MORADIA

Ônus excessivo com o aluguel já representa 42% do déficit habitacional

Em todo o País, a deficiência de moradias em relação ao número de habitantes já é de 7,7 milhões de unidades

Bianca Bion e Lucas Moraes
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Bianca Bion e Lucas Moraes
Publicado em 09/12/2018 às 7:00
Foto: Bobby Fabisak
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São apenas três cômodos. Em um deles, a sala. No outro, um quarto improvisado e cozinha; no terceiro, outro quarto, divido por uma cortina que esconde um buraco no chão – o banheiro. A estrutura, que em princípio parece inviável para alguém morar, é a casa de Adriana Lia, 41 anos, o marido e cinco filhos. Com renda de R$ 220 do Bolsa Família e os R$ 9 por cliente do companheiro, que trabalha informalmente numa academia do Pina, Zona Sul do Recife, ela paga o aluguel de R$ 270 da palafita em que vive na travessa Oswaldo Machado, no mesmo bairro. “Quando vim morar aqui pagava R$ 100, mas todo ano o dono aumenta R$ 20, R$ 30. Se ano que vem aumentar de novo, a gente não vai conseguir nem mais ficar”, conta Lia. A realidade vivida por ela reflete os números levantados pela FGV e pela Associação Brasileira das Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc). No ano passado, o déficit habitacional chegou ao nível recorde de 7,7 milhões de unidades residenciais, inflado sobretudo pelo ônus excessivo com aluguel (comprometimento acima de 30% da renda), coabitação familiar e habitação precária, que já representam, respectivamente, 42%, 41% e 12% do déficit.

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“Não considero uma casa. Queria muito que Deus me tirasse daqui. É muito sofrimento. Pago, mas quando a gente vê o dinheiro chega dá pena. Hoje mesmo não tem nem o que comer. O meu vizinho que deu e tô dividindo para os meninos”, confessa a dona de casa, que já chegou a procurar outras moradias. “Era tudo R$ 400, R$ 500.”

Entre 2007 e 2017, a participação do componente ônus excessivo com aluguel no déficit habitacional passou de 24,2% para 42,3%, atingindo 1,5 milhão de domicílios a mais. No mesmo período, embora mais meio milhão de famílias tenham deixado a condição de conviventes, surgiram cerca de 50 mil domicílios improvisados. Para a coordenadora de projetos da construção da FGV, Ana Maria Castelo, a situação está muito relacionada à própria questão econômica, problemas de renda e a dificuldade de prover moradias nas grandes cidades.

“Esse componente do déficit (aluguel) não só é o que tem maior peso, mas é o único que efetivamente cresceu no período. E tem a ver com a crise econômica, desemprego e aprofundamento da questão de desigualdade”, afirma. Em termos da distribuição do déficit por renda, os estratos de até três salários mínimos responderam por 91,7% do déficit total, o equivalente a 7,1 milhões de unidades. Essas mesmas duas faixas respondem por 100% das unidades com ônus excessivo do aluguel e domicílios improvisados.

É justamente na base desse grupo que está a aposentada Maria José de Souza, 66. “Mora eu, minha filha e quatro netos. É só um ‘vãozinho’. A gente fica o dia todo aqui na frente de casa. Só entra mesmo para dormir, porque quando um tá o outro tem que sair. Não dá todo mundo. Vou fazer o quê? Tem que ser aqui, porque se for pagar aluguel a gente não come”, desabafa a idosa, única detentora de rendimentos na casa, que é própria.

Pernambuco

De acordo com o IBGE, no ano passado, enquanto 4,9% da população residente no Brasil tinha ônus excessivo com aluguel, e o Nordeste, 3,8%, Pernambuco apresentava ônus de 5,1%. No Estado, 14,5% das pessoas residentes não tinham coleta de lixo, 22,4% não tinham abastecimento de água por rede geral e 39,9% estavam sem acesso a saneamento básico.

De acordo com o diretor do Secovi-PE, Elísio Cruz, no caso das famílias de baixa renda, o peso do aluguel acaba sendo realmente mais alto do que a média do mercado formal. “Os subsídios (como o Minha Casa Minha Vida) passaram a ser muito interessantes para esse tipo de família, no caso da compra de imóvel. No caso do aluguel, não. Realmente, o sujeito que ganha até três salários mínimos tem que utilizar um salário para pagar o aluguel, mas a gente está falando de uma base da pirâmide que conta com contingente muito maior. É onde temos o maior número de imóveis ofertados, mas também a maior demanda”, diz ele, em referência à variedade de preços.

No Recife, a oferta de imóvel usado para aluguel – em geral – fica em torno de 25 mil unidades. O valor médio do m² nessa faixa em setembro variava de R$ 13 a R$ 24.

Foto: Bobby Fabisak
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Foto: Felipe Ribeiro/JC Imagem
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