“Falcão é o jovem que não se limita ao chão, ele voa. E quem voa tem visão, enxerga a oportunidade”. E é em falcões que o paulista Eduardo Lyra quer transformar os jovens que vivem em favelas e periferias. Ele é um empreendedor social, uma nova espécie de executivo, cujo produto final não é o lucro, mas, nas suas palavras, “a transformação das pessoas”.
O empreendimento de Eduardo – ou Edu, como ele mesmo se chama – é o Instituto Gerando Falcões, cujo trabalho já atingiu 300 mil jovens de periferia de São Paulo, através da arte, esporte e educação. Por causa do projeto, Edu foi selecionado pelo Fórum Econômico Mundial, como um dos 15 jovens brasileiros que podem mudar o mundo, figurou na revista Forbes entre os 30 jovens mais influentes do Brasil, com menos de 30 anos e recebeu o prêmio Jovem Empreendedor de 2014 pelo LIDE.
Um currículo e tanto para um jovem de 27 anos, que nasceu numa favela de Guarulhos e viu na infância seu pai ser preso após assaltar bancos. “O que faço é fruto do que vivi. Senti na pele a história da exclusão, do preconceito e de viver a miséria extrema”, lembra Edu, que está no Recife para palestrar hoje na segunda edição do Like The Future, encontro promovido pelo LIDE Futuro e que reunirá 180 jovens líderes no JCPM Trade Center. Prestes a encarar uma plateia formada por jovens empreendedores e grandes herdeiros, Edu conta que está acostumado a palestrar “para quem está vencendo e para quem está perdendo. Agora é para quem está vencendo”.
Mas o que teria para falar aos vencedores? “Estar exposto às drogas, violência, visitar meu pai na prisão, ter três empregos para pagar a faculdade...Tudo isso foi aprendizado. Você aprende o valor da conquista. Por isso sou convidado para esse tipo de evento.” A conversa com os jovens hoje deve girar em torno de legado, mas não financeiro, como aconteceu com gerações anteriores. “Se seu pai fez R$ 2 milhões, você tem que fazer R$ 4 milhões? Hoje não é mais o dinheiro pelo dinheiro. Melhor impactar 4 milhões de pessoas – quanto mais você consegue mudar, maior será seu legado.”
Para Edu, crise não é desculpa. “Não faz sentido demitir um funcionário e mais tarde tomar um champanhe de R$ 5 mil. Se é para fazer corte, todo mundo sofre um pouco mas a última coisa é cortar a cabeça do cara lá na ponta”, afirma. Gerenciamento de crises é uma das especialidades do jovem empreendedor social. “Tenho autoridade para falar. Saí do nada e consegui me fazer aos poucos, não guardo mágoa da pobreza. É preciso olhar a crise nos olhos, não ter medo, ficar reclamando ou abaixar a cabeça”, conta.