DESEMPREGO

Envolvidas na Lava Jato deixam um rastro de desemprego em Pernambuco

O Estaleiro Atlântico Sul rompe contrato com a Sete Brasil que compraria as sondas usadas no pré-sal

Do JC Online
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Publicado em 24/02/2015 às 9:00
Edmar Mello/ JC Imagem
O Estaleiro Atlântico Sul rompe contrato com a Sete Brasil que compraria as sondas usadas no pré-sal - FOTO: Edmar Mello/ JC Imagem
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O esquema de corrupção descoberto na Petrobras e nas empresas envolvidas na Operação Lava Jato está deixando um rastro de desemprego em Pernambuco que vai do Litoral ao Sertão. A partir de hoje, pelo menos 250 trabalhadores não terão mais a linha de montagem das sondas do pré-sal para trabalhar devido à suspensão do contrato entre o Estaleiro Atlântico Sul (EAS) – onde as sondas estavam sendo construídas – e a empresa Sete Brasil, segundo informações do presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Pernambuco, Henrique Gomes. A Sete Brasil foi criada pela Petrobras para administrar as compras de sondas a serem usadas no pré-sal. Instalado em Suape, o EAS faria sete sondas para a Sete Brasil num contrato no valor de US$ 6 bilhões (cerca de R$ 17,4 bilhões). A construtora Mendes Júnior, também envolvida na Lava Jato, demitiu cerca de 2,5 mil trabalhadores nas obras da Transposição do Rio São Francisco em Salgueiro, a 518 km do Recife (ver vinculada).

“Não sabemos o que vai acontecer com esses 250 funcionários do estaleiro, mas isso vai representar mais desemprego”, conta Henrique Gomes. O EAS vem demitindo desde meados do ano passado. “Entre agosto e setembro, foram demitidos 500 trabalhadores do EAS. Nos dois primeiros meses deste ano, foram mais 200, sendo que 92 assinaram a rescisão do contrato de trabalho na última quinta-feira”, explica Henrique.
Muitas das empreiteiras envolvidas na Operação Lava Jato, que investiga um grande esquema de corrupção envolvendo empresas e políticos, estão sem receber da Petrobras e com dificuldades para obter crédito junto aos bancos. Essas construtoras maiores contrataram outras empresas locais que também estão demitindo e sem receber pelos serviços prestados. Entre novembro e fevereiro últimos, cinco empresas de pequeno e porte médio instaladas no Estado demitiram 570 funcionários devido à crise das fornecedoras da Petrobras (incluindo as que trabalhavam para Refinaria Abreu e Lima e o EAS), num levantamento rápido feito pelo Sindicato da Indústria Metal Mecânica de Pernambuco (Simmepe).

O rompimento do contrato do EAS com a Sete Brasil foi pedido porque a Sete tinha parado de pagar ao EAS, de acordo com informações do estaleiro instalado em Pernambuco. A perda de suspensão do contrato ocorreu na última sexta-feira. Ainda de acordo com o EAS, o término desse contrato não vai impactar os demais projetos “que continuam com suas operações regulares”.

A assessoria de imprensa da Sete divulgou uma nota afirmando que a situação atual da empresa está ocorrendo porque ela ainda não assinou o contrato de financiamento de longo prazo com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovado em 2013 em decorrência do que foi apontado pela Operação Lava Jato. A Sete informa que não há suporte legal para a suspensão do contrato com o EAS. A reportagem do JC tentou falar com os porta-vozes de ambas empresas, mas eles não atenderam à reportagem.

“Esse rompimento do contrato da Sete Brasil com o EAS vai trazer mais desemprego no setor. Já estão ocorrendo cortes em todos os setores do EAS, incluindo diretores e gerentes, fator típico de quem está diminuindo a produção”, conta o presidente do Simmepe, Alexandre Valença. Ele argumenta que o setor teve os seus custos elevados com as exigências da Petrobras (tanto para a Refinaria Abreu e Lima quanto para o EAS) porque as empresas passaram a ter uma mão de obra com uma melhor qualificação e mais cara.

“Agora, os trabalhadores e os fornecedores dessas companhias (que são as empresas locais) ficaram com o ônus. As obras de infraestrutura estão todas paradas e a indústria tradicional não está fazendo encomendas”, conta Valença. Ele se refere às obras como a Transposição e a Transnordestina. “Noventa por cento das encomendas do setor naval estão relacionadas à Petrobras. Essa crise é um desastre para o setor metal-mecânico do Estado”, conclui.

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