Indústria

Pernambuco investiu pesado para abrigar um polo naval em Suape

Governo do Estado, empresas e instituições apostaram e agoram se frustram

Adriana Guarda
Cadastrado por
Adriana Guarda
Publicado em 20/12/2015 às 6:05
Ricardo B. Labastier/JC Imagem
Governo do Estado, empresas e instituições apostaram e agoram se frustram - FOTO: Ricardo B. Labastier/JC Imagem
Leitura:

Foi numa conversa com empresários do setor naval que o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Thiago Norões, soube que a Transpetro ia cancelar a encomenda de 13 embarcações em Pernambuco. Recebeu a informação com perplexidade. Nos últimos 10 anos, o Estado se preparou para abrigar um polo naval. A atividade seria uma das responsáveis por reanimar a indústria local e garantir uma virada na economia. O esforço não foi apenas do governo. Empresas, universidades, prefeituras, escolas técnicas, bancos e população embarcaram na empreitada. Descontinuar a produção naval é demolir uma política, obstruir um dos caminhos para o crescimento.

Para participar da descentralização do setor no País, o governo de Pernambuco precisou desembolsar R$ 2 bilhões em obras de infraestrutura, aprovar lei de supressão vegetal, doar terrenos, desapropriar terras de população nativa, conceder incentivos fiscais e qualificar mão de obra. Só uma estrada facilitando o acesso aos estaleiros dentro do Porto de Suape custou R$ 112 milhões. “A Transpetro tomou uma atitude unilateral e drástica, mas esperamos que se reverta. Como advogado de formação entendo que estamos falando de contratos de alta complexidade e sabemos que os estaleiros vão procurar a Justiça. O Vard Promar já tomou esse caminho. A Petrobras e a Transpetro sabem que isso poderá se reverter em indenizações bilionárias. E no caso do Estado, como seremos compensados?”, questiona Norões.

Quando o Estaleiro Atlântico Sul (EAS) começou a operar em 2008, o Senai Pernambuco se viu diante de um “problema bom”. Precisava investir para dar conta da demanda por qualificação profissional. O diretor regional no Estado, Sérgio Gaudêncio, conta que a procura por mão de obra era tanta que as empresas levavam os professores da instituição. “Tivemos de dizer aos empresários que se essa situação continuasse não poderíamos mais atender a demanda deles por falta de docentes”, recorda.

De 2007 pra cá o Senai chegou a qualificar 12.925 pessoas para trabalhar no polo naval. A entidade investiu R$ 12 milhões na escola do Cabo de Santo Agostinho, ampliando em cinco vezes a capacidade e equipando o espaço com laboratórios e máquinas. “Pelo menos 80% desses investimentos foram só para atender ao EAS”, calcula. Com custo de R$ 2.550 por aluno formado, governo do Estado e governo federal (por meio do Prominp) investiram R$ 29 milhões em qualificação pessoal, apenas em parceria com o Senai.

Do lado das empresas houve uma corrida para fornecer aos estaleiros. O setor metalmecânico fez sua aposta de que os empreendimentos naval e de petróleo e gás fariam a atividade recobrar importância em Pernambuco, após o encolhimento das indústrias sucroalcooleira e têxtil. A bonança durou pouco e o que sobra é um cenário de empresas falindo ou em recuperação por falta de encomendas. Foi o prenúncio da derrocada.

Últimas notícias