A Caixa Econômica Federal lança nesta quinta-feira (20) sua nova linha de crédito para financiamento imobiliário a pessoas físicas. Sem correção via Taxa Referencial (TR) ou inflação (IPCA), a expectativa do banco público é se tornar mais agressivo na oferta de crédito com recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), que teve um incremento de 32% na concessão de recursos ao financiamento imobiliário em 2019, mas começa a ter sua atratividade e capacidade para sustentar uma retomada do mercado postas na balança por conta do baixo patamar da taxa básica de juros.
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Embora o próprio banco não tenha divulgado todos os detalhes sobre a nova linha, o superintendente nacional da Caixa Econômica Federal, Alexandre Cordeiro, garantiu a empresários do setor que o lançamento será nesta quinta-feira (20), no Palácio do Planalto.
O financiamento pré-fixado passa a ser a terceira opção em termos de diferenciação do custo do crédito ao cliente no caso do financiamento imobiliário. Atualmente, a Caixa oferece dois tipos de contratos para imóveis que se enquadram no Sistema Financeiro da Habitação (SFH), que não inclui Minha Casa Minha Vida, e tem taxas de juros tabeladas até 12% ao ano. O primeiro, tem taxas a partir de 6,75% + TR. O segundo, lançado no ano passado, tem juros entre 2,95% e 4,95%, mais a variação da inflação no período da contratação. No caso da linha sem o indexador, a taxa cobrada permanece a mesma até o fim do contrato, o que, a depender do caso, pode ser mais vantajoso para o consumidor, já que ele saberá quanto vai pagar até o fim do contrato e o custo do crédito pode ser mais barato vide variações da Selic, por exemplo, no longo prazo.
Ao jornal Valor Econômico, o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, adiantou que a nova linha de crédito imobiliário prefixado terá taxas de juros inferiores a 10% ao ano. A ideia, segundo ele, é financiar imóveis com prazos longos, de 20 ou 25 anos, mas na expectativa de que sejam quitados em até oito anos. "Hoje a duração do contrato já não é mais de 12 anos. É de nove anos e vai baixar pra sete”, disse Guimarães.
Com a nova linha, a Caixa - mesmo que assuma o risco de ficar no prejuízo com os riscos de pré-estabelecer uma taxa - espera maior protagonismo como opção para os clientes que pretendem financiar. Os bancos privados avançaram nos últimos anos na oferta de crédito a partir de recursos do SBPE e têm acirrado uma disputa ponto a ponto pelas taxas mais atrativas.
O futuro da poupança
O SBPE na prática é o sistema pelo qual os bancos captam os recursos aplicados na poupança pelos brasileiros e os destinam para o crédito de aquisição e construção de imóveis. No ano passado, o sistema teve um crescimento significativo de 32% no financiamento, o equivalente a R$ 58 bilhões, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip).
Por ora, não se vê problemas quanto ao fôlego da poupança na garantia de recursos ao mercado imobiliário, mas, para o longo prazo, começa-se a fomentar a discussão do poder de fogo da caderneta de poupança para sustentar a retomada do mercado, já que com a taxa básica de juros baixa (4,25%), a tendência é que as pessoas procurem outros tipos de investimentos, já que a poupança passa a ter um rendimento menor. Em outras palavras, menos dinheiro na poupança significa menos recursos para o mercado imobiliário.
"Apesar de ter um crescimento ainda de 6% da poupança, a captação líquida vai ficar cada vez menor, porque vai ficar ela (a poupança) vai ficar cada vez menos atraente. A médio e longo prazo, a poupança não vai ser o que é hoje, vai depender de recursos. Esse é o principal desafio da Abecip e dos players do mercado imobiliário, como equacionar isso para os próximos anos no longo prazo", disse o superintendente executivo do Santander, Paulo Sérgio Duailibi, durante seminário promovido pela Cbic sobre "Crédito Imobiliário: juros baixos, mais negócios?" nesta segunda-feira (17).
Também presente ao evento, a presidente da Abecip, Cristiane Magalhães, reforçou que com o atual patamar histórico da taxa básica de juros, é preciso também se discutir novos fundings para o setor. "Temos aí sempre debates calorosos sobre qual o nível de atratividade que a poupança vai ter daqui para a frente. Temos para hoje e talvez para o ano que vem condições de financiar esse ritmo de retomada pujante através dos recursos de poupança, mas discutir novos fundings para mudarmos de fato de patamar em relação à (participação) PIB é sempre importante", afirma.
Atualmente, o crédito imobiliário no Brasil representa apenas 9% do PIB. Os financiamentos imobiliários com recursos das cadernetas do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) atingiram R$ 8,66 bilhões em dezembro do ano passado, melhor resultado mensal desde maio de 2015.
Para as construtoras
O banco também reduziu as taxas das operações corrigidas pela Taxa Referencial a partir de hoje e anunciou que duas linhas de crédito para o setor da construção civil poderão ser indexadas pela inflação ou pelo certificado de depósito interbancário (CDI). As taxas dos financiamentos corrigidos pela TR caíram cerca de 30%, passando de TR mais 9,25% ao ano para TR mais 6,5% ao ano para as empresas com conta na Caixa. Para empresas sem relacionamento com o banco, a taxa cai de TR mais 13,25% ao ano para TR mais 11,75% ao ano.
Os financiamentos corrigidos pelo CDI ou pela inflação oficial pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) valerão para duas modalidades. A primeira é Apoio à Produção, que financia a aquisição e a construção de imóveis na planta. A segunda é Plano Empresa da Construção Civil, conhecida como Plano Empresário, destinada à construção de imóveis e que permite o financiamento para pessoas físicas quando 80% do empreendimento estiver construído.