O soldador cearense Lucilânio Oliveira saiu do Japão, onde trabalhava no setor naval, e chegou ao Recife em março de 2010 para trabalhar numa terceirizada do Estaleiro Atlântico Sul (EAS), em Ipojuca. Desde janeiro último, está desempregado. “Não acreditei que isso ia ocorrer. Diziam que a indústria naval tinha encomendas para os próximos 25 anos”, conta. A retomada do setor naval no Brasil foi impulsionada por uma encomenda de 49 navios feita pela Transpetro, subsidiária da Petrobras, e pelas novas descobertas do pré-sal, que gerou a compra de muitas plataformas de petróleo. A crise no setor já fez cerca de 12 mil trabalhadores perderem o emprego – sendo mais de 1 mil em Pernambuco –, de acordo com informações da Confederação Nacional dos Metalúrgicos.
A corrupção foi uma das responsáveis por essa crise porque várias das empresas envolvidas no petrolão atuam no setor naval e muitas ficaram sem receber da Petrobras. No entanto, isso não foi o que deu mais errado, segundo especialistas do setor. O maior erro, na opinião deles, foi uma série de variáveis ligadas ao planejamento: a queda no preço do barril do petróleo, o aumento do uso do gás de folhelho (xisto) nos Estados Unidos, a alta do câmbio no Brasil (que impacta a dívida da Petrobras e a importação de petróleo e derivados), entre outros. “O governo federal vendeu um sonho que era passível de não se executar, porque existiam muitos fatores que podiam mudar drasticamente esse quadro”, explica o professor adjunto do Departamento de Geologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) José Antonio Barbosa. “O planejamento do pré-sal foi feito com o barril do petróleo a US$ 100. O óleo voltou a ficar barato no mundo e tudo terá que ser redesenhado.”
Antes da crise, a expectativa era de que o pré-sal representasse 52% da produção de petróleo do Brasil até 2018. Atualmente, corresponde a 20%. “A realidade não é tão negra quanto se pinta e o sonho não era tão róseo quanto parecia. Uma parte disso não era razoável e incluiu projetos que não eram rentáveis nem se justificavam, no curto prazo, como a implantação das unidades de refino no Maranhão e no Ceará”, defendo o professor da Coppe/UFRJ Alexandre Szklo. A assessoria de imprensa da Petrobras informa que a estatal e seus parceiros reiteram que o pré-sal é economicamente viável em um cenário de preços abaixo do atual e que os projetos de exploração em águas ultraprofundas são suportados por uma visão de longo prazo.