GESTÃO

Ele aumentou o salário dos empregados em 46% e foi criticado

Dan Price abdicou de US$ 1 milhão anuais para a nova política salarial, mas teve gente que se demitiu

Emídia Felipe
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Emídia Felipe
Publicado em 05/08/2015 às 9:49
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Dan Price abdicou de US$ 1 milhão anuais para a nova política salarial, mas teve gente que se demitiu - FOTO: Foto: Divulgação
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Os limites entre igualdade econômica, motivação da equipe e capitalismo estão levando o empreendedor norte-americano Dan Price, 31 anos, a enfrentar um inusitado dilema: depois de abdicar de seu bônus anual de US$ 1 milhão para aumentar o salário médio de seus funcionários em 46%, recebeu críticas de outros integrantes do mercado e viu clientes e mesmo empregados irem embora. Mas como algo tão bem intencionado poderia ter dado certo?

Nos planos originais de Price – dono de uma bem-sucedida administradora de processamento de pagamentos de cartão de crédito –, tudo correria bem, como mostra uma matéria recente do New York Times sobre como ele está lidando com os reveses de sua decisão. A diluição do seu bônus ajudaria a cobrir os US$ 70 mil anuais, que passarão a ser o piso para todos os funcionários até 2017 – vai começar com US$ 50 mil e aumentar até lá. O valor foi baseado em pesquisas que mostram que necessidades atendidas por um salário médio de até US$ 75 mil anuais deixam as pessoas, de fato, mais felizes.

O anúncio foi feito em abril passado, sob forte divulgação da mídia norte-americana, principalmente porque o país está em pleno debate sobre desigualdade salarial. Até então, a média dos salários anuais na Gravity era de US$ 48 mil, o que daria uma remuneração mensal de R$ 12.812 no Brasil, considerando o 13º. Quando Price disse aos empregados o novo valor – que, aqui, seria de R$ 18.684 –, houve comemoração e alegria. 

A atitude chamou a atenção de grandes veículos de comunicação, atraiu elogios e  mais de 500 novos clientes. Mas logo também começou a receber críticas. De concorrentes e clientes, que viram uma postura de linha socialista e política, e mesmo de empregados de níveis mais altos, que se sentiram prejudicados. A executiva financeira Maisey McMaster, questionou Price. Para ela, não era correto equiparar salários de pessoas com habilidades e responsabilidades distintas, o que lhe levou a sugerir alternativas para os aumentos. Mas Price teria rejeitado as propostas e dito que ela era egoísta, o que fez MacMaster deixar a Gravity. 

GESTÃO - Mas como uma atitude de algo tão necessário em todo o mundo, a redução da desigualdade salarial, pode ter tanta rejeição? Do Recife, o consultor Cristiano Andrade acredita que faltou, basicamente, planejamento. E nisso está inclusa uma atitude que estaria alinhada ao comportamento de Price: ouvir os funcionários. Andrade explica que essa etapa ajudaria o empreendedor a medir os cenários possíveis, incluindo os negativos. Isso porque mesmo empregados da Gravity com salários menores se questionam o que eles fizeram para merecer aquilo e acreditam que não têm produzido o bastante para merecer o benefício.

Na visão do consultor, considerando o que tem sido reportado pela mídia dos EUA, Price por ter sido um pouco autoritário e imaturo na condução da mudança.  “Não estamos falando da intenção, que foi louvável e está, inclusive, alinhada com a nova cultura de empresas mais sustentáveis e mais humanizadas”, pondera. “Ele tentou inovar em um parâmetro capitalista, nos Estados Unidos, onde a meritocracia é muito forte. Mas ele não avaliou os impactos e se perdeu um pouco”. 

MUDAR O MUNDO - Em entrevista ao JC por email, Price evitou falar se, ao rever toda a situação atual, teria feito diferente. “A vida é sobre servir aos outros e, no processo, melhorar nossa vida também”, diz.

Ao destacar que a maior meta da Gravity é melhorar a vida de negócios independentes e ajudar as pessoas a alcançarem seus sonhos, o empresário não dá sinais de arrependimento. "Não podemos atingir nada disso (da meta) sem assumir riscos. Sacrifício pessoal ao longo da jornada não é algo do que devemos nos envergonhar. Nos deixa orgulhosos”, declarou.

Sobre o que ele diria a quem quer fazer o mesmo, Price convida: “Eu pediria a qualquer um que sente o mesmo para entrar em contato comigo e, juntos, poderemos fazer do mundo um lugar melhor”. 

Análise: como Dan Price poderia ter feito?

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