“O ser humano se reconhece nas coisas do mundo em que vive e isso acontece de maneira tão intensa que chega ao momento da exaustão. Então é mais fácil se livrar do objeto do que de si mesmo. Por isso o ser humano busca tanto a renovação”. A análise do professor do departamento de psicologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Sylvio Ferreira é profunda, mas resume bem o sentimento de muitas pessoas num mundo cada vez mais conectado e imediato. Cansados dessa disponibilidade frenética, muitos jovens estão fazendo o caminho inverso dessas inovações. Como numa “detox digital”, desligar-se de redes sociais e equipamentos eletrônico pode ser uma nova tendência.
Adepta dessa nova postura há mais de um ano, a jornalista Sthefany Passos, 22 anos, já não tem WhatsApp. “Começaram a surgir muitos grupos e você nunca sabe a entonação que as pessoas estão falando. Então chegou um momento em que estava mais atrapalhando do que ajudando”, conta. Apesar de ser da área de comunicação e fazer várias viagens a trabalho, ela garante que a exclusão do aplicativo não prejudica sua vida profissional.
“No começo foi meio problemático porque eu acho que as pessoas agora têm uma certa preguiça de falar das tantas outras formas possíveis”, acredita. Para ela, contato através de uma ligação ou até mesmo o quase esquecido SMS acaba sendo mais rápidos e objetivos, além de não atrapalharem sua concentração. Agora ela nem pensa em retomar o uso do aplicativo.
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Para o professor Sylvio Ferreira, o apego das pessoas a esses “objetos do mundo” é natural, mas no caso das tecnologias o esgotamento acaba acontecendo mais rapidamente devido à forma frenética com que estabelecemos relações. “Não é todo mundo que consegue estabelecer um limite com seu objeto de vício. E, quando ocorre esse esgotamento, a pessoa pode sofrer porque quer largar, mas não consegue”, avalia.
Com menos tempo livre do último “vício”, o concurseiro Felipe Galvão, 27 anos, não precisou sofrer muito para deixar o Facebook. “Adoro descobrir redes sociais. Amava o Orkut e quando estava cansado fui para o Facebook. Mas aí saturei, excluí sem dó nem piedade. Já vinha perdendo o interesse faz muito tempo pelos conteúdos que estavam aparecendo”, critica Felipe. “Ficavam aparecendo sempre os mesmos links. Isso quando não era alguma informação velha que as pessoas jogavam ali e você achava que tinha acabado de acontecer”, reclama.
Além de estar “off” da rede social, recentemente Felipe também deixou de usar smartphone (e, consequentemente, o WhatsApp). “Quebrou e não quis comprar outro. Fiquei com meu Nokia de lanterninha”, resume. A restrição virou alívio. “Comecei a reparar em outras coisas. Antes eu olhava sempre para baixo, para o celular, agora eu olho para cima. Eu colocava o fone e pronto”, lembra.
Em resposta aos amigos que reclamam desse estilo “detox”, o concurseiro é direto “Quer falar comigo? Ligue para mim!”. E garante que sem tantos aparatos tecnológicos, acaba sobrando mais tempo para estudar e encontrar pessoalmente com os amigos.
Mas, na leitura do professor de psicologia, esse encontro cara-a-cara não é necessariamente melhor que o virtual. “A diferença é que estamos vivenciando a sociedade do espetáculo, onde todo encontro tem que estar acompanhado de uma imagem. Mas a condição do ser humano é estar em contato com o outro”, encerra.