MERCADO DE TRABALHO

Saiba o que jovens precisam fazer para aproveitar programa do governo e conseguir emprego

Pesquisa lista características comportamentais que as empresas estão procurando nos jovens com ensino médio e estão encontrando dificuldade de encontrar

Adriana Guarda
Cadastrado por
Adriana Guarda
Publicado em 13/11/2019 às 7:10
Foto: Tony Winston/Agência Brasília
Durante os meses mais difíceis da pandemia, houve uma enxurrada de demissões e as novas contratações miaram a um nível jamais visto - FOTO: Foto: Tony Winston/Agência Brasília
Leitura:

Depois de conseguir seu primeiro emprego com carteira assinada há um ano e quatro meses, Fabiano da Silva, 21 anos, voltou a fazer parte da estatística do desemprego entre os jovens com faixa etária entre 18 e 24 anos, que no trimestre deste ano alcançou a taxa aterradora de 34,5% em Pernambuco, segundo a Pnad Contínua. A empresa onde ele trabalhava como porteiro decretou falência, e agora o estudante acredita que vai enfrentar uma verdadeira via crucis para se recolocar num mercado de trabalho cheio de desafios para os jovens. Na última segunda-feira (11), o governo federal lançou o programa Verde Amarelo com expectativa de incentivar a contratação de jovens de 18 a 29 anos, diminuindo os encargos para os empregadores e criando um programa de qualificação profissional. Nessa terça-feira (12), na Federação das Indústrias de Pernambuco (Fiepe), também foi apresentada a pesquisa Demanda do Mercado por Profissionais Jovens de Nível Médio no Estado de Pernambuco, encomendada pela NEO.

“Ainda não entrei no detalhe do programa, mas vi que foi lançado o Verde Amarelo. É importante que surjam iniciativas que ajudem o jovem a entrar no mercado de trabalho, porque hoje as exigências são muitas para quem está começando. Querem que a gente tenha experiência quando estamos buscando nosso primeiro emprego, algumas empresas pedem inglês fluente para uma vaga de estágio. Isso sem falar nas qualificações e nos diferenciais. Eu acredito que consigo me diferenciar por algumas características como bom relacionamento interpessoal, vontade de aprender, raciocínio rápido e boa comunicação”, diz Fabiano.

Essas são, exatamente, algumas características comportamentais que as empresas estão procurando nos jovens com ensino médio e estão encontrando dificuldade de encontrar, de acordo com a pesquisa da NEO, iniciativa internacional liderada na América Latina pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), BID LAB e pela International Youth Foundation.

Realizado com 30 empresas no Estado, o levantamento mostrou que a maioria dos empregados com idade entre 14 a 29 anos (95%) está nos setores de serviços, comércio e indústria. “Há um entendimento entre as empresas dos diversos setores de que a parte técnica é mais fácil de qualificar dentro do próprio ambiente de trabalho, mas as qualidades comportamentais são um desafio. Os empregadores estão em busca de profissionais que saibam trabalhar em equipe, tenham interesse em aprender, sejam responsáveis”, observa Vinícius Lobo, analista de Políticas Sociais da Superintendência Regional do Trabalho, uma das entidades parceiras no estudo.

OFERTA E DEMANDA

A pesquisa da Neo também mostra a necessidade de melhorar o diálogo entre as escolas de qualificação em Pernambuco e as empresas para reduzir o descasamento entre a formação do jovem e a demanda do mercado de trabalho. De acordo com o estudo, o casamento entre a necessidade do mercado e a entrega das escolas não chega nem a 50%. O setor mais assertivo é o da indústria, com 45% de coincidência ocupacional, enquanto no comércio e nos serviços, não passa de 35%.

A coordenadora geral da Aliança Neo no Brasil, Neila Vilar, diz que o exemplo de maior descompasso acontece no Porto Digital. “As vagas que surgem no pólo de tecnologia não encontram as qualificações que as empresas demandam, especialmente em áreas de empregos mais qualificados ou relacionadas ao mundo do trabalho do futuro, que é o conhecimento na área de informática e das habilidades socioemocionais”, diz.

Na avaliação de Vinícius Lobo, o Jovem Aprendiz talvez seja a melhor maneira de inserir o jovem no mercado de trabalho com qualidade, segurança e estabilidade. “Em 2018, o número de aprendizes no Estado foi de 12.724. No próximo dia 21, às 14h, no auditório da Superintendência Regional do Trabalho, vamos realizar evento A Integração Empresa-Escola na Aprendizagem, com objetivo se aproximar essas duas pontas. Assim, acredito que novas oportunidades para os jovens poderão se abrir”, defende.

RENDA DOS JOVENS

Além de representar a maior faixa de desempregados do Brasil, com taxa de 25,8% na faixa etária de 18 a 24 anos contra 12% da média nacional no segundo semestre segundo a Pnad Contínua, os jovens também foram os que mais perderam renda do trabalho nos últimos cinco anos. O resultado está na pesquisa Juventude e Trabalho - Qual foi o Impacto da Crise na Renda dos Jovens? E nos Nem-Nem?, realizada pela FGV Social.

O diretor do FGV Social, Marcelo Neri aponta que os dados são alarmantes mesmo na comparação com outros grupos tradicionalmente excluídos. “Enquanto entre analfabetos, negros e moradores das regiões Norte e Nordeste apresentaram reduções de renda pelos menos duas vezes maior que a da média geral, essa perda foi cinco vezes mais forte entre jovens de 20 a 24 anos e sete vezes pior entre os jovens adolescentes”, compara. Há aumento na desigualdade de renda nesse grupo de jovens, 41,2% maior que o aumento observado para o conjunto da população, indicando a necessidade de entender a dinâmica dos diversos segmentos da juventude.

Entre o quarto trimestre de 2014 e o segundo trimestre de 2019, a perda de renda média acumulada foi de 14,66% entre o total dos jovens, com percentuais diferentes por grupos: de 15 e 19 anos (-26,54%), de 20 e 24 anos (-17,76%), entre os nordestinos (-23,58%) e entre os analfabetos (-51,1%).

Segundo a pesquisa, o que provocou a diminuição da renda foi basicamente os mesmos motivos entre os diferentes grupos de jovens: aumento do desemprego, redução de jornada de trabalho, queda do salário por hora/ano de estudo. “Em meio a esta tragédia juvenil há algumas novas direções positivas. A partir do primeiro trimestre de 2017 as perdas da média e da desigualdade de renda desses jovens são interrompidas. O governo federal anuncia o lançamento de redução de encargos trabalhistas de cerca de 30% do primeiro emprego para jovens de 18 a 29 anos.”

Últimas notícias