Crédito mais caro e menos acessível, economia em queda, maior risco de desemprego e endividamento das famílias. Esse é o cenário traçado em momento de aumento da taxa básica de juros, a Selic. Mas, o aumento dos juros é considerado um “mal necessário” por economistas e pelo Banco Central (BC) para conter a alta dos preços, que corrói a renda dos trabalhadores.
“Em uma economia que já está em retração, subir juros agrava mais esse quadro. Mas é aquela história do mal necessário. Melhor subir juros para poder reduzir a inflação do que não fazer nada e ver o risco subir”, disse diretor da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) Miguel José Ribeiro de Oliveira.
A diretoria do BC tem reiterado que a melhor contribuição da instituição para um novo ciclo de crescimento econômico é trazer a inflação para a meta de 4,5% no final de 2016 e ancorar as expectativas.
A taxa é usada nas negociações de títulos públicos no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve como referência para as demais taxas de juros da economia. Ao reajustá-la para cima, o BC contém o excesso de demanda que pressiona os preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança.
REUNIÃO
Hoje (28) e amanhã (29) será feita a quinta reunião do ano do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, responsável por definir a taxa básica de juros. Atualmente, a Selic está em 13,75% ao ano, após passar por seis altas seguidas de 0,5 ponto percentual.
Para Oliveira, o Copom pode reduzir o ritmo de aumento dos juros para 0,25 ponto percentual na reunião desta semana, mas “não será surpresa” se o comitê optar por manter o aumento de 0,5 ponto percentual. Na avaliação de instituições financeiras consultadas todas as semanas pelo BC, o comitê deve elevar a Selic em 0,5 ponto percentual, esta semana.
Oliveira lembra que o Copom deve avaliar o cenário econômico com dólar mais alto, o que impacta negativamente a inflação. Isso porque os insumos importados ficam mais caros e pressionam ainda mais a inflação. A alta recente do dólar, que ontem (27) fechou vendido a R$ 3,364, é influenciada pelo anúncio do governo de redução da meta de superávit primário, economia para o pagamento de juros da dívida pública. Com a redução da meta para 0,15% do Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas produzidas no país), há risco de o Brasil perder o grau de investimento das agências de classificação de risco. Há ainda fatores externos que influenciam a cotação do dólar, como a desaceleração da economia chinesa.
Nesse cenário, Oliveira orienta os cidadãos a evitar fazer dívidas, principalmente as de longo prazo de pagamento. “Se tiver que fazer um empréstimo, que seja de prazo mais curto, pesquisar e procurar linhas mais baratas como o crédito consignado”, disse. Oliveira acrescentou que a cautela é essencial no atual momento de crise econômica. “O momento agora é ser conservador, ter um controle maior do seu orçamento. Até porque tem um ambiente que pode perder o emprego. A renda já está sendo afetada por um conjunto de fatores, como inflação mais alta, impostos e juros altos.”