A queda de 8,5% na Bolsa de Xangai – a maior baixa diária em oito anos – deu um susto no mercado financeiro mundial ontem. Apesar de ainda ser cedo para saber se o número é apenas uma reação exagerada, economistas avaliam que a manutenção de índices ruins na segunda maior economia do mundo pode afetar os brasileiros. A China é atualmente a maior parceria comercial do Brasil e Xangai é a principal Bolsa do país.
Leia Também
Os chineses são grandes compradores de petróleo, soja, minério de ferro e outras commodities. O Brasil pode ser atingido por redução nas exportações e pela queda ainda maior no preço das commodities. Isso criaria mais um entrave na já combalida economia brasileira. Queda nas exportações representam menos negócios e mais desemprego.
Além da questão mais conjuntural, há o fator câmbio. Em momentos de insegurança, investidores procuram dólares como refúgio, e a procura maior eleva a cotação. O dólar turismo era vendido a até R$ 3,70 ontem no Brasil. O dólar em alta pressiona ainda mais a inflação. E para segurar a inflação, o governo aumenta os juros, o que prejudica empresas e consumidores.
“A Bolsa é um investimento volátil e sujeita a mudanças bruscas. Não podemos encarar ainda como um fato consumado, ainda é cedo para isso, mas se o quadro permanecer o País (Brasil) pode ser afetado”, avalia o Fábio Silva, conselheiro do Conselho Federal de Economia (Confecon).
A situação do mercado foi agravada pelo temor de uma nova redução na meta do crescimento chinês para este ano, que em março passou de 7,5% para 7%. Sobre esse aspecto, o Fábio é otimista. “O governo chinês já mostrou que tem um poder de intervenção na economia com sucesso. A China é o país que mais cresceu no mundo nos últimos 40 anos e tem uma estrutura voltada para o crescimento. Nunca vi a China crescer menos que 6%, então se houver uma redução, vai ser pequena”, analisa.
Já o vice-presidente do Conselho Regional de Economia, Fernando Aquino, destaca a redução nas exportações brasileiras como uma consequência de impacto, a exemplo da exportação do minério de ferro, um dos produtos que o Brasil mais exporta para a China. Com o enfraquecimento da sua economia, a tendência é que o país comprador diminua as importações de produtos brasileiros. “Isso teria um efeito desfavorável para a nossa economia”, resume Aquino.
Ele também exemplifica como o enfraquecimento da moeda nacional pode afetar o consumidor comum. “Se o dólar se valoriza muito, o produtor de carne, por exemplo, vai dar preferência às exportações, e não ao mercado interno. Com menos opções de produtos no mercado interno, o preço final sobe”, exemplifica Fernando Aquino.
TENSÃO
As principais Bolsas da Europa encerraram o pregão de ontem em forte baixa, pressionadas exatamente pelo recuo acentuado dos mercados acionários da China. O índice pan-europeu Stoxx 600 caiu 2,21%, para 385,91 pontos.
A queda nas Bolsas chinesas também trouxe de volta as preocupações sobre a desaceleração do crescimento da segunda maior economia do mundo”, disse o estrategista-chefe do banco Reyl, François Savary, que acrescentou que o tombo provocou a aversão ao risco nos mercados globais, afetando fortemente as ações na Europa e o mercado de commodities. Também houve queda nos Estados Unidos. Em Wall Street, o Dow Jones fechou em baixa de 0,73%, aos 17.440,59 pontos, o S&P 500 caiu 0,58%, aos 2.067,64 pontos, e o Nasdaq recuou 0,96%, aos 5.039,78 pontos.
Somou-se ao mau humor dos mercados uma série de notícias corporativas ruins.
Em Londres, os papéis da empresa aérea Ryanair caíram 2,20% depois de a empresa manter inalterada a sua previsão de lucro para o ano. O movimento pressionou o índice FTSE-100, que fechou em queda de 1,13%, aos 6.505,13 pontos.
Na Bolsa de Zurique, os papéis do banco UBS caíram 1,62%, apesar de o balanço do segundo trimestre ter vindo melhor do que o esperado por analistas. O índice de referência Swiss Market recuou 1,38%, fechando em 9.194,48 pontos.
A notícia de que a Fiat Chrysler concordou em pagar uma multa de US$ 105 milhões aos reguladores dos EUA por causa de recalls derrubou os papéis da montadora na Bolsa de Milão.