EDUCAÇÃO, O FUTURO

A educação na telinha

Quase 16% dos alunos matriculados nas graduações fazem o curso via educação a distância

Do JC Online
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Publicado em 16/11/2014 às 9:00
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Quase 16% dos alunos matriculados nas graduações fazem o curso via educação a distância - FOTO: Ricardo Labastier/ JC Imagem
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Júlio e Bruno fazem parte de um grupo de estudantes que não teria condições de frequentar uma faculdade presencialmente. Eles transformaram as telinhas dos computadores e notebooks de suas residências em sala de aula. No ano passado, esse grupo alcançou 1,1 milhão de brasileiros, representando quase 16% de todos os matriculados numa graduação no País. Eles estão construindo as peças de um novo caminho que pode resultar numa pequena revolução formada pelas oportunidades que nascem a partir de um diploma do terceiro grau.

Aos 41 anos, o assistente administrativo Júlio César da Silva foi a primeira pessoa a concluir uma graduação na sua família. A mãe dele estudou até a quarta série e o pai nunca teve a oportunidade de ir a escola. Em julho último, se formou em serviço social depois de quatro anos fazendo um curso de educação a distância (EAD). O ensino médio foi concluído em 1996, um ano depois de ter começado a trabalhar. “Na época, nem tentei uma graduação presencial. Não teria condições de cursar a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) porque tinha que trabalhar. Na Unicap, não dava por causa do preço (da mensalidade)”, conta.

Júlio percebeu, em 2010, que o curso via EAD era uma possibilidade para obter o diploma de uma graduação porque a mensalidade (em torno de R$ 290) podia ser bancada pelo salário e a flexibilidade do horário permitiria continuar trabalhando no mesmo ritmo. “Não foi fácil fazer o curso, que é puxado. Concluir a graduação foi um exemplo que dei aos meus filhos. A educação é o caminho. Abre as portas”, diz Júlio, emocionado ao falar dessa conquista.

Atualmente, ele faz uma pós-graduação também a distância na Universidade do Norte do Paraná (Unopar), que tem um polo de EAD no Recife. Júlio planeja se inscrever em um concurso público para concorrer a uma vaga de serviço social na Secretaria Estadual de Saúde. “O salário é maior. O meu trabalho é por contrato, presto serviço a uma empresa contratada pela Prefeitura (do Recife). Com o concurso, poderei ter estabilidade”.

Para o estudante Bruno Viana, a dificuldade de locomoção foi o que mais pesou na escolha de uma graduação via EAD. Ele decidiu voltar a estudar serviço social depois de um acidente que o deixou tetraplégico. “Não tinha carro. As calçadas eram e são o maior problema no meu deslocamento”, queixa-se, argumentando que só consegue andar com a cadeira de rodas pelo meio da rua devido ao mau estado das calçadas – sem rampas e esburacadas – no bairro onde mora, no Varadouro, em Olinda. O atual curso é a segunda graduação de Bruno, que tem 35 anos, e faz as aulas em casa.

Mas qual a relação da conclusão de um curso universitário com a economia? “No Brasil, um ano de escolaridade impacta, em média, em 15% na renda de uma pessoa. Por outro lado, se ela tem apenas o ensino fundamental e faz um ano a mais de escolaridade esse impacto é de apenas 6%. Entretanto, se tem o ensino superior completo e faz uma pós, um MBA, por exemplo, o impacto já é de 47%”, afirma o ex-reitor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e diretor do Instituto Ayrton Senna, Mozart Neves Ramos.

O número de alunos matriculados nas graduações de EAD no Brasil cresceu 23 vezes na última década (ver quadro). As dificuldades de mobilidade das grandes cidades, a flexibilidade de horário e a melhoria do acesso à internet são os grandes responsáveis por esse crescimento aliado ao fato de que as universidades privadas enxergaram nessa modalidade um grande nicho de mercado. As mensalidades são mais baratas do que as graduações presenciais e os cursos pagos por uma quantidade maior de alunos. Os cursos de bacharelado e licenciatura via EAD têm, em média, 1.860 alunos. Outro fato que mostra o quanto a graduação via EAD é inclusiva: 56% dos alunos são maduros, têm mais de 30 anos e muitas vezes não tiveram acesso ao primeiro curso universitário na faixa etária adequada (entre os 18 e 24 anos).

“Registramos um crescimento de 15% nas matrículas feitas nos cursos de EAD superior em Pernambuco em 2013. Nos nove primeiros meses deste ano, esse aumento foi de 30%”, cita o coordenador do polo EAD em Pernambuco do Grupo Estácio de Sá, Márcio Campos. Na instituição, são 3,7 mil alunos matriculados em cursos de EAD no Estado. Desse total, 40% estão no interior. “E para 2015, a nossa meta é crescer principalmente nas cidades a partir de 5 mil habitantes, como Cumaru, Carpina, Limoeiro. Os alunos fazem as aulas lá e vêm ao Recife fazer a prova uma vez por semestre”, explica.

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