A escalada do dólar está forçando empresas a reverem suas estratégias para levar brasileiros aos Estados Unidos. Com o recuo do consumidor, assustado com cotações de até R$ 3,35 no dólar turismo, hotéis e companhias aéreas estão fazendo promoções e até revendo a oferta de voos.
A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) só tem números de passageiros que embarcaram para os Estados Unidos até janeiro deste ano: naquele mês, 274.178 mil pessoas partiram do Brasil para o país norte-americano, 9,2% a mais do que em janeiro de 2014. Porém, embora o dólar já estivesse subindo, não havia atingido os R$ 2,70. Agentes de viagens ouvidos pela reportagem informam que, com a continuidade da alta, em fevereiro a queda da demanda foi mais sentida e a procura caiu principalmente para lazer.
Diretora da Agência Amplatur, a empresária Ana Cláudia Neves comenta que quem tinha pacotes já comprados não chegou a cancelar, devido ao prejuízo financeiro que isso representa, já que há multa por parte de empresas aéreas. Mas os clientes perderam interesse de fechar novos pacotes. “Não é fácil contornar essa situação, nosso segmento depende das promoções das companhias”, comenta.
A consultora da Brasil Operadora de Turismo Camila Brito complementa que isso é sentido especialmente nas viagens a lazer, uma vez que são opcionais e requerem investimento também na compra da moeda. Por outro lado, ela diz que as promoções que as empresas estão fazendo para compensar as perdas no fluxo de passageiro fazem os clientes pensarem duas vezes antes de desistir de viajar. “Se com o dólar a R$ 2,30, R$ 2,40 tínhamos passagens a US$ 1.200, depois que o dólar passou dos R$ 3 temos opções promocionais a US$ 649”, exemplifica.
Outro contrapeso seriam as tarifas da hotelaria. Coordenadora de Marketing da Pontestur, Fátima Farias comenta que enquanto se paga entre R$ 600 e R$ 700 no Brasil por uma diária em um equipamento quatro estrelas, o mesmo valor banca a acomodação com todas as refeições em hotel cinco estrelas nos EUA. Contudo, ela também relata mudança de planos por parte de clientes que antes desejavam visitar os EUA e optaram por resorts nacionais ou por pacotes em outros países da América Latina e da Europa. “Na Europa, há muito mais atrações gratuitas”, acrescenta.
Consultada pela reportagem, a Associação Brasileira das Empresas Aéreas informou que o setor não sente essa retração. No entanto, a entidade se baseia também em números até janeiro. A Abear também destaca que as promoções não são novidade e vêm se intensificando desde 2013.
Uma notícia esta semana chamou a atenção para a forma como o setor está lidando com a redução da demanda: circulou na imprensa nacional a foto de um avião da American Airlines que fazia a viagem de Campinas (SP) até Nova Iorque praticamente vazio. A empresa alega que a linha, implantada em dezembro de 2014 e que decola três vezes por semana, vai ser encerrada este mês, como “parte da constante avaliação da companhia no que diz respeito a sua malha aérea para garantir a máxima utilização de sua frota, bem como atender à demanda de passageiros”.
Veja abaixo a nota completa:
A American Airlines informa que o voo AA958 entre o Aeroporto Internacional de Nova Iorque (JFK) e o Aeroporto Internacional de Viracopos/Campinas (VCP), operado três vezes por semana, será descontinuado a partir do dia 30 de março de 2015. O último voo com destino a Nova Iorque será operado em 29 de março de 2015. A mudança é parte da constante avaliação da companhia no que diz respeito a sua malha aérea para garantir a máxima utilização de sua frota, bem como atender à demanda de passageiros.
A companhia continuará a atender Campinas por meio de seu voo diário entre o Aeroporto Internacional de Viracopos/Campinas (VCP) e o Aeroporto Internacional de Miami (MIA) e com voos diários entre o Aeroporto Internacional de São Paulo/Guarulhos (GRU) para MIA, Aeroporto Internacional de Nova Iorque (JFK), o Aeroporto Internacional da Dallas/ Fort Worth (DFW) e o Aeroporto Internacional de Los Angeles (LAX).