Sustentabilidade

Novas vias em Suape respeitam a mata

Rodovias TDR Norte e TDR Sul cortam o complexo e fazem parte de malha de 43 quilômetros

Leonardo Spinelli
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Leonardo Spinelli
Publicado em 25/08/2013 às 16:43
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As rodovias TDR Norte e TDR Sul ainda possuem trechos das obras de duplicação. Cortam o complexo de Suape, compondo o conjunto de estradas conhecidas como Via Expressa, e revelam de um lado e de outro as inúmeras indústrias em construção e já em operação. É impressionante a paisagem de obras e homens trabalhando. Todas muito importantes para o momento econômico de Pernambuco e com grande poder de multiplicação de riqueza. Estudo da Agência Condepe/Fidem mostra que apenas a Refinaria e a Petroquímica Suape aumentarão em R$ 32 bilhões a demanda por produtos e serviços no Estado com suas operações.

As vias que margeiam essas indústrias fazem parte de uma malha de mais de 43 quilômetros de estradas que estão em implantação, já duplicadas ou recuperadas. Desde 2009, Suape vem investindo R$ 431 milhões. No total, o conjunto de rodovias vai ligar a saída de Jaboatão dos Guararapes, nas imediações do Hospital Dom Hélder, a Nossa Senhora Ó, em Ipojuca, passando por dentro de Suape.

Obra importante para o trânsito de toda a região, a Via Expressa foi cercada de cuidados importantes no que se refere aos impactos de supressão ambiental, afirma o vice-presidente de Suape, Caio Ramos, Ele defende que toda supressão de mangue e mata respeita a lei, com fiscalização dos órgãos ambientais e aprovação da Assembleia Legislativa. A lei em questão é a 14.046, aprovada em abril de 2010, mesmo depois de muito barulho dos ambientalistas. Proposta pelo governador Eduardo Campos, a legislação autoriza o desmatamento de 691 hectares de vegetação nativa da localidade, sendo 508 ha de mangue, 17 ha de mata atlântica e 166 ha de restinga. Se o crescimento de Suape foi marcado por 2007, com o início da construção da refinaria, a ampliação do desmatamento também tem sua data: 2010, avalia o professor da Universidade de Pernambuco (UPE), Clemente Coelho Júnior, especialista em manguezais.

“A partir dessa lei começou de fato a se ampliar a supressão, em cima da onda do desenvolvimento econômico do País. É óbvio que vieram grandes empresas e junto com elas necessidades de infraestrutura viária. Foi aí que se iniciou a mudança intensa da paisagem”, diz o professor. Aliado às obras para a bacia portuária de Tatuoca, que hoje já abriga dois estaleiros (EAS e Promar), o professor informa que os trabalhos de aterro e escavação isolaram as bacias hidrográficas litorâneas de três rios que desembocam na região. São eles: o Rio Ipojuca, que vem do sul para o norte e deságua no litoral; o Rio Merepe, litorâneo; e o Rio Massangana, que marca a divisa de Ipojuca com o Cabo, ao norte de Suape. “As obras viárias isolaram o Rio Ipojuca do Tatuoca, que era um complexo estuarino”, diz, salientando que ainda não se sabe a extensão de mangue retirado depois de 2010.

Clemente salienta que muitos dos estudos de impacto não levam em consideração soluções alternativas que poderiam minimizar os estragos. Ele diz que uma das obras que isolaram os dois rios – o primeiro acesso ao Estaleiro Atlântico Sul, hoje desativado – é uma amostra da falta de pesquisas mais consolidadas para evitar desmatamentos desnecessários. A estrada, erguida em solo de mangue, não suportou o trânsito dos caminhões pesados. Ou seja, desmatou-se uma área de mangue que poderia ter sido poupada, caso houvesse estudos melhores ou técnicas mais apuradas de convivência. “Poderiam ter sidos construídos elevados, que são obras mais caras, mas preservam o mangue por não ser preciso aterrá-los.” 

Em um trecho, a força da maré destruiu o antigo acesso. “Se quisessem manter o rio vivo, teria de ser construída a ponte. Colocaram manilhas (tubos que correm por baixo da estrada para permitir o fluxo de água).” A obra mudou o fluxo das marés e diminuiu sua frequência e sua amplitude, diz. “Estudos mostram que alterações de poucos centímetros são suficientes para causar impacto na fauna. A diferença observada em Suape foi de 1,3 metro. O quanto de peixe e caranguejo deixou de ser produzido? Ninguém sabe”, diz.

Em sua defesa, Suape alega que seu território cobre 13,5 mil hectares e que a maior parte dele, 59%, é dedicada às áreas de preservação ecológica. O CPRH, que coordena a parte de supressão, diz que novos projetos foram desenvolvidos desde a lei de 2010, e que hoje será preciso desmatar menos. “De forma geral, o mangue necessário para implantar o cluster naval são os 508 hectares previstos na lei”, salienta o assessor especial do órgão, Assis Lacerda. Ele diz que o complexo estuarino dos rios Massangana, Merepe e Ipojuca serão minimamente atingidos, mas o de Tatuoca está condenado.

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