O Brasil registrou em 2019 uma alta de 15,45% nos lançamentos e de 9,7% nas vendas de imóveis residenciais novos, em relação a 2018 – melhor resultado anual dos últimos quatro anos. Os números são do estudo Indicadores Imobiliários Nacionais do 4º Trimestre de 2019, realizado pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) e Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai Nacional), divulgados hoje (2), em Brasília.
“No ano de 2019, em relação a 2018, o setor cresceu em lançamentos 15%, em vendas 10% e o estoque cresceu em torno de 4,8%”, destacou o presidente da CBIC, José Carlos Martins, reforçando que “o que foi previsto no início do ano, aconteceu. Houve equilíbrio no mercado”.
José Carlos Martins destacou ainda que todas as regiões do País iniciaram um movimento de crescimento em 2019, com exceção do Nordeste, que apresentou queda de 21.9% nos lançamentos e queda de 0,8% nas vendas no último trimestre de 2019 comparado com o mesmo período do ano anterior . “O crescimento maior está localizado em São Paulo, nas classes média e classe média alta”, diz Martins.
Gildo Vilaça, presidente da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário de Pernambuco (Ademi-PE) diz que a queda local tem a ver com a realidade do nosso mercado, que é bem diferente do Sul e Sudeste do País. Ele explica que o programa Minha Casa Minha Vida tem um peso muito grande para o setor. E foi justamente esse segmento que foi mais sacrificado na diminuição dos recursos por parte do Governo Federal. “No Sul e Sudeste parte da população com interesse em imóveis até R$ 240 mil (faixa 3 do MCMV) migrou para o financiamento do mercado, que desde a metade do ano passado tem taxas de juros mais baixas. Essa migração ainda não ocorreu aqui porque a renda média local é inferior a do Sul do País e boa parte da população daqui ainda é muito dependente do subsídio do governo para a aquisição de imóveis”. Gildo diz que a esperança é que a nova linha de financiamento da Caixa com taxa fixa e recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), anunciada no mês passado, aqueça o mercado local. “Inclusive estamos programando muitos lançamentos para este mês de março e abril”, diz Vilaça.
Para Érico Furtado, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil em Pernambuco (Sinduscon-PE) diz que 2019 foi um ano de “arrumação” para o setor. “Quem sobreviveu a 2018 pode comemorar. Já no ano passado tivemos a chegada de um novo governo que ainda desconhecia como o segmento funcionava. Agora, em 2020, estamos esperançosos que o governo finalmente entenda que a construção civil é fundamental para o desenvolvimento do País porque movimentamos o PIB como poucos setores. Nós somos a alavanca ou a âncora da Economia, depende de o quanto nos deixam trabalhar”. Érico arrisca um crescimento de 2% para o mercado da construção em 2020 em Pernambuco
ESTUDO
Foram analisados os dados de 90 municípios brasileiros, sendo 17 das maiores cidades, como São Paulo, Belém e Porto Alegre, e 73 outros municípios incluídos em 10 regiões metropolitanas de capitais. Nacionalmente, as altas de 2019 foram reforçadas no 4º trimestre, quando os lançamentos de imóveis cresceram 28,3% em relação ao 3º trimestre e 8,4% frente ao 4º trimestre de 2018. As vendas de outubro, novembro e dezembro de 2019 também cresceram 13,9% quando comparadas à de julho, agosto e setembro do mesmo ano, e 9,7% frente ao mesmo período de 2018.
Em números absolutos e relativos, a amostragem de lançamentos do Sudeste do país foi a que obteve a maior variação positiva no último trimestre. As entregas passaram de 21.036 imóveis em julho, agosto e setembro para 31.965 imóveis em outubro, novembro e dezembro, alta de 52%. Na comparação com o mesmo período do ano passado (30.093), a variação foi de 6,2%. Houve também alta de 19,18% entre todos os lançamentos dos municípios pesquisados na região no resultado anual, entre 2018 (68.804) e 2019 (82.003).
