MERCADO

Banco Gerador entra em fase final de venda

Instituição pernambucana deixou de fazer empréstimos em 2014

Emídia Felipe
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Emídia Felipe
Publicado em 23/01/2016 às 9:11
Priscila Buhr/Acervo JC Imagem
Instituição pernambucana deixou de fazer empréstimos em 2014 - FOTO: Priscila Buhr/Acervo JC Imagem
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Auditores da Ernst & Young (EY) ocupam a maior sala de reunião do 7º andar do Empresarial Maurício de Nassau, na Ilha do Leite. O endereço é do Banco Gerador e esses profissionais fazem parte de um processo que começou em agosto de 2014: a “desconstrução” da instituição financeira pernambucana fundada em 2009 e que está sendo vendida, processo que será concluído até o fim deste semestre. Sem ele, o Nordeste deixa de ter empresas locais no setor bancário brasileiro.

O comprador é uma financeira do Sul do País, cujo nome ainda não pode ser revelado. Ela fica com a licença e o sistema do Gerador, com o que sobrou da carteira de empréstimos para micros, pequenos e médios empresários, além de consignados e da operação dos 50 mil cartões com a bandeira Banorte – marca que não foi vendida e fica com Paulo Della Nora, um dos sócios-fundadores e diretor executivo do Gerador.

A comercialização já está sendo acompanhada pelo Banco Central e dentro de 30 dias será assinado o contrato definitivo, que entrará em análise da autoridade monetária antes da conclusão do negócio. À frente da transação, Dalla Nora esclarece que desde o 2º semestre de 2014 o banco não faz novos empréstimos.

As operações foram cessadas quando os indícios de que o País caminhava para uma recessão se mostraram fortes demais para serem ignorados – um ambiente contrário ao que fez surgir a empresa (leia mais no texto abaixo). A carteira de crédito foi sendo negociada e o que não foi vendido entrou numa conta do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), até chegar o interessado que arrematou todo o conjunto.

É lógico que ninguém gosta de perder dinheiro, mas não me arrependo

Paulo Dalla Nora, sócio e diretor executivo do Banco Gerador

Com a negociação, os sócios do Gerador – os empresários pernambucanos Antonio Lavareda, Severino Mendonça, Paulo Sérgio Macedo e o próprio Dalla Nora (filho de Macedo) – saem com o prejuízo do capital de R$ 94 milhões investidos, mas sem perdas de compensações das carteiras, uma vez que o comprador assume quaisquer diferenças a serem repostas.

“É lógico que ninguém gosta de perder dinheiro, mas não me arrependo”, diz Dalla Nora, que contabilizou R$ 6 milhões de seu patrimônio pessoal investidos na criação do banco. Para ele, a decisão de começar esse processo ainda em 2014 foi acertada. “Se tivéssemos saído só agora, seria trágico”, avalia o empresário, que estima um prejuízo até 60% para os sócios caso a decisão tivesse sido protelada.

BALANÇO - Quando aceitou o convite para montar o banco ao lado do pai, Paulo Sérgio Macedo, e demais sócios, Dalla Nora tinha 33 anos e trabalhava no mercado financeiro da Suíça. Era 2007 e não só o mundo como o Brasil exalavam otimismo. Um cenário convidativo ao investimento e à volta para casa. Com a boa resistência do País à crise econômica mundial de 2008, combinada com o movimento de ascensão rápida do Nordeste e de Pernambuco, investir em um banco parecia a decisão mais acertada.

Autorizada a funcionar em 2009 e em operação plena em 2010, a empresa viu seu capital crescer via aportes outras três vezes e ampliou sua atuação com a compra da tradicional marca Banorte e com as unidades da Rede Matriz. Em 2012, já eram 80 lojas, principalmente em Pernambuco e Alagoas. Mas, no início de 2014, os reveses da política mostraram que uma decisão seria necessária. “Foi quando concluímos que se não tivéssemos uma mudança substancial no governo, sairíamos do negócio”, conta.

Capital começou com R$ 20 milhões e foi aumentado três vezes, até atingir R$ 94 milhões

Contudo, ao analisar os motivos que levaram o Gerador a se contrair, o empresário cita dois pontos em especial: um encantamento com o boom econômico do Brasil e de Pernambuco e o excesso de confiança no consignado. “Tivemos uma ilusão de percepção, com um superotimismo de que o ciclo de 2009-2010 era sustentável”, comenta. Sobre o consignado, que representava 70% das operações, a crença era que os bancos grandes demorariam a ter sucesso nesse mercado. No entanto, eles foram mais rápidos e agressivos, comprando bancos menores que atuavam na área. “Mas todas as decisões que tomamos foram considerando as informações que tínhamos na época e fizemos o possível para decidir o que era melhor para a empresa”, assegura.

Quando faz um balanço das experiências, Dalla Nora reforça que não guarda arrependimentos. “A única coisa que teria feito diferente é em relação ao volume de investimento. Fui com mais de 80% da minha liquidez e deveria ter feito até 50%. Foi um aprendizado”, conta o empresário.

Agora, além da venda do Gerador, Dalla Nora trabalha com a FIR Capital para trazer para Pernambuco um Centro de Suíço de Eletrônica e Microssistemas (Csem). E, em São Paulo, finaliza um projeto em parceria com um grande banco para acelerar negócios sociais. Quanto à marca Banorte, ela deve voltar, só não se sabe quando. “É uma marca importante para o Estado, que tem um peso afetivo. Ainda estamos avaliando o que vamos fazer, mas por ora ela fica ativa com os cartões que continuam em operação”.

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