“Quando o Porto Digital estava para completar 10 anos, traçamos um panorama que, entre outros aspectos, apontou que nossas empresas tinham então uma idade média de 10,4 anos. Foi uma descoberta muito forte, saber que nos diferenciávamos de outros parques tecnológicos pela longevidade das empresas. Nos demos conta que estávamos envelhecendo”, lembra o presidente do Porto Digital, Francisco Saboya.
"Isso acontecia, por um lado, até como consequência dos acertos do Porto Digital em criar um ambiente propício para a prosperidade das empresas", conta Saboya. Esse levantamento foi o pontapé para o programa de fomento às startups que o parque vem construindo desde então, e que hoje inclui duas incubadoras - uma voltada para empresas tecnológicas, a Cais do Porto, e outra para projetos de economia criativa, a Portomídia, ambas com atuação no Recife e em Caruaru - uma aceleradora, a Jump Brasil, espaços de coworking em Santo Amaro e, futuramente na Universidade Federal de Pernambuco, e um laboratório de makers space ainda a ser lançado
“A ideia era ‘remoçar’ as empresas, tanto no sentido de criar novos negócios como trazer também uma mão de obra mais jovem”, conta Saboya. O próprio termo “startup” não era tão popular como é hoje, ao ponto de chegar a até mesmo ser banalizado. Mas, o que é uma startup?
Como um dos “pais” do termo, o norte-americano Eric Reies, define: “uma startup é uma instituição humana projetada para oferecer um novo produto ou serviço em condições de extrema incerteza”. Ou seja, diferente do modelo tradicional, as startups buscam velocidade e vão entregando metas ao mercado ao mesmo tempo que avaliam as métricas de retorno, com um plano de negócios escalável e pensado de forma global. “Temos uma estratégia de fomento que cobre os vários estágios de maturidade das startups”, explica o coordenador da Cais do Porto, Marcos Oliveira. “A Cais iniciou, em 2010, com empresas de tecnologia que tivessem soluções para problemas das cadeias produtivas da região e depois veio a Portomídia, voltada para economia criativa. Mais recentemente implementamos a aceleradora Jump Brasil e outros dois projetos: um que serve para amadurecer as propostas antes da incubação, e o Deep Dive, que promove uma imersão no exterior”, completa Marcos.
Só empresas de tecnologia podem ser consideradas startups? De acordo com o coordenador de incubação, não. “Muita gente associa as startups com tecnologia, mas não necessariamente você tem que desenvolver um novo sistema para começar. Mesmo com uma necessidade menor de recursos, você pode obter essas respostas e saber se vale a pena continuar investindo no negócio e assim partir para investimentos mais altos”, afirma Marcos.
É o caso de uma das incubadas do Porto Digital, a loja e-commerce de móveis de design Muma. “Nascemos da necessidade de conectar designers aos compradores, mas antes eu não sabia se me enquadrava como startup. Hoje temos uma clareza maior do papel da tecnologia no comércio eletrônico e ainda agregamos o incentivo à produção da economia criativa”, afirma o sócio da empresa, Matheus Ximenes Pinho. Com quase dois anos de mercado, ele conta que a convivência com outras startups dentro do ecossistema criado pelo Porto Digital, foi um dos maiores benefícios para o crescimento da empresa. “Mesmo em ambiente de crise crescemos 20% ao mês. Dobramos de tamanho e temos mais de 2 mil clientes satisfeitos. Além disso, o selo de ser uma empresa incubada no Porto Digital nos ajuda a conseguir mais investimentos”, completa.
Considerada como um dos maiores cases entre as empresas incubadas no Cais, a In Loco Media também credita à “vitrine” do parque tecnológico como um dos fatores de sucesso. “O nascimento da empresa foi na cadeira do ‘projetão’ do Centro de Informática, da Universidade Federal de Pernambuco, e continuou dentro da incubação. A partir daí o projeto inicial sofreu alterações e ganhou mais valor e foi nesse processo que encontramos um investidor que nos possibilitou ter nosso próprio escritório e escalar para algo maior”, conta Lucas Queiroz, um dos co-fundadores da empresa. Mensalmente, a In Loco Media movimenta cerca de R$ 1 milhão – em 2014, esse era o valor de faturamento anual da empresa – através de uma rede de anúncios geolocalizados para mais de 300 aplicativos parceiros.
Com a evolução do mercado, o sistema de fomento às startups evoluiu também para incluir a aceleração dos novos negócios, um modelo voltado para empresas mais maduras, com foco na tração do produto no mercado. “Aceleradoras têm um investidor privador por trás e também aporta dinheiro na empresa. Diferente das incubadoras, investimos um valor – que no caso da Jump é de R$ 40 mil – para virar sócio da startup, temos que ter lucro. No futuro não muito longo, oferecemos eles para um investidor e vendemos nossa parte na sociedade por um valor maior, mas ao mesmo tempo a empresa também valerá muito mais”, explica Pedro Souza, coordenador da aceleradora do Porto Digital.
A Jump Brasil começou a operar este ano para suprir a lacuna das empresas que saíam da incubadora mas ainda precisavam de um tipo de ajuda. “Estavámos vendo muitas empresas sair de Pernambuco por causa disso, para serem aceleradas no Rio de Janeiro, Belo Horizonte e outros lugares. Estamos construindo um ambiente para viabilizar essa operação e, mesmo com pouco tempo, acredito que estamos no caminho certo. Queremos atender nos próximos cinco anos até 100 empresas e certamente veremos um grande produto sair daqui”, completa Souza.