O camarão e o abacaxi foram os alimentos que puxaram a inflação do mês de outubro, na Região Metropolitana do Recife, segundo dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgados na última sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Enquanto o crustáceo sofreu reajuste de 9,18%, a fruta subiu 7,3% – reajustes que o consumidor não demora a sentir no bolso na hora das compras. As justificativas para os aumentos são a falta de incentivo ao setor e o custo de produção, respectivamente.
De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC), Itamar Rocha, o setor sofre com a falta de incentivo do governo. “Esse mercado está na mão dos micro e pequenos empresários, que não recebem apoio. Sem incentivo, não temos condição de financiar o custo operacional, que é muito caro, e, consequentemente, de produzir”, afirma. “E olhe que estamos dando preferência ao mercado interno, porque o mercado internacional está muito competitivo”, diz. Segundo ele, em 2003, foram exportadas 58,4 mil toneladas de camarão para países como Espanha e França, o equivalente a US$ 226 mi. Em 2013, o número caiu para 612 toneladas, quantia que rendeu US$ 4,1 mi. “A expectativa é fechar 2014 com a metade do que foi exportado no ano passado”, lamenta.
A produção desaquecida do camarão é sentida na pele pelos comerciantes e consumidores. Vanda Gomes, vendedora de camarão há mais de 30 anos no Mercado de São José, no Centro do Recife, diz que o preço do produto aumentou R$ 1 em um mês. “Os fornecedores dizem que estão sem o produto, aí eles precisam subir o preço para dar conta. E se o preço aumenta para mim, acaba chegando no cliente”, diz Vanda, que vende o quilo do camarão de água doce por R$ 26.
No caso do abacaxi, o produto não sofre com a produção, uma vez que está no período de safra (agosto a janeiro). O fator responsável pela alto no preço é o custo de produção, segundo o diretor operacional do Centro de Abastecimento e Logística de Pernambuco (Ceasa-PE), Paulo de Tarso. “Acreditamos que a alta decorre de custos como mão de obra, fertilizante e defensivos agrícolas, que são os agrotóxicos utilizados para combater pragas que podem acabar com a produção. Tudo isso tem como consequência o aumento do preço”, avalia. “O preço médio histórico da unidade é R$ 1,35, mas hoje varia em torno de R$ 2. Ou seja, está bem acima”, destaca.
Acreditamos que a alta (do abacaxi) decorre de custos como mão de obra, fertilizante e defensivos agrícolas
diz o diretor operacional do Centro de Abastecimento e Logística de Pernambuco (Ceasa-PE), Paulo de Tarso
No Mercado de São José, o JC conversou com alguns vendedores da fruta e encontraram a unidade do produto sendo vendida por R$ 4. “Estamos com esse preço há uns cinco meses. E a saída está muito boa”, diz o comerciante Marcos Moura, que compra o produto no Ceasa-PE e afirmou ter vendido mais de 50 unidades somente ontem.
Segundo Paulo de Tarso, a expectativa é de que o preço continue elevado por causa das festas de fim de ano, época de grande consumo.
O abacaxi que chega ao Ceasa-PE é oriundo das cidades pernambucanas de Itambé e de Pombos, mas, predominantemente, das paraibanas Alhandra, Araçagi, Pedras de Fogo e Santa Rita.