A baixa do leite (como os produtores costumam apelidar a crise) também eliminou empregos na indústria. As demissões vieram junto com a seca e se acentuaram com o desajuste financeiro das empresas. Pelas contas do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Laticínios e Produtos Derivados de Pernambuco (Sintilpe), 60% das vagas fecharam no setor, restando 3 mil trabalhadores no Estado.
Na fábrica da LBR-Lácteos Brasil em Garanhuns, as demissões começaram em 2012, com o número de colaboradores caindo de 230 para os atuais 140. A Nutrir Produtos Lácteos (dona da marca Natural da Vaca), em Gravatá, dispensou 100 dos seus 220 empregados. No período mais crítico da seca, a Betânia (no município da Pedra) reduziu o quadro pela metade, mas voltou a contratar com o arrefecimento a estiagem.
“Estamos preocupados com o futuro da atividade. Desde a privatização da Cilpe (em 1994) não existe uma política que atenda o trabalhador do setor de laticínios e garanta os empregos nos períodos de entressafra. Além disso, a gente vem enfrentando o problema do fechamento de muitas empresas do setor, que inauguram e com pouco tempo já apresentam problemas e demitem”, diz o presidente do Sintilpe, Luiz Alberto Menezes.
Com a indústria sem processar leite há um mês, os colaboradores da LBR estão ociosos. Quando o esteve na fábrica, na semana passada, encontrou um grupo na saída do expediente. Eles contaram que estão trabalhando em sistema de rodízio e utilizando o banco de horas para compensar os dias parados. “O esquema semanal de trabalho é de seis folgas e um dia de expediente”, explica Menezes, funcionário da empresa há 27 anos (desde a época da Cilpe). O sindicalista diz que os salários estão em dia e que as verbas rescisórias foram pagas corretamente.
A insegurança dos trabalhadores da LBR é em rel ao futuro da unidade pernambucana. A indústria recebeu uma proposta de compra da ARC Medical Logística, que se propõe a pagar R$ 50 milhões pela unidade, mas o acordo aguarda aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e homologação da Justiça. “Numa audiência de credores que participamos em São Paulo no mês passado, os trabalhadores conseguiram garantia de estabilidade de um ano no emprego após a venda para a ACR”, destaca Menezes. Na proposta de compra, a ACR se isenta de assumir encargos e obrigações trabalhistas, exigindo que a LBR demita e pague aos colaboradores antes de recontratá-los.
Quando entrou em processo de recuperação judicial, em 2012, a Nutrir acumulava uma dívida trabalhista de R$ 1 milhão, mas o valor foi quitado em 12 meses.