Crise

Reajuste no orçamento vai deixar vida mais difícil em 2016

Brasileiros vão ser impactados de diferentes formas pelo pacote anunciado pelo governo federal

Do JC Online
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Publicado em 20/09/2015 às 6:49
Fotos: Fernando da Hora/ JC Imagem
Brasileiros vão ser impactados de diferentes formas pelo pacote anunciado pelo governo federal - FOTO: Fotos: Fernando da Hora/ JC Imagem
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Para muitos brasileiros que ainda acreditavam em um 2016 financeiramente mais fácil, as boas expectativas se desfizeram na última segunda-feira, quando o governo federal anunciou as mudanças para o Orçamento do ano que vem. Ainda dependendo da aprovação do Congresso Nacional, o corte de gastos de R$ 26 bilhões e o aumento de R$ 38,9 bilhões na arrecadação são suficientes para convencer que o sentimento de crise vai continuar sendo compartilhado ao fim de 2015. Seja para quem está entrando no mercado de trabalho, seja para quem já está fora dele, para quem sonha em ser um servidor federal ou para os que decidiram montar o próprio negócio, 2016 vai ser difícil.

 

Servidor ficará mais tempo sem reajuste

Com um impacto de R$ 7 bilhões, o adiamento do reajuste dos servidores federais de janeiro para agosto do próximo ano é o corte com o maior impacto na série de ajustes proposta pelo governo. A notícia foi recebida com surpresa pela categoria, que esperava assinar nos próximos dias um acordo com o governo de reajuste de 5,5% já no início de 2016. Agora, o percentual só será concedido em agosto e os outros 5% previstos para diminuir a defasagem diante da inflação só virão em 2017.

“Quem vai arcar com grande parte desse pacote são os funcionários públicos. Além da inflação e dos tributos que estão previstos, ainda vamos ter mais oito meses de defasagem. Tenho compromissos que não posso deixar de pagar, vamos ter que fazer ainda mais esforço para cortar os gastos dentro de casa”, queixa-se o professor aposentado da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Délio Mendes, responsável pela única renda da casa. 

“Se hoje nós estamos em um País com a inadimplência alta e condição de vida difícil, o ano que vem vai ser pior. E vai pesar ainda mais para quem tem menos renda”, acredita.

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Falta de perspectivas para concurseiros

O desemprego é um dos reflexos da crise que mais assombra quem está é trabalhador do setor privado. Com a proposta do governo de suspender os concursos federais para o próximo ano – o que deve gerar uma economia de R$ 1,5 bilhão no orçamento – , quem procurava uma forma de ingressar no setor público ficou com perspectivas mais distantes. A suspensão não afeta os concursos federais autorizados e com editais já previstos, nem as empresas estatais, mas traz insegurança para os concurseiros.

“Me formei há três anos, mas nunca quis advogar, meu foco sempre foi concurso. Passei em dois concursos, mas sem previsão de ser chamada. Quando recebi a notícia da suspensão fiquei impactada, porque representa uma redução de oportunidades para muita gente. Sem falar que, por mais que a suspensão seja só federal, sabemos que os estados e municípios também estão com dificuldade, então gera uma insegurança”, admite a advogada Rafaela do Vale (foto acima), 27 anos, que mesmo diante do desestímulo, não pretende desistir de continuar estudando.

 

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Menos jovens serão formados pelo Senac

Aos 18 anos, o estudante Rafael Heleno (foto acima) já está com o primeiro emprego garantido. No próximo mês ele conclui o curso de Aprendizagem Comercial em Serviços Administrativos do Senac e vai poder ser efetivado na B&M Iluminação, empresa onde ingressou através do Programa Jovem Aprendiz. Histórias como as de Rafael, no entanto, podem não se repetir com a mesma frequência no próximo ano. Com a redução de 30% do orçamento do Sistema S proposta no pacote do governo federal, cerca de cinco mil matrículas deixarão de ser realizadas no próximo ano pelo Senac e Sesc em Pernambuco.

“Procurei o Senac porque é gratuito. Antes não sabia o que ia fazer da vida, estava sem rumo. Não sei o que estaria fazendo hoje se não fosse o curso. Foi uma experiência muito boa, lá tem tudo para quem está se preparando para o mercado”, garante Rafael, que a partir do próximo mês vai poder ajudar na renda da família, que hoje depende da mãe, empregada doméstica, e do irmão, promotor de vendas. 

 

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Plano de negócios ameaçado

Engenheiro mecânico de formação e atualmente micro empreendedor, Antônio Demétrius Alves (foto acima), 29 anos, é vítima dos aspectos políticos e econômicos da atual crise. Até o ano passado, ele morava no Rio de Janeiro, onde foi trabalhar em uma empresa fornecedora da Petrobras. “Quando vi que a coisa ia mal por conta da Operação Lava Jato preferi pedir demissão, fiquei com medo de a empresa ficar ainda pior e não conseguir pagar os encargos. Hoje a empresa está em recuperação judicial”, conta.

Sua alternativa foi voltar para o Recife e abrir uma franquia com o sócio, que também trabalhava em outra fornecedora da Petrobras. A nova empresa (Doctor Frio, especializada em ar condicionados) começou a funcionar há quatro meses, em Olinda. Os sócios já sabiam que o início seria difícil devido à atual situação da economia, mas, caso a CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) volte a ser cobrada, seu plano de negócios vai precisar ser repensado.

“Só tenho uma experiência prévia da CPMF como pessoa física, mas sei o impacto que isso vai representar no nosso negócio. Quando estão no começo, as pequenas empresas dependem muito dos bancos, principalmente para operações de crédito. Mas isso vai incidir sobre tudo, emissão de boletos, pagamentos. O jeito vai ser diminuir nossa margem de lucro, que já é baixa, para manter a competitividade”, lamenta Alves.

A proposta do governo é que a nova CPMF se estenda por quatro anos e tenha uma alíquota de 0,20%, mas alguns governadores defendem que o percentual passe para 0,38%, e parte da arrecadação seja repassada aos Estados.

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