Apesar de o Brasil ter uma das maiores participações de mercado do mundo quando o assunto é celular, o serviço ainda é considerado de baixa qualidade e caro. “Em vez de apenas nos surpreendermos com todos esses números, é importante entendermos que é preciso não só criticar, como trabalhar as dificuldades apontadas, e isso inclui diminuir preço e aumentar qualidade, para que um item que já se provou ser vital para a família brasileira passe a ter um menor peso no orçamento”, argumenta o professor Gilberto Braga, do Ibmec-RJ.
A União Internacional das Telecomunicações (UIT) divulgou que o Brasil tem a cesta de serviços de telefonia móvel mais cara do mundo. As operadoras e a Anatel, no entanto, contestam. O relatório anual de UIT mostra que a cesta custa US$ 48,32, quase R$ 130, considerando tarifas de planos pré-pagos, 30 ligações, entre fixo e celular, e 100 mensagens de texto por mês. O valor, segundo a UIT, está bem acima da média mundial, de US$ 16,9, ou cerca de R$ 45.
As operadoras, através do Sinditelebrasil, discordam do resultado e avaliam que a divulgação da UIT “não representa a realidade”, pois “celular no Brasil é barato”. O argumento é que a União não utiliza nos cálculos as tarifas promocionais, que barateiam o mercado nacional, segundo as empresas. Pelos cálculos da Anatel, o valor efetivamente pago pelo minuto no País é US$ 0,07 ou aproximadamente R$ 0,18, ficando atrás apenas da China, Índia e Rússia.
O documento divulgado pela UIT mostra que o custo de uma ligação de celular no Brasil é superior a todos os países europeus e consome uma proporção maior da renda que em países como Cuba, Paquistão, Argélia ou Guiné Equatorial. De 166 países avaliados, apenas 47 têm um custo superior na ligação ao que o brasileiro paga no celular, entre eles Etiópia, Albânia, Ruanda e Madagascar. Os locais onde a ligação tem o menor custo são Macau, Hong Kong e Dinamarca.
O que pesa também na conta de celular no Brasil – e é ponto passivo, independentemente da pesquisa – é a carga tributária. O Sinditelebrasil calcula que o País tem a maior carga tributária entre 18 países pesquisados. Os tributos aqui representam 43% da receita líquida, quase o dobro do segundo colocado, que é a Argentina (26%) e 14 vezes maior que os da China (3%).
Os números são reveladores, mas ainda falta muito para o Brasil atingir uma massificação da mobilidade. A ampliação e a melhoria do serviço passam pela questão dos investimentos em infraestrutura e pela atualização da legislação. Na visão das empresas, um dos empecilhos é o licenciamento de antenas, que não tem acompanhado o mesmo ritmo de expansão do mercado, seja em função de legislações desatualizadas ou pela burocracia na liberação das instalações. Ao todo, são mais de 290 leis no Brasil sobre o setor.