Quem passa pelos principais corredores de trânsito do Grande Recife já notou a proliferação de duas marcas de farmácia que até o ano passado eram desconhecidas do pernambucano: Drogasil e Drogaria São Paulo. São grandes redes nacionais que chegaram com muito dinheiro para investir nos melhores endereços. E também para brigar em pé de igualdade com marcas já consolidadas junto ao público local, como a Pague Menos e Big Ben, também gigantes. Para se ter uma ideia, as grandes redes de farmácias faturaram R$ 32,4 bilhões no ano passado, num crescimento de 12,8% em relação ao ano anterior, segundo a Associação Brasileira das Redes de Farmácias (Abrafarma). Todo esse poderio, no entanto, não é suficiente para desestabilizar as pequenas operações, que continuam bem na batalha pelo cliente.
No Recife, o setor de pequenas farmácias trabalha com uma fatia de 70% do mercado consumidor de remédios, segundo o Sindicato do Comércio Varejistas de Medicamentos (Sincofarma-PE). Na luta de Davi contra Golias, a agilidade das pequenas ainda é sua principal arma. “As grandes redes, até por sua estrutura gigante, têm mais dificuldades e burocracia para renovar seus estoques. Somos mais ágeis”, diz o presidente do Sincofarma, Ozéas Gomes, sócio de uma das mais tradicionais drogarias de bairro do Recife, a Quatro Cantos, nas Graças.
Sócia da Farmácia Sandra, em Boa Viagem, que está no olho do furação das grandes redes, a empresária Sílvia Melo diz não temer as novas concorrentes, apesar de ter perdido algumas vendas. “É lógico que a gente sente, a gente vê as pessoas falando e perde alguns clientes. Mas eles voltam”, assegura. Sua pequena drogaria instalada numa galeria simples, possui um trunfo que as gigantes não têm, afirma. “As grandes são boas em perfumaria e em OTCs, mas não têm o nosso mix de remédios”, diz Sílvia. OTC é um termo em inglês que significa “sobre o balcão”. Refere-se aos medicamentos que não possuem tarjas e podem ser vendidos sem receita.
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Sílvia diz que não consegue chegar no preço baixo das grandes, “que têm melhores negociações com a indústria farmacêutica”, mas consegue entregar um serviço que as suas concorrentes não alcançam. “Meu foco é medicamento. O cliente, quando chega na farmácia com a lista de remédios, quer encontrá-los todos de uma só vez. Se faltar um, ele vai para outro ponto e, nessa hora, eu ganho.” A maior concorrência, no entanto, aumenta a exigência sobre o negócio. A margem de erro é cada vez menor, avalia. “O dono tem que estar no balcão, pois o cliente é da vizinhança. Também temos de ficar de olho nos estoques, na compra e venda, para não faltar remédio e também não perdê-lo no prazo de validade.”
Dono da farmácia Tradição, também em Boa Viagem, o empresário José Arruda assiste, nos últimos dias, a Drogasil erguer uma nova unidade ao lado de seu tradicional ponto de mais de 50 anos. Ele também diz não temer a concorrência. “Cada um tem de se adaptar ao mercado”, afirma. Seu Arruda lembra, inclusive, que abriu mão de tornar o seu negócio grande, justamente para primar pela eficiência. “Cheguei a ter quatro unidades, inclusive em shoppings, mas desisti porque vi que não dá para controlar de maneira satisfatória os estoques de cada loja. Preferi ficar com uma operação.”
Ele acredita que as concorrentes não seguram os preços mais baixos por longo tempo. “Chegam mais baratos para atrair a clientela, isso é marketing”, opina. Seu Arruda afirma ainda que as negociações das grandes redes junto aos laboratórios não são tão mais vantajosas em relação ao seu negócio, que tem um poder de compra muito menor. “A diferença não é tão absurda. Ao lado dos laboratórios farmacêuticos multinacionais, uma Drogasil é pinto”, compara. Na sua opinião, os descontos que as grandes redes dão nos medicamentos saem mesmo do bolso delas. “Fazem descontos para aparecer, é como se fosse um investimento em propaganda”, avalia.