As melhores condições econômicas no País levaram à desaceleração do ritmo de queda do emprego formal em 2017. O Brasil fechou o ano com menos 20.832 postos, contra 1.326.558 em 2016 e 1.542 em 2015. O início da recuperação da economia é sólido e perceptível em setores como comércio, agropecuária e serviços, em parte pelo consumo. Já outros, a exemplo de construção civil e indústria de transformação, que demandam mais investimentos, ainda estão fechando vagas, mas já mostram reação. O desafio agora é de criar mais empregos este ano.
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Os dados são do Ministério do Trabalho e foram divulgados ontem. “Significa estabilidade de emprego. Tivemos oito resultados mensais positivos em 2017, ao contrário de 2015 e 2016. A expectativa é de que agora haja um ciclo de crescimento”, comenta o coordenador de Estatística da pasta, Mário Magalhães.
O comércio liderou a geração de empregos com saldo positivo de 40.087 postos, representando reversão da tendência verificada nos anos de 2016 e 2015. Os setores da agropecuária (37.004) e dos serviços (36.945) também encerram o ano contratando mais que demitindo. A maior redução de vagas formais foi no setor da construção civil, que encerrou o ano com saldo negativo de 103.968 empregos com carteira assinada. A indústria de transformação apresentou redução de 19.000 postos.
Outro ponto que pode ter ajudado foi a reforma trabalhista, possibilitando a criação de novas modalidades de contratação. Desde novembro, quando a reforma passou a vigorar, 5.641 empregos foram criados no regime intermitente, sendo 33,4% do total no Nordeste.
“Comércio e serviços respondem rápido à recuperação. Outro ponto que tem que ser considerado é a reforma trabalhista, que possibilita contratação principalmente nesses setores. Este ano, o impacto será maior. Já a indústria precisa de tempo, planeja os investimentos a longo prazo”, comenta o professor de Economia da Universidade de Brasília, Roberto Ellery. Sobre a construção civil, ele afirma que o setor deve acompanhar o ritmo de retomada, especialmente se as taxas de juros continuarem baixas, facilitando o financiamento.
O Sudeste e o Nordeste foram as regiões que mais eliminaram vagas, com 76.600 e 14.424 postos de trabalho formais a menos, respectivamente. O Norte teve saldo negativo de 26 vagas, enquanto que o Centro-Oeste e o Sul criaram, nessa ordem, 36.823 e 33.395 postos de trabalho. O Rio de Janeiro, que enfrenta uma forte crise fiscal, foi o Estado que mais fechou vagas (-92.110), enquanto que Santa Catarina foi a unidade da federação que mais criou empregos com carteira. Com o corte de vagas em 2017, o Brasil fechou o ano com um estoque de 38.290.000 de empregos formais. Esse é o estoque mais baixo desde o fim de 2011, quando 38.250.000 de pessoas ocupavam empregos com carteira assinada no país. Em dezembro, o saldo ficou negativo, com menos 328.539 empregos.
MERCADO
Quanto à geração de vagas, os maiores beneficiados foram os jovens de até 24 anos e trabalhadores com nível médio ou ensino superior, com a criação de 823.900 postos de trabalho em 2017. Para os mais velhos, o comportamento foi exatamente o contrário. Nas faixas com idade superior a 25 anos, 844.700 empregos foram eliminados no ano passado, sendo que na faixa entre 50 e 64 anos foram fechados 379.900 vagas. No recorte por gênero, o Caged mostra que homens ganharam espaço no mercado, com abertura de 21.600 vagas ocupadas por trabalhadores do sexo masculino, enquanto as mulheres perderam 42.200 empregos.
Para 2018, a expectativa é de que um crescimento entre 3% e 3,5% possa gerar até 2 milhões de novos empregos. “As eleições não vão influenciar tanto, é provável que a economia siga descolada da política. O governo federal tem uma boa equipe econômica. Se Meirelles continuar no Ministério da Fazenda até o fim de 2018, vai garantir estabilidade na política macroeconômica. A reforma da Previdência é ainda uma grande preocupação para que o mercado veja melhoras nas condições econômicas e para que investidores internacionais possam acreditar ainda mais no nosso País”, explica o professor de Economia da UFPE e consultor de empresas Ecio Costa.
PERNAMBUCO
Pernambuco também demitiu mais do que contratou em 2017 e terminou o ano com saldo negativo de 6.612 empregos a menos. O resultado, porém, é melhor do que o de 2016, quando 48.486 postos foram extintos. Agropecuária e comércio geraram mais postos formais em 2017, enquanto serviços e construção civil eliminaram mais vagas, mas também mostraram desaceleração na queda. No País, Pernambuco foi o 10º Estado com o pior saldo, com menos 8.314. Mas foi o melhor dezembro do Estado desde 2011.
A agropecuária foi beneficiada pelo aumento da chuva e criou 1.222 empregos. Até o terceiro trimestre de 2017, o setor acumulou crescimento de 16% no Produto Interno Bruto (PIB) do Estado. A estimativa da Federação da Agricultura do Estado (Faepe) é de manter a taxa de crescimento. “Tivemos uma quadra chuvosa melhor do que em 2016. O uso da tecnologia no campo se intensificou. Com o crescimento da produção, aumenta a contratação da mão de obra”, comenta o presidente da Faepe, Pio Guerra.
Já no comércio, é possível ver um aumento da confiança das famílias pernambucanas. A criação de apenas 82 postos de trabalho já é motivo de comemoração, pois, em 2016, o setor fechou 11.588 vagas. “Geração de emprego formal é reflexo de melhoras nas vendas. O comércio reflete de forma imediata a população mais confiante. A retomada pelo consumo é sustentável”, explica o economista do Instituto Fecomercio-PE Rafael Ramos.
O setor de serviços no Estado ainda acumula perdas, mas também já mostra reação. Ano passado, eliminou 3.642 empregos, contra 18.579 em 2016. “O pernambucano parou de consumir por uma postura conservadora. Agora, mesmo com a taxa de desemprego ainda elevada, volta a consumir. Em 2018, o consumo será ainda melhor”, avalia Rafael Ramos.
Na indústria, o mesmo cenário dos serviços se repete. O setor fechou 8.361 vagas em 2016. Em 2017, ficou com saldo negativo de 502 vagas a menos. “O que ajudou foi o processo de recuperação da economia nacional e, consequentemente, do emprego. Mas Pernambuco tem o desafio de melhorar a taxa de desemprego”, comenta o economista da Federação das Indústrias de Pernambuco (Fiepe) Thobias Silva. A construção civil fechou 3.626 vagas no ano passado, contra 12.444 em 2016.
Em relação à contratação de intermitentes, Pernambuco ficou com saldo de criação de 316 postos em novembro e dezembro. No trabalho parcial, apresentou o maior saldo do País, com geração de 83 vagas.
Entre os municípios, Timbaúba foi o que mais contratou e fechou o ano com saldo positivo de 428 empregos. Já Recife apresentou o pior desempenho, com menos 5.464 postos. Em 2016, a capital pernambucana fechou 26.233.