O aumento da quantidade de pessoas que contraíram as doenças transmitidas pelo Aedes aegypti, dengue, chicungunha e zika, nos dois primeiros meses deste ano está alterando a rotina das empresas. Algumas tiveram que reduzir a produção devido à ausência de trabalhadores. Instalada no município de Belo Jardim, a fábrica da Baterias Moura, por exemplo, teve 559 afastamentos em decorrência da tríplice epidemia entre o primeiro dia do ano e 12 de fevereiro último numa unidade na qual trabalham 2,4 mil funcionários. Somente em janeiro, foram 379 trabalhadores afastados. “O problema atingiu quase 25% dos nossos colaboradores. Janeiro registrou um pico de afastamento com um aumento de 70% no absenteísmo (falta ao trabalho), comparando com a média mensal de 2015”, explica o gerente de gestão de pessoas da Baterias Moura, Robson Galindo.
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Geralmente, o pós-Carnaval é uma época de aumento da ocorrência de viroses aumentando as licenças médicas no ambiente de trabalho. No entanto, a situação ficou mais complicada neste início de 2016. Ocorreu um aumento de 119,51% dos casos de dengue em 158 dos 182 municípios do Estado entre 3 de janeiro e 13 de fevereiro comparando com o mesmo período de 2015. Os casos de chicungunha e zika não podem ser comparados porque não foram realizadas notificações nos dois primeiros meses do ano passado, segundo informações da Secretaria estadual de Saúde.
Devido aos afastamentos, a Baterias Moura reduziu um pouco a velocidade da fabricação dos seus produtos, remanejando funcionários de setores diferentes para manter todas as linhas de produção. “Isso resultou numa perda de produtividade, mas é difícil estimar de quanto. Também contratamos mais 10 profissionais para atender a esse absenteísmo crescente e aumentamos a quantidade de horas dos dois médicos que atuam na empresa”, conta Robson, acrescentando que não dispõe de números do impacto econômico que a epidemia provocou à empresa. Ele acrescenta que, em alguns casos, a perda de produtividade continua depois que o funcionário volta ao trabalho porque o trabalhador continua sentindo dores, principalmente nas articulações, um dos sintomas da chicungunha.
De acordo com o professor da Universidade Federal de Pernambuco Carlos Brito, 30% a 50% dos pacientes que têm chicungunha continuam com algum sintoma da doença num período que varia de 10 dias a três meses e alguns “cronificam” esses sintomas por mais de 90 dias. Ele alega que isso pode ser estimado num grupo de 100 mil a 200 mil pessoas na Região Metropolitana do Recife.
“É um problema muito sério e as empresas estão sofrendo”, diz o presidente em exercício da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe), Ricardo Essinger. “Na minha empresa, teve semana de ter cinco funcionários de licença por causa dessas viroses numa equipe de 35 trabalhadores”, afirma. E acrescenta: “Produzimos um pouco menos. Ainda não fechei a folha, mas o gasto será maior, porque os funcionários fizeram hora-extra para compensar o trabalho de quem foi afastado”, conclui. A companhia citada por ele fica na cidade de Goiana, na Mata Norte e produz pigmentos para tintas.