A evolução da taxa de desemprego em Pernambuco e no País não deixa dúvidas: 2016 começa também como um ano difícil para o mercado de trabalho. Empresas em busca de corte de custos demitem e os desempregados têm dificuldade na recolocação, em níveis que não se via há anos. Para os especialistas, o primeiro trimestre será o mais complicado, o que exigirá mais dos profissionais, mesmo daqueles que estão empregados. A crise no mercado de trabalho, no entanto, não impedirá contratações isoladas. O setor público manterá vários concursos e em alguns setores haverá contratação.
De acordo com dados da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, em novembro de 2015, a Região Metropolitana do Recife registrou taxa de ocupação de 10%, enquanto esse percentual foi de 5,8% no mesmo mês de 2014. Números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, mostram que entre janeiro e novembro do ano passado, mais de 74 mil postos com carteira assinada foram cortados em Pernambuco. Impacto vindo não apenas do aperto econômico, mas também os efeitos da operação Lava Jato no polo petroquímico, especialmente no Complexo Industrial Portuário de Suape. Nem mesmo as contratações da fábrica da Jeep e seus fornecedores – instalada no início de 2015 em Goiana (Zona da Mata Norte) e que continua contratando – conseguiram segurar a queda.
Economista do Dieese no Estado, Jairo Santiago acrescenta que de janeiro a agosto de 2015 (última edição da pesquisa da instituição sobre mercado de trabalho, que aguarda acordo com o governo estadual para ser retomada), os resultados locais também foram menores do que no mesmo período de 2014. “Não vejo sinais de que teremos resultados melhores”, comenta Santiago. Para ele, somente com a redução da crise política e retomada de políticas expansionistas, como o estímulo ao consumo, poderia reacender a prosperidade dos anos anteriores.
Para o vice-diretor da Faculdade de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF), Renaut Michel, a taxa de desemprego no Brasil deverá continuar crescendo em 2016, por causa da queda no nível da atividade econômica. “Não há nenhum tipo de expectativa positiva”, disse o especialista em mercado de trabalho.
A sócia e consultora da Ágilis RH Eline Nascimento pontua que, antes do último ciclo de desenvolvimento econômico, o primeiro trimestre era pouco movimentado em termos de contratações, principalmente antes do Carnaval. “Quando a economia ficou aquecida, isso mudou especialmente aqui em Pernambuco e havia fluxo maior nesse sentido”, relembra. Porém, o que se deve ver até março é uma continuidade das demissões ou pelo menos uma parada de arrumação nas empresas. “A tendência é que haja uma análise. As organizações vão ter que planejar o que vão fazer com a equipe que têm agora”. Ela complementa que os processos seletivos, quando necessários, serão mais criteriosos.
Para Eline Nascimento, profissionais com perfil multitarefa, terão mais chances de se manter empregados. “Pessoas mais disponíveis para enfrentar desafios, fazer coisas novas e ampliar seus leques de atuação estarão em vantagem, porque a relação custo/benefício ficará em maior evidência agora”, ressalta a especialista.
SETORES - Para Renaut Michel, embora a construção civil, um dos setores que mais empregam no país, tenha sentido mais os impactos da crise, outros setores da indústria poderão ser afetados este ano. “A indústria já vem mal há um bom tempo. Enfrenta um problema sério de perda de competitividade, de queda de investimentos. Minha expectativa é que continue um ano muito ruim para a indústria, mas em alguma medida vai afetar também o comércio e o serviço, porque o ambiente de incertezas está levando as famílias a consumirem menos. Em consequência disso, os empresários investem menos e bancos também não emprestam”.
O único setor que deve continuar apresentando bom desempenho é o agronegócio. “Mas não vai conseguir ser suficiente para minimizar o impacto muito ruim da trajetória do emprego nos próximos meses”, acrescentou.