ÁGUA

Mau momento para teste da transposição

Governo federal planeja retirar água do lago de Itaparica para testar equipamento. Reservatório está apenas 17% da capacidade

Do JC Online
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Publicado em 11/10/2014 às 9:00
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Governo federal planeja retirar água do lago de Itaparica para testar equipamento. Reservatório está apenas 17% da capacidade - FOTO: Ricardo B. Labastier/ JC Imagem
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O governo federal decidiu fazer um teste nas bombas localizadas no início do Eixo Leste da transposição de águas do Rio São Francisco utilizando a água do lago de Itaparica, um dos reservatórios que acumulam água a ser usada na geração de energia pela Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf). O teste será feito na próxima segunda-feira, numa época em que os pequenos agricultores de Petrolândia estão tendo que fazer um rodízio (um dia com e outro sem) para irrigar as suas culturas por causa do baixo nível de armazenamento de Itaparica, que está com 17,16% de sua capacidade.

“Escutamos falar que as bombas vão ficar ligadas por 20 dias. Isso vai diminuir em 1% o volume de água de Itaparica. Não dá para fazer esse teste depois?”, questiona o prefeito de Petrolândia, Lourival Simões (PR). Ele acusa a administração petista de estar “usando” esse teste para mostrar que as obras da transposição estão avançando. “Não duvido que as imagens do teste sejam usadas no guia eleitoral do PT”, diz. O PR apoia o candidato do PSDB, Aécio Neves, à presidência da República.

A transposição do Rio São Francisco é a principal obra hídrica realizada no Nordeste durante a administração do PT (governos Lula e Dilma Rousseff). “Essas bombas vão levar a água para lugar nenhum”, critica o prefeito, referindo-se ao açude que vai receber a água. Segundo ele, o reservatório não tem conexões para distribuir o líquido. Resultado: o destino da água será evaporar.

A transposição é formada por dois grandes canais (o Eixo Norte e o Eixo Leste) que vão levar a água a municípios de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. As obras se arrastam desde 2007.

Lourival afirma que já entrou em contato com o Ministério da Integração Nacional, o Operador Nacional do Sistema Interligado (ONS) e a Chesf, com a finalidade de conseguir aumentar a vazão do Rio São Francisco e, desse modo, melhorar o volume da água no reservatório de Itaparica. O Ministério da Integração é responsável pelas obras da transposição, o ONS determina a vazão do rio e a Chesf é a “dona” do reservatório. Uma parte do reservatório fica em Petrolândia. Pelo menos mais nove cidades do Sertão do São Francisco retiram a água do “Velho Chico” para o consumo humano.

“A atual vazão do São Francisco tem a ver com a segurança hídrica e não esvaziar Sobradinho. Quem determina a vazão é o ONS”, explica o diretor de Operações da Chesf, Mozart Arnaud. Anteontem, a estatal gerou 3.389 megawatts (MW) médios. Quando os reservatórios estão cheios, a empresa produz, em média, 6 mil MW médios. Sem citar exatamente o quanto de água será retirado do reservatório devido ao teste das bombas, Mozart argumenta que a quantidade de água será “desprezível”.


A estiagem que ocorre no Sudeste do País tem alterado a quantidade de água nos reservatórios das hidrelétricas do Nordeste desde 2012. A assessoria de imprensa do Ministério da Integração Nacional não respondeu aos questionamentos da reportagem, enquanto a assessoria do ONS informou que somente o diretor geral do órgão, Hermes Chipp, fala com a imprensa, mas não podia atender a reportagem.

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