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Músicos e empreendedores

Desde a virada do século, o mercado musical já não é mais o mesmo

Raissa Ebrahim
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Raissa Ebrahim
Publicado em 19/08/2012 às 5:24
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Gravadoras em crise, queda na venda de CDs, download grátis na internet, tecnologia MP3. Desde a virada do século, o mercado musical já não é mais o mesmo. Sobreviver de música hoje vai muito além de unir pessoas talentosas em torno de uma banda.

De olho no novo cenário de tecnologia, cultura e comunicação que surge no Estado, alguns profissionais têm conseguido se reinventar sem deixar de fazer o que gostam.

Encabeçado pelo trio China, Homero Basílio e Chiquinho Moreira, o estúdio de gravação Das Caverna tem, nos últimos três anos dos seis anos de existência, multiplicado seus braços de atuação. As novas iniciativas vão desde o desenvolvimento de um selo, o Joinha Records, até a criação de uma editora musical, ainda em fase de finalização com a Som Livre, que cuidará das obras dos artistas do selo.



“Perceba a mudança de paradigma. Um músico passa a ter a possibilidade de lidar com outros músicos na gestão da carreira. É um cenário bem diferente do que tínhamos antigamente, quando se dependia de empresários de grandes gravadoras. Hoje tudo é possível, assim como é possível proteger o artista”, argumenta o músico Chiquinho, da Mombojó, uma das primeiras bandas locais a disponibilizar conteúdo livre na web.

Os meninos tornaram-se recentemente representantes locais do One RPM (www.onerpm), uma plataforma de distribuição, compartilhamento e solução global de música para artistas e gravadoras. A eles, caberá uma fatia de 30% de tudo que tiver Pernambuco como porta de saída. “Nossa intenção é abrir a cabeça para pensar novos projetos, que dialoguem, por exemplo, com a questão da mobilidade. Acreditamos que é vantagem pagar para ter um conteúdo organizado”, defende Homero, também integrante da Orquestra Sinfônica do Recife. “Nosso objetivo também é se desvincular um pouco dos editais de fomento, investir na iniciativa privada, na nossa ‘fabriqueta de ideias’, no bairro de Casa Amarela”. Tudo isso sem precisar competir com ninguém. “Nossa aposta é na parceria”, diz o músico e VJ China.

Desde 2009, eles possuem o Home-studio Móvel Das Caverna, que circula pelos festivais de música fomentando e gravando parcerias. “Os interessados vão lá tocam, a gente grava e manda o resultado por e-mail”, explicam. O projeto já recebeu patrocínio da Trident, Petrobras, Conexão Vivo, Abril pro Rock, Coquetel Molotov. Outro exemplo é a produtora de áudio multidisciplinar Medula, surgida há um ano e meio em Boa Viagem, no intuito de passear pelo meio publicitário, tecnológico e musical. Na prática, eles fazem a ponte entre músicos e agências, produtores de games e cinema. “No Sudeste, essa alternativa de renda já está em fase de amadurecimento. Por aqui, ainda rola pouca coisa. Mas temos nichos fortes a serem cavados”, afirma o trio Rafael Borges, Vina Lima e Dui Aguiar.

Os dois primeiros são músicos com especialização em áudio e acústica e contam com a expertise de um publicitário e designer. “Tudo é uma questão de olhar o cenário de forma diferenciada, enxergar além do mercado já obsoleto, sem precisar deixa de ser músico e ter sua arte diminuída por isso”, reforça Borges. O último trabalho que fecharam foi uma trilha para um jogo social que envolve sons de rangido de cemitério, árvores, passos, tudo criado do zero. O recifense Daniel Sultanum é prova de como as coisas funcionam no Sudeste. Passou uma temporada em São Paulo para estudar e terminou encontrando boas oportunidades de emprego compondo trilhas. “O mercado lá é bem mais aberto. Eu indico o investimento e a pesquisa para todo mundo que compõe. É fácil, não requer qualificação além da que já se tem como músico”, incentiva.

Segundo os meninos, dá para tirar entre R$ 800 e R$ 1 mil por uma trilha curta, de 30 segundos. Para games, o cenário fica ainda mais interessante: pode ir de R$ 3 mil a R$ 30 mil, a depender das variáveis, que podem envolver cenários complexos e realização de eventos, requisito de ação para jogos.

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