PEQUIM - Diante da crise da dívida nos Estados Unidos e na Europa, a economia chinesa parece vigorosa, mas seu modelo de crescimento é muito dependente do investimento e do crédito, avaliam especialistas.
Com 9,5% de crescimento no segundo trimestre e reservas internacionais que chegam a 3,2 trilhões de dólares, a China, que tirou no ano passado do Japão o posto de segunda maior economia mundial, parece ter conseguido sair rapidamente das dificuldades engendradas pela crise financeira de 2008.
"A China representa uma parte importante da economia mundial, e sua taxa de crescimento é superior à do mundo desenvolvido, o que quer dizer que se fortalece, mas essa força é enganosa", declarou Frase Howie, coautor de um livro sobre o sistema financeiro chinês intitulado "O capitalismo vermelho" (John Wiley and Sons Ltd., 2011).
Como uma medida para combater as enormes perdas de empregos nas indústrias exportadoras no fim de 2008 e em 2009, Pequim abriu as válvulas do crédito para financiar a construção de estradas, de linhas de trem de alta velocidade ou programas imobiliários, tudo isso destinado a reativar a demanda interna.
"Os bancos consideraram que os projetos de infraestrutura não tinham risco porque estavam garantidos pelo governo", considera Patrick Chovanec, professor na Escola de Economia e Administração da Universidade Singhua, de Pequim.
Esse tipo de medida de reativação "cria crescimento, mas também problemas futuros em termos de dívidas ruins", afirma este economista.
As dívidas acumuladas pelas "plataformas de financiamento" das municipalidades subiu oficialmente para 10,7 bilhões de iuanes (1,15 bilhão de euros), mas uma grande parte dos empréstimos está distribuída fora do circuito bancário.
Segundo a agência Fitch, o montante total dos novos empréstimos alcançará este ano 18 bilhões de iuanes, dos quais apenas 8 bilhões distribuídos pelos bancos.
Segundo Chovanec, a dependência da China do crédito "tornou-se um novo modelo de crescimento, mas que não é duradouro".
Em meio ao décimo segundo plano quinquenal, que ocorre de 2011 a 2015, o governo quer reequilibrar o crescimento, destinando uma parte mais importante ao consumo interno.
Mas trimestre após trimestre os indicadores econômicos continuam mostrando um crescimento mais rápido do investimento e das exportações, que do consumo.
"O modelo de crescimento da China tornou-se tão desequilibrado que será difícil mudá-lo", afirma Michael Pettis, professor da Universidade de Pequim.
"Será muito difícil para a China crescer sem manter o investimento em níveis elevados, e o corolário será no longo prazo um crescimento insustentável da dívida", segundo ele.
O governo dispõe de poderosas alavancas para orientar o desenvolvimento econômico. Controla e financia a maioria das grandes empresas do país, e fixa o valor da moeda em relação ao dólar.
Nesse sistema, as empresas estatais têm um melhor acesso ao crédito. Para muitos economistas, trata-se de uma má distribuição dos recursos, já que o setor privado, mais competitivo, é também a principal fonte de criação de emprego do país.
"As empresas do Estado são muito mais poderosas que no passado", estima Richard McGregor, autor de "A partida, o mundo secreto dos líderes comunistas chineses" (HarperCollins, 2010). Mas se o Estado "tornou-se momentaneamente mais forte, não é certo que isso seja um fenômeno duradouro", segundo ele.
Se o mundo desenvolvido tiver de enfrentar uma nova crise, a China poderá aplicar atualmente a mesma receita de 2008? Segundo Howie, "a China pode potencializar sua atividade interna no curto prazo", mediante projetos não muito rentáveis, mas "no fim das contas isso constituirá um desperdício de recursos e o modelo terminará por
fracassar".