir a taxa de juros cobrada em empréstimos, o que faz com que a empresa já não dependa do Tesouro para quitar dívidas com vencimento no curto prazo.

Relatório do Bradesco BBI aponta que a mudança regulatória que liberou a operação do pré-sal abriu espaço para que a estatal venda fatias em projetos na região e engorde seu caixa. 

Um analista de um grande banco lembra que a recuperação da empresa não pode ser medida só pelo preço da ação. Apenas depois da concretização de todos os projetos financeiros e operacionais é que será possível dizer que a crise na estatal ficou no passado.

No entanto, o mesmo analista diz que ainda há espaço para valorização dos papéis. "No começo do ano, a Petrobrás fazia as contas de quando ia quebrar porque o mercado de dívidas estava fechado e a geração de caixa não cobria as dívidas de curto prazo. Agora, o momento é outro.

‘EMPRESA TEM MUITAS TAREFAS PELA FRENTE’

Entrevista com Nymia Almeida, analista sênior da agência de classificação de risco Moody’s

A analista sênior da Moody’s Nymia Almeida vê a Petrobrás numa trajetória positiva, em meio à venda de ativos e à definição da política de preços dos combustíveis. Apesar disso, destaca que a companhia ainda tem muitas tarefas pela frente, entre elas entregar a redução de custos que está prometendo

Qual a situação da Petrobrás hoje comparada a outros momentos da sua história? O que mais preocupa?

A empresa está muito endividada e tem pouca margem de manobra. O principal problema são os US$ 27,3 bilhões que estão para vencer nos próximos dois anos e meio. 

Como está a empresa em relação a outras petroleiras?

A Petrobrás está em um movimento interessante, vendendo ativos, com uma tendência boa de acesso aos mercados. Mas ainda tem muitas tarefas a fazer, principalmente em relação à venda de ativos e à parte operacional, com os custos que ela pretende baixar. 

A investigação criminal contra a Petrobrás nos EUA é um ponto de atenção? 

O único perigo é que a empresa tenha de vender mais ativos do que espera para pagar a conta. É imprevisível, todos os cenários são especulativos. 

Quais os efeitos da nova política de preços de combustíveis?

A empresa está perdendo mercado e, nesse cenário, é uma decisão que faz sentido, porque é preciso oferecer preços mais razoáveis para competir. Em relação à venda de ativos, essa política está dando previsibilidade. Antes, quando o preço (do petróleo) subia, questionávamos se ela conseguiria subir a gasolina. Agora, começamos a ter um pouco mais de certeza: talvez a empresa tenha uma margem pequena, mas não vai perder aqueles US$ 10 bilhões por ano, como ocorreu de 2011 a 2014.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Últimas notícias