O Sul registrou 9,15% mais lançamentos anuais – na comparação entre 2018 (12.566) e 2019 (13.716) –, além de alta de 15,1% no 4º trimestre de 2019 em relação ao 3º trimestre do mesmo ano, e de 37,3% em comparação ao 4º trimestre de 2018. O Centro-Oeste lançou 42,18% mais imóveis em 2019 (10.671) que em 2018 (7.505), nos municípios analisados. A região também registrou variação positiva de 23,9% entre o 3º e 4º trimestres de 2019 e de 0,5% entre os últimos trimestres de 2018 e 2019 (outubro, novembro e dezembro).
Em números absolutos, o aumento nas vendas também foi expressivo nos municípios analisados dos estados do Sudeste. Foram 23.001 unidades habitacionais adquiridas no 4º trimestre de 2019, alta de 20,2% em relação ao 3º trimestre anterior (19.978 vendas) e de 8,6% na comparação com o 4º trimestre de 2018 (21.184). Foi registrada elevação também de 19,33% entre todos as vendas dos municípios pesquisados na região, na comparação entre 2018 (62.375) e 2019 (74.435).
Há destaque também para a amostragem de vendas do Centro-Oeste, que no 4º trimestre de 2019 cresceram 25,7% em relação ao 3º trimestre do mesmo ano e aumentaram 25,9% em relação ao 4º trimestre de 2018. Ao todo, a região vendeu 11,61 mais entre 2018 (9.925) e 2019 (11.078).
Na região Sul, o comparativo de vendas entre 2018 (14.056) e 2019 (16.360) aponta alta de 16,39%, sendo que o 4º trimestre de 2019 somou 7,4% mais contratos que o 3º trimestre do mesmo ano e 48,8% a mais que no 4º trimestre de 2018.
Depois de quase três anos em queda, a oferta final disponível de imóveis novos voltou a crescer em 2019. Ela representa a diferença entre a quantidade de lançamentos e vendas. Dentro da amostragem, o número variou de 165.323 imóveis disponíveis em média, ao longo dos quatro trimestres de 2016, e fechou 2019 com uma média de 134.751 unidades habitacionais durante 2019. O tempo de escoamento final, pela média de vendas, que chegou 21,6 meses em 2016, se estabilizou ao longo do ano passado e ficou acima dos 12 meses. O fator pode influenciar no preço do imóvel, por fatores de mercado.
O Valor Geral de Vendas (VGV), que é soma do valor potencial de venda das unidades lançadas também cresceu ao longo de 2019 entre as vendas (passando de R$ 8,5 bilhões no 1º trimestre para R$ 15,2 bilhões no 4º trimestre) e na oferta final (que reuniu R$ 43,7 bilhões no 1º trimestre e chegou a R$ 50,2 bilhões no 4º trimestre).
Os preços, por sua vez, aumentaram cerca de 18,64% entre março de 2017 e dezembro de 2019, enquanto o INCC (Índice Nacional de Custo da Construção) subiu 11,39%.
MINHA CASA, MINHA VIDA
Com uma amostragem de 25 localidades (entre capitais e municípios de regiões metropolitanas) o estudo também analisou a participação do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida (MCMV) nas entregas, aquisições e estoque de imóveis residenciais novos. O MCMV representou 50,6% dos lançamentos, 45,3% das vendas e 41,9% da oferta final total de casas e apartamentos.
“A participação do MCMV em 2019, que estava em torno de 50%, caiu para 45% em função da redução do orçamento do Fundo de Garantia em cerca de 10%. Já o orçamento da caderneta de poupança cresceu em torno de 30%, o que a deixou com uma participação maior de mercado que a do FGTS, que é o MCMV. Aí está a grande questão: 90% do déficit habitacional brasileiro está na faixa de até 3 salários mínimos, que é justamente o mercado onde atua o FGTS, que é o Minha Casa, Minha Vida”, alerta Martins.
Instituído em 2009, o MCMV foi criado como um programa habitacional anticíclico e, na avaliação do presidente da CBIC, necessita de ajustes. “É um programa para aquisição de imóvel e moradia não está limitado a aquisição, pode ser locação, leasing, revitalização de centros urbanos [grande filão no Brasil], lotes urbanizados, que poderiam ativar muito esse mercado e é o momento dele ajudar no Brasil a crescer”, completa.