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Pacote econômico mira direção certa, afirmam economistas

Decisões anunciadas têm potencial para ajudar o País a sair da recessão, mas ainda depende de outras reformas e estabilidade política

Luiza Freitas
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Luiza Freitas
Publicado em 17/12/2016 às 7:46
Foto: Beto Barata/ PR
Decisões anunciadas têm potencial para ajudar o País a sair da recessão, mas ainda depende de outras reformas e estabilidade política - FOTO: Foto: Beto Barata/ PR
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O pacote de medidas econômicas anunciado na quinta-feira (15) pelo governo Michel Temer aponta na direção correta para tirar o Brasil da crise, segundo economistas e empresários de todo o País. O que eles colocam em dúvida, no entanto, é o tempo necessário para que as medidas surtam efeito, a ponto de vencer a recessão no curto e médio prazos, como se projeta. A favor da superação da crise sopram os ventos da competência da equipe econômica (reconhecida pelo mercado) e o andamento de reformas estruturais no Legislativo. Contra, a instabilidade política, que já mostrou ter potencial de uma tempestade.

O pacote promete mudanças microeconômicas destinadas a destravar alguns gargalos que tornam mais lenta a retomada da economia, como a redução do endividamento, desburocratização em diversos níveis e estímulo ao crédito (confira os detalhes na arte abaixo). O anúncio surge depois da aprovação da PEC do Teto dos Gastos nesta semana e do início da discussão da Reforma da Previdência, medidas mais estruturais e determinantes para o sucesso dos planos econômicos do governo. Durante o anúncio, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, evitou fazer projeções sobre o impacto do pacote, mas afirmou que acarretará na elevação no PIB “nos próximos anos”.

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“As medidas do governo não devem terminar aí (no pacote). É preciso ir à frente com a Reforma da Previdência, baixar os juros em janeiro. Mesmo assim, o conjunto de medidas econômicas anunciado agora tem impacto no ambiente de negócios, reduz o Custo Brasil, onde as empresas gastam muito com burocracia”, analisa o economista Jorge Jatobá, sócio-diretor da Ceplan.

Apresentadas como soluções de curto e médio prazo, muitas das medidas do pacote dependem da criação de sistemas e plataformas que unificam bancos de dados, o que deve levar tempo para se desenvolver. “Em economia, curto prazo significa meses. Acho que essa é uma medida que só vai funcionar em 2018”, diz Jatobá. Sobre a criação dessas plataformas, a Fecomércio-SP destacou que o governo avança apenas em soluções para problemas burocráticos vistos como unanimidade há muito tempo. 

CRISE POLÍTICA

O anúncio do pacote econômico foi feito duas semanas depois de o IBGE anunciar o sétimo trimestre seguido de retração do PIB e uma semana após a citação do nome do presidente Temer e membros do governo e base aliada na lista da delação dos executivos da Odebrecht. 

“Acho que as medidas são interessantes, mas não serão elas que vão tirar o País da recessão. Acredito que o anúncio vem muito mais para criar uma agenda positiva para que o governo consiga sair da agenda negativa”, opina o professor do departamento de economia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Marcelo Eduardo. Ele destaca ainda que grande parte do problema econômico que o Brasil enfrenta depende da confiança, o que é difícil de ser recuperado diante de um quadro de extrema instabilidade política.

Com o apoio do Legislativo para a aprovação de medidas econômicas estruturais – diferente do que aconteceu no governo Dilma Rousseff –, a maior incógnita dos economistas para a superação da crise é, de fato, o andamento das investigações da Operação Lava Jato. “O governo tem uma equipe econômica muito competente, que contrasta com o núcleo político, muito vulnerável, o que mantém a insegurança do mercado”, ressalta Jorge Jatobá.

Uma vez que é difícil prever os próximos capítulos da crise política e institucional, o mercado aposta no trabalho conjunto da equipe econômica. Na sexta-feira (16) o Banco Central (BC) anunciou que na próxima quinta-feira seu presidente, Ilan Goldfajn, fará um pronunciamento oficial no qual incluirá medidas para reduzir o custo do crédito no País (leia mais na matéria ao lado). “O anúncio do pronunciamento do BC mostra que vem por aí uma medida casada (com o pacote), o que é bastante positivo. Aponta que a equipe está trabalhando bem junta, o que não estava acontecendo antes”, acredita a gerente do Núcleo de Economia e Negócios Internacionais da Fiepe, Thobias Silva.

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