O mercado de câmbio no Brasil teve dois momentos distintos nesta quarta-feira (24). Pela manhã, o dólar operou em alta, refletindo postura ainda cautelosa do investidor com incertezas dos cenários interno e externo. À tarde, passou a ceder, até fechar cotado a R$ 3,2240, em baixa de 0,20%.
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Segundo profissionais ouvidos pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado, a expectativa por um possível tom mais "hawkish" (duro) da presidente do Federal Reserve, Janet Yellen, somada à queda dos preços do petróleo e incertezas com o cenário fiscal brasileiro, contribuiu para a pressão de alta do dólar pela manhã.
A votação parcial da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) reforçou a percepção de que o governo enfrenta dificuldades no Congresso, na véspera do julgamento final do processo de impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff. Dois destaques ao texto-base não foram votados, uma vez que o governo não obteve o quórum mínimo de congressistas. A votação dos destaques foi adiada para a próxima sessão do Congresso - ainda sem data marcada.
Apesar do desconforto dos investidores diante das indefinições, um fator relativamente técnico chamou a atenção dos operadores: ao encostar no nível dos R$ 3,25, o dólar passou a atrair ordens de venda, primeiro por parte de exportadores, no mercado à vista, e posteriormente, por tesourarias bancárias, no mercado futuro.
Desde a última quinta-feira (18) o mercado vem trabalhando com um intervalo informal entre R$ 3,13 e R$ 3,24 para o dólar à vista. Isso porque o Banco Central elevou a oferta de contatos de swap cambial quando a cotação ameaçava cair abaixo de R$ 3,13 e reduziu a oferta quando a divisa encostou nos R$ 3,24.
"O mercado respeitou o Banco Central, que sinalizou claramente um intervalo de flutuação entre R$ 3,13 e R$ 3,24", disse Ricardo Gomes da Silva, diretor da Correparti Corretora. Segundo ele, a expectativa de que o BC pudesse de alguma maneira voltar a atuar com maior firmeza no câmbio acabou por deflagrar ordens de venda por parte de exportadores. As tesourarias teriam vindo em seguida, reduzindo posições compradas.
O diretor da consultoria Wagner Investimentos, José Faria Júnior, apontou que o dólar entrou em um território "favorável para venda" quando se aproximou dos R$ 3,25. "É um patamar que incentiva a venda", afirmou o especialista.