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Após conquistar investidores em Davos, desafio de Bolsonaro é o Congresso

Na visão de analistas, Bolsonaro e sua equipe têm conseguido reverter a imagem negativa que o investidor estrangeiro nutria de sua figura

Leonardo Spinellli
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Leonardo Spinellli
Publicado em 24/01/2019 às 6:07
FABRICE COFFRINI / AFP
Na visão de analistas, Bolsonaro e sua equipe têm conseguido reverter a imagem negativa que o investidor estrangeiro nutria de sua figura - FOTO: FABRICE COFFRINI / AFP
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Apesar das rusgas com a imprensa e dos problemas familiares envolvendo seu filho, o senador eleito Flavio Bolsonaro, a comitiva do presidente Jair Bolsonaro (PSL) vem conquistando frutos para o seu governo na tarefa de tentar convencer o investidor internacional a trazer dinheiro ao País. Na visão de analistas, o presidente e sua equipe têm conseguido reverter a imagem negativa que o investidor estrangeiro nutria de sua figura, de um nacionalista de extrema-direita protecionista.

“Bolsonaro tem conseguido passar uma visão construtiva em Davos, ele tem falado o que o investidor quer ouvir, na implementação das reformas e estabilidade macroeconômica, das instituições e respeito aos contratos”, avalia o economista-chefe do DMI Group, Daniel Xavier. Mas para o investidor escolher efetivamente o Brasil como destino de suas aplicações, o próximo desafio a ser enfrentado pelo novo governo é passar as reformas no Congresso, que retoma os trabalhos em fevereiro.

“Com o Congresso, Bolsonaro terá de mostrar a capacidade de negociação para obter as reformas tributária, da Previdência e outras reformas microeconômicas que passarão com projetos ordinários”, argumentou o economista da Ceplan Consultoria, Jorge Jatobá. “O investidor precifica a expectativa e a Bolsa subindo é sinal de que as pessoas colocaram no preço as expectativa positivas”, avalia o diretor de Investimentos da Finacap, Luiz Fernando Araújo. O Ibovespa fechou ontem em novo recorde histórico, o décimo de 2019. A expectativa positiva, no entanto, ainda é do investidor local. “O estrangeiro perdeu a confiança no País, desde 2012 o cenário nacional se deteriorou de uma forma rápida.”

Os analistas acreditam que a crise envolvendo o nome do filho do presidente poderá gerar custos políticos na aprovação das reformas, mas enquanto o presidente conseguir manter a economia girando ele ainda terá capital político para implementá-las. “Esse é um fator de risco, que pode trazer incertezas, o mercado aguarda esclarecimento dos fatos, mas na entrevista à Bloomberg Bolsonaro demonstrou sua estratégia de blindagem, ao afirmar que o filho terá de ser punido se tiver errado”, diz.
Caso consiga convencer os parlamentares, o provável é que investidores passem a olhar o Brasil com outros olhos. “O ritmo de investimento estrangeiro no País tem rodado em US$ 70 bilhões a US$ 80 bilhões por ano. É possível ampliar esse ritmo para até US$ 100 milhões”, diz Xavier.

Ao entrar investimentos produtivos e em infraestrutura, a expectativa é que isso se reverta em empregos e crescimento econômico. “Há ainda os gargalos da área social, mas a maior contribuição da economia para o social é a criação de empregos”, diz Jatobá.

PRODUTIVIDADE

Muitas áreas podem atrair o interesse estrangeiro, a começar pelas obras de infraestrutura, como ferrovias, rodovias, aberturas de portos, plano de logística. Nesse sentido, aliás, as amarras ideológicas terão de ser superadas, como, por exemplo, as relações com a China e outros parceiros. O setor de serviços é outro que tem um alto poder de atração de recursos estrangeiros, mas para atender a essa nova demanda há ainda o gargalo da baixa produtividade do trabalhador brasileiro.

“A baixa produtividade inibe investimentos, mas o governo tem sinalizado com propostas para melhorar a qualificação da mão de obra doméstica através do Ministério da Educação. Cada ano a mais de educação aumenta a renda da pessoa”, diz Xavier.
Após a primeira fase, o Brasil ainda terá outro desafio, que é reconquistar o chamado grau de investimento que, na melhor das hipóteses, só deverá acontecer a partir do ano que vem. “Muitos fundos de investimento só chegarão ao Brasil, através da Bolsa, com o grau de investimento. Hoje com o estoque da dívida representando 78% do PIB, temos uma nota baixa”, salientou Jatobá. Esse, aliás, é o principal dado que o investidor olha ao escolher onde vai aplicar. “Um setor público inflado é prejudicial para o desenvolvimento do setor privado, pois puxam os juros para cima. Uma dívida pública alta aumenta as chances de calote e o risco afugenta o investidor”, explica Xavier.

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