Para o dono da Imobiliária Âncora, Luciano Novaes – sua empresa tem uma das maiores carteiras de imóveis para alugar da cidade – o proprietário de imóveis que passa mais de 90 dias para conseguir um inquilino está perdendo dinheiro por dois motivos. “Ou o apartamento está em um mau estado de conservação ou o preço pedido para locação está acima do que o mercado está disposto a pagar”, diz. Ele salienta que boa parte dos imóveis que foram construídos durante o boom imobiliário estão sendo entregues agora, aumentando a oferta, enquanto muitos proprietários ainda não percebem que, além disso, a renda das famílias está pressionada pela inflação.
“Vivemos hoje um cenário diferente daquele do boom imobiliário. Hoje temos a pressão inflacionária corroendo a renda, taxa de juros subindo, excesso de oferta e a abundância de financiamento bancário não é a mesma”, comentou. Ele diz que em bairros na área dos Aflitos até Casa Forte os preços de aluguel tendem a não baixar porque são locais onde já não se pode mais construir e são bastante valorizados por quem mora no Recife. Por isso, os preços teimam em não baixar, mesmo sem as condições de mercado favoráveis de antes. “Cidades como Salvador já sentem redução de preços”, diz.
Em Boa Viagem, onde a pressão das empresas em busca de apartamentos para seus funcionários vem diminuindo, já se percebe uma diminuição no preço da locação. Portanto, a renda das famílias nestes locais volta a se tornar importante na formação dos preços. Investidor de imóveis, o engenheiro Luiz Felipe Medeiros diz que imóveis de três quartos, por exemplo, são hoje impensáveis para investimento. “Com um aluguel de R$ 3,5 mil, a renda familiar tem que ser alta”, comenta. Para se ter uma ideia, 70% das famílias pernambucanas ganham mensalmente o valor da locação de um imóvel de três quartos em bom estado no bairro de Boa Viagem, ou seja, até 5 salários (R$ 3.620). Mas, para arcar com essa despesa mensal, a família precisa de uma renda, pelo menos, de 10 salários (R$ 7.240). Neste caso, apenas 4,3% da população tem condições disso. Os números são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2012.
Novaes reclama de que as barbeiragens econômicas do governo e a expectativa de mais aumentos de preços, que hoje são represados pela eleição, “além de uma Copa que não empolga mais ninguém e não deixará legado”, deixam as famílias menos dispostas a pagar mais. A oferta também atrapalha. Um exemplo são os imóveis comerciais, que chegaram a ser alugados por até R$ 70 o metro quadrado e hoje não passam de R$ 45, numa redução de 35% em rentabilidade.