LISBOA - Por fora quase tudo parece igual. Mas é quando o passageiro embarca no novo Airbus330-900neo que percebe quanta diferença há em relação ao modelo anterior: o A330, atualmente utilizado pela portuguesa TAP na rota Recife-Lisboa. Luzes de LED com variação de cores criam ambientes distintos para cada etapa do voo nessa cabine remodelada, chamada de Airspace. Uma classe econômica premium foi criada, com poltronas cerca de cinco centímetros mais largas e até dois graus extras de reclino; na econômica standard, também há um pouco mais de espaço para as pernas; e na executiva, as cadeiras full-flat, que se transformam mesmo em cama, são o diferencial. Já os compartimentos de bagagem ficaram 66% maiores e uma tecnologia de redução de ruído proporciona uma viagem bem mais silenciosa. Para quem busca entretenimento, as telas touch screen ganharam polegadas extras, que permitem assistir filmes, seriados e notícias, entre outros conteúdos, com mais conforto. Se a ideia é trabalhar ou não perder o contato com o mundo lá fora, wi-fi liberado e ligação para cabos USB em todos os assentos garantem a conexão.
A convite da TAP, primeira companhia do mundo que irá operar com o A330neo, o JC embarcou na madrugada da última quinta-feira (21) no primeiro voo intercontinental de testes do avião com um grupo de imprensa a bordo. O voo partiu do Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, em direção a Lisboa, num trajeto que durou nove horas.
Dentro do avião, um grupo de técnicos da francesa Airbus e da TAP se revezavam numa espécie de mesa de operações, onde faziam medições em tempo real e avaliações técnicas de cada processo relativo ao voo. Até cumprir as 150 horas-testes necessárias para obter as certificações exigidas para voar comercialmente, o avião rodará pelos cinco continentes. No mesmo dia 21, a aeronave voltou de Lisboa para São Paulo, de onde voou para o Recife e da capital pernambucana para Miami, iniciando o périplo global.
A aeronave, apesar de não representar uma revolução no setor, traz avanços significativos em comodidade e sustentabilidade. “O A330neo proporciona economia de combustível de 14% por cadeira do avião e emite menos poluentes”, ressalta o gerente de vendas da TAP no Brasil, Luis Quaggio, destacando a eficiência dos novos motores da aeronave.
O avião tem capacidade para 300 pessoas, sendo 34 na classe executiva e 168 na econômica, além de 98 na nova categoria intermediária. “Vamos inaugurar um conceito de econômica superior, que a TAP ainda não tinha, prezando pela experiência do passageiro e as suas necessidades”, diz o diretor de Inflight Service da TAP, Paulo Barbosa. Os custos desse assento premium para o consumidor final ainda não foram definidos, mas é possível que fiquem entre US$ 40 e US$ 50 mais caros que o da econômica tradicional ao menos no lançamento.
Nem a capital pernambucana nem outras do Nordeste devem contar tão cedo, no entanto, com as maravilhas do badalado avião. O A330neo tem estreia prevista para o público em outubro, mas deve ser utilizado inicialmente na rota São Paulo-Lisboa, principal mercado da TAP no Brasil. O Recife, com dez frequências semanais, está em terceiro, depois do Rio. “Esta é só a primeira aeronave de uma encomenda de outras 71 feitas pela TAP à Airbus com entrega até 2025, entre elas 14 A330neo, das quais outras seis devem chegar ainda em 2019”, conta Quaggio.
Para o CEO da TAP, Antonolado Neves, “esta passagem por Lisboa e pelo Brasil do novo A330neo materializa mais um marco importante no plano de transformar a empresa na companhia com uma das frotas mais modernas do mundo”.
NORDESTE
Enquanto as A330neo não aterrissam por aqui, outra novidade deve cruzar os céus nordestinos: o A321LR (Long range, ou longo alcance), com capacidade para 158 passageiros na classe econômica e 16 na executiva, também equipado com cabine Airspace, mas um só corredor, com três poltronas de cada lado. Dois aviões do tipo estão previstos para serem integrados à frota da TAP ainda em 2018. “A ideia é que o A321LR opere no Nordeste na baixa temporada. Na alta, usaríamos os atuais A330, que passaram por retrofit, e no futuro, a depender da demanda, os A330neo”, explica Quaggio. “A vantagem neste caso é poder aumentar o número de frequências. Imagine, por exemplo, ter voo saindo do Recife de manhã e à tarde? Já em Natal, que tem apenas quatro voos, queremos ter frequências diárias”, completa o executivo, ponderando que a empresa ainda não bateu o martelo sobre essas possibilidades.
Outro projeto previsto para a Região, este já para o segundo semestre, é a implantação do programa de stopover para voos com conexões no Recife, em Fortaleza e em Salvador. A iniciativa já existe em Portugal para as cidades de Lisboa e do Porto e permite uma parada de até cinco dias em dos destinos sem custo adicional, além de agregar ofertas especiais, como descontos em hotéis, e experiências, como receber uma garrafa de vinho grátis durante um jantar.
De acordo com Quaggio, o programa deve ser lançado em conjunto com a Azul, mas ainda está em negociação para definição de hotéis e outros estabelecimentos parceiros.
A Azul informou, por meio da sua assessoria de comunicação, que "até o momento esse stopover ainda não é permitido em nossas regras tarfárias".
CRESCIMENTO
Apesar do cenário de instabilidade no Brasil, onde opera 82 voos por semana em 10 cidades, a TAP espera crescer 10% em 2018 ante os US$ 700 milhões faturados em 2017. No primeiro semestre, a alta registrada é de 18%. “Ocorre que tivemos a greve dos caminhoneiros, que afetou a economia como um todo, além do câmbio desfavorável aos brasileiros e a instabilidade política com as eleições. Tudo isso faz o consumidor se retrair”, analisa Luis Quaggio, revelando que a companhia driblou a falta de combustíveis durante a paralisação, fazendo paradas alternativas para reabastecer. No caso do voo Recife-Lisboa, a escala foi na Ilha do Sal, em Cabo Verde.
Fora do Brasil, a TAP direciona seus esforços também para os Estados Unidos, para onde deve levar parte das 71 novas aeronaves encomendadas à Airbus e criar pelo menos oito novas rotas, incluindo as cidades de Washigton e Chicago. Hoje, a empresa voa para Nova York, Miami e Boston.